21 fevereiro, 2007

Ciência e Religião, afinal qual a diferença?

Estou inscrito nesse blog há algum tempo, mas nunca postei nada diretamente. Apenas falta de tempo, pois acompanho sempre as discussões que são interessantes. Mas não resisti em dar um contribuição sobre Ciência e Religião, pois também acredito em ambas.

Talvez a primeira questão que eu gostaria de levantar, se é que já não foi debatida, é a diferença fundamental entre ambas. No meu ponto de vista, ambas são formas diferentes de ver o mundo, mas com seus respectivos métodos. A minha opinião é eles que não são excludentes, no sentido que não podemos dizer que uma é superior a outra e vice-versa.

A partir desse ponto de vista o grande conflito que existe é justamente quando uma quer excluir a outra. Como já sabemos esse embate já dura séculos e ambas as instituições ainda persistem.
A religião de forma alguma pode explicar a natureza de forma tão completa como a ciência explica. Por outro lado, a ciência não dá conta de determinados anseios humanos e não consegue oferecer o conforto que tanto faz falta para a maioria das pessoas. A diferença entre ambas é como se quisessemos analisar uma sinfonia de Mozart apenas a partir dos métodos da Física, da Fisiologia, da Acústica e da Psicologia. Com certeza a informação mais importante que essa música nos traz ficaria perdida, pois nenhuma dessas ciências poderiam explicar o que cada pessoa experimenta ao ouvir uma determinada sinfonia.

Para muitos que trabalham com ciência parece claro que a religião é algo apenas para iludir os individuos que não conseguem compreender as leis que regem esse nosso universo. Para os que seguem determinadas crenças fica a sensação que os ignorantes são os homens da ciência que têm uma visão extremamente limitada do mundo.

Agora, para aqueles que trabalham com ciência e tem alguma crença religiosa (como é o meu caso e muitos colegas físicos, químicos que conheço em São Carlos) pode-se compreender que a religião nos ajuda a ligar com algo incompreensível e imensurável que, de certa maneira, deixou determinadas pistas para seguirmos e descobrirmos o verdadeiro enigma do universo.

20 comentários:

Professora Andrea disse...

Adorei o Blog ! Também sou Professora de Ciências e Biologia. Acho essa feramenta muito importante no aprendizado dos alunos e dos Professores. Também tenho Blogs e Wikis de Ciências. Se puderem olhar... acho que será enriquecedor .

João Carlos disse...

Salve, Adilson!

Eu pretendia incluir entre as citações introdutórias em meu artigo: «O Criador é sutil, mas não é malicioso», mas não encontrei a fonte...

Eu cá acho impossível contemplar a vastidão do Universo e a Natureza Terrestre, e não lhes atribuir um propósito, grandioso demais para nossa limitada capacidade de compreensão.

E fico extremamente gratificado em saber que verdadeiros cientistas também não encontram incompatibilidades irreconciliáveis entre religião e ciência.

Adilson J A de Oliveira disse...

Caro João,
Há muitos mais que você pode imaginar.
Em particular, no Espiritismo, aqui em São CArlos, são muitos e alguns até muito famosos. (que não é o meu caso, obviamente...)

Rogério Silva disse...

Tenho lido com atenção todos os post sobre ciência e religião publicados aqui no blog e parece que a questão da religiosidade começa a tomar forma entre os cientistas. Parece que esta mais para re+ligare do que para co(n)+fundir.
Vejo que a questão não é nova e só para citar alguns mistos de religião e ciência, fico pensando em que balaio devemos colocá-los, se no dos religiosos ou no dos cientistas.
Gregor Mendel, cruzando ervilhas inventou a genética que evoluiu tanto que hoje em dia quase não se fala mais nele.
Teilhard de Chadin, um grande paleontólogo recebeu ordem de embarcar para Tientsin, na China, onde a Companhia de Jesus acabava de abrir um instituto de estudos superiores. Era mais do que um exílio. Era uma tentativa de calar a sua voz nos meios culturais e científicos.
Foi um erro tático da Companhia de Jesus. Ela ignorava que na China, naquela ocasião, realizavam-se diversas escavações e expedições paleontológicas. Sem querer, os jesuítas tinham posto o homem certo no tempo e nos lugares certos. Embarcando em Marselha em 1923, Teilhard de Chardin permaneceria na China até 1946, com raras viagens ao Ocidente. Teilhard não se afastou dos estudos nem pesquisas. Aprofundou-se cada vez mais na ciência, sabendo que, através dela, poderia criar um novo sistema teológico. Em sua mente, começaram a tomar forma os principais conceitos que mais tarde seriam catalogados como o evolucionismo cristão. Só foi reconhecido pela igreja após a sua morte e a sua principal obra foi O Fenômeno Humano.
Para citar alguns brasileiros, temos a Madre Fátima da Universidade Santa Úrsula que doutorou-se em Nancy, na França, tornando-se uma das maiores autoridades em biologia marinha do Brasil.
Por último gostaria de citar o Psicanalista Hélio Pellegrino, mineiro e católico de carteirinha que denunciou, nos idos de 80 a ação dos “barões” da psicanálise. Militante do PT (daquela época) ele acreditava que a religião e a política não atrapalhavam o desenvolvimento da teoria e da prática da psicanálise.

Daniel Doro Ferrante disse...

Oi Pessoal,

João, essa citação é do Einstein: "God is subtle but he is not malicious." :-)

Eu olho para toda a imensidão do Universo e acho extremamente natural que não exista um propósito... é como se estar perdido no mar, no meio dum oceano: vc até acha que a Natureza está 'contra' vc mas... na verdade, é só o clima da Terra, funcionando sem nem saber da sua existência [enquanto marujo perdido].

N.B.: Juro [por Deus ;-] que não quis mesmo te sacanear, não usei os exemplos acima com segundas intenções... foi sem querer mesmo. Desculpe. :-)

Agora, incompatibilidade entre Religião e Ciência... confesso que o tema já está batido demais... há mais de 300 anos! Ou seja, depois de Spinoza (ver também The Stanford Encyclopædia of Philosophy on Spinoza), o quê mais resta ser dito?!

Alan Turing costumava dizer que “Science is a differential equation. Religion is a boundary condition.”. É uma das citações mais felizes que eu conheço.

Como entretenimento, recomendo à vcs um programa da BBC chamado "The Atheism Tapes", que pode ser visto online: The Atheism Tapes. Em particular, dêm uma olhada em 2 desses programas: The Atheism Tapes: Steven Weinberg e The Atheism Tapes: Richard Dawkins. É diversão garantida... ;-)

[]'s.

João Carlos disse...

“Science is a differential equation. Religion is a boundary condition.”.

Adorei! (Vai para meu "Thesaurus"!)... Exatamente o que eu penso.

João Carlos disse...

(Acréscimo necessário): Mas lembrando sempre de manter as "observáveis" com valores reais, né?...

Osame Kinouchi disse...

Bom, deixa eu discordar um pouco aqui. Acho que precisamos diferenciar entre crenças pessoais e ateismo metodologico. O jogo mais bem sucedido da ciencia é o programa materialista que parte da regra de que deve-se buscar explicações naturalistas (não envolvendo Deus, deuses ou espiritos) para explicar os fenomenos que estamos estudando. É um ateismo metodologico, ou seja, eu posso crer em Deus ou deuses ou espiritos, mas nao os uso como hipotese de trabalho (a menos que seja forçado a isso de forma insuperavel). Assim, embora Newton, Maxwell e Faraday fossem religiosos (Faraday era de uma seita bastante rigorosa), nenhum deles invocou Deus como principio explicatorio (na verdade, Newton fez isso, onde o espaço Newtoniano era o sensorium de Deus, e ele sim, fazia hipoteses, teologicas inclusive - mas apenas privadamente).

Agora, existe outro programa, que é o do Espiritismo Kardecista frances, do Espiritualismo ingles do seculo XIX, e da Nova Era do seculo vinte. Bom, primeiro devemos separar a parte religiosa, etica, comunitaria e de consolacao e desenvolvimento espiritual, a que as pessoas realmente se apegam e se dedicam, da parte referente ao conhecimento, que tem mais a ver com a ciencia mas que nao é tao vital para as pessoas).
Entretanto, estes programas espiritualistas e dualistas pretendem ser cientificos (por exemplo, o livro "Provas cientificas da Reencarnacao etc). Bom, neste caso, existe sim potencial de conflito coma ciencia, pois é um programa de pesquisa que se pretende cientifico (assim como o criacionismo cientifico), de modo que está sujeito ao mesmo tipo de critica e avaliação de qualidade dos conhecimentos cientificos usuais. Entao, neste caso, para cada tentativa de demonstracao cientifica de um mundo espiritual, temos os chamados ceticos que tentam encontrar explicações naturalistas alternativas. E, pelo menos por enquanto, os ceticos estao ganhando (ou voces conhecem algum artigo espiritualista publicado na Nature?).
Mas isso sempre pode dar uma reviravolta. Bastaria um medium (canalizando um espirito ou um ET) prever a chegada de um cometa ou explosao de supernova com bastante antecedencia (com coordenadas astronomicas precisas, nao apenas dizer "um novo cometa chegara este ano..."). Infelizmente nao se conhece casos deste tipo.

Adilson J A de Oliveira disse...

Caro Osame.
Deixe-me também discordar um pouco de você. Em princípio talvez fosse interessante situarmos o que seria de fato o método científico. Não podemos apenas nos restringir ao método usado na Física que consiste em modelos e provas repetidas em laboratório. Dessa maneira, se formos considerar apenas ciência aquilo que segue esses métodos, teríamos que excluir todas as ciências humanas. Dessa forma, no caso do Espiritismo ele tem um método de investigação mais próximo aos das Ciências Humanas e não das Físicas. Por isso os seus modelos não podem ser aplicados para explicar fenômenos físicos de uma maneira correta. Por outro lado, o seu método permite a explicação de uma série de fenômenos, em particular os de ordem psicológica, de uma maneira muito mais ampla e precisa do que as ciências normalmente o fazem. Dessa forma, como há um método e um modelo para explicar tais fenômenos isto o qualifica mais como Ciência. O fato de espíritos ainda não terem sido detectados não significa que eles não existam, da mesma maneira que há 50 anos atrás se imaginava a existência de neutrinos e levou-se anos para serem descobertos, ou seja, o modelo previa isso e foi verificado. Sem dúvida detectar um espirito com a tecnologia que temos hoje e similar detectar os neutrinos utilizando a tecnologia (e conhecimento) do século 17.

Osame Kinouchi disse...

Adilson, deixa eu fazer o papel de advogado do Diabo aqui. O problema do Espiritismo não é que ele não possa ter seus metodos proprios como a psicanalise. É que se ele estiver certo entao a Psicanalise está errada (se defenda aí, Rogério!), e grande parte da psicologia, da antropologia, da cosmologia, da Biologia evolucionaria, da fisica, etc etc estao erradas! É ai que reside o conflito: ele nao apenas faz afirmativas eticas ou religiiosas, mas sim ontologicas acerca do mundo fisico - pois os espiritos, ao interagirem com o mundo fisico, são entidades fisicas - na verdade, usando seu exemplo, um espirito é muito mais material que um neutrino, pois interage com o medium de maneira forte, enquanto que neutrinos sao de deteccao extremamente dificil. Ou seja, neutrinos sao muito mais "espirituais" que espiritos! Os espiritos agem com forças muito mais materiais que a força fraca dos bosons W e Z!
Ou seja, nao simpatizo muito com o Espiritismo (nao estou falando do lado religioso, mas do lado cientifico) por acha-lo uma posicao muito materialista (a linguagem espirita esta contaminada de termos de fisica antigos como "fluidos" e um conceito de energia tipo calorico em vez do conceito de energia atual que é abstrato). Eu acho que uma posicao mais espiritual e menos materialista seria encarar a consciencia como um software, pura informacao, ou pelo menos um fluxo de engramas neurais, que usa uma base material e energetica mas nao se reduz a ela como no caso de uma concepção de consciencia ou espirito enquanto "energia espiritual" de algum tipo. Na minha escala de espiritualizacao tenho: fermions, bosons, energia, entropia, informação (significante), informação autoreplicante (vida), informação autoconsciente (o que quer que isto seja, está bem longe ontologicamente de energia). Então, voltando, este é o problema do Espiritismo, da Nova Era e do fundamentalismo cristao: não querem ser apenas religioes, mas sim parcialmente ciencia. No dizer de Stephen Jay Gould, os dois "magisterios" se confundem de maneira forte, e ai surge o conflito.

Osame Kinouchi disse...

E o pior nao é isso. Se a ontologia espirita estiver correta, entao a ontologia da Umbanda está errada, e de todas as religioes tambem. O espiritismo é uma religiao cientificista, e portanto acaba adquirindo certa intolerancia ontologica propria da ciencia. Ou seja, sei que a ciencia (materialista ou se algum dia o for, espiritualista) é por natureza ontologicamente intolerante, mas deveriam as religioes tambem o ser?

Daniel Doro Ferrante disse...

Oi João,

Como vc mesmo já disse, a Física Teórica já bateu o "misticismo religioso" faz tempo... então, manter 'observáveis reais' já é pedir demais, não?! ;-)

A gente pode sempre construir a realidade como bem queremos... com observáveis reais ou com modelos mais complicados de como se extrair a informação [mensurável] do nosso modelo.

Porém, o que não muda é o fato de que Religião e Ciência são ortogonais, não há projeção de uma na outra.

Fora isso, eu repito aqui um comentário que já fiz há algum tempo atrás: Antes de avaliarmos sociológica, antropológica e filosoficamente a Religião E a Ciência, essa conversa não pode ir muito longe. Por várias razões, a mais óbvia dela sendo que já existe um bojo enorme de conhecimento nessas áreas que nós não estamos levando em consideração... portanto, nossa brincadeira aqui, nesse 'sandbox', não passa duma 'observação de medida nula' -- como eu já disse no outro comentário (sobre Apophenia).

[]'s.

Adilson J A de Oliveira disse...

Caro Osame,
Você realmente desconhece totalmente o Espiritismo. Você talvez devesse fazer um curso sobre o tema, que garanto que em Ribeirão deve ter uns bons. Se não, em São CArlos, há vários que poderão fazer você perceber que não conhece praticamente nada do tema (espiritismo), e por isso, tira conclusões erradas (embora lógicas).
Como qualquer forma de conhecimento é necessário conhecê-la primeiramente para poder ter de fato um ponto de vista crítico e fundamentado. Em particular, a visão experimental da coisa, que apresenta uma faceta que não podemos ignorar.
Não há contradições entre Umbanda e Espiritismo, mas sim diferentes pontos de vista sobre os mesmo fenômenos. São formas diferentes de conhecimento sobre uma natureza, que ainda é imensurável diretamente e que não interage fortemente com a matéria, mas sim com o espírito (O João entenderá o que eu digo).
Apenas mais um comentário para encerrar esse assunto. Novas descobertas podem levar a mudanças de paradigmas, como já vimos muito ao longo da história da humanidade. Quem sabe ainda haverá uma mudança dessa no que tange a Religião e Ciência, afinal um divórcio pode sempre ser reatado.
Um abraço a todos
Adilson

Kynismós! disse...

Essa parte me deixou curioso:

"Sem dúvida detectar um espírito com a tecnologia que temos hoje e similar detectar os neutrinos utilizando a tecnologia (e conhecimento) do século 17."

É?

________________________________


Alguém por aqui consegue imaginar um universo desabitado de seres, vamos dizer, pensantes? (é só uma perguntinha boba mesmo)

Osame Kinouchi disse...

Caro Adilton,
Desculpe, mas como antigo editor do fanzine Novos Horizontes, do UFO Report e colecionador da Revista Planeta na decada de 70, New Ager convicto por metade da minha vida, acho que sim, sei algo sobre Espiritismo e Ciência.
O que eu apenas afirmei foi que, 1) entre todas as religioes, é o Espiritismo a que mais tem potencial de conflito com a ciencia materialista, por pretende ser nao apenas religiao mas tambem conhecimento cientifico do mundo (num grau muito maior que as demais religioes pretendem).
2) Nao falei que o Espiritismo esteja errado (isso é uma questao teorica e empirica), falei que caso ele estiver certo, entao toda a ciencia atual está errada, de modo que a mudança de paradigma que vc quer realmente vai demorar um bocado...
Vc concorda com os pontos 1) e 2) acima?

Maria Guimarães disse...

eu, como sei muito pouco sobre espiritismo e física, estou meio perdida nessa discussão.
ficou pairando uma dúvida - tem muito no universo que é declaradamente misterioso - pelos próprios cientistas que o estudam. até onde sei existe, mas não se sabe o que é, as tais matéria escura e energia escura. a existência de espíritos não poderia se encaixar aí, neste imenso desconhecido, sem jogar por terra todo o resto que conhecemos (ou achamos que conhecemos?)

kynismós, fiquei curiosa com a sua pergunta. acabo de ler o último livro do Paul Davies, em que ele pretende provar que a existência do universo é indissociável da nossa (ou de seres similares). confesso que não me convenci, e continuo achando que nossa única contribuição para este universo é acabar com ele. mas ando curiosa com essa discussão, se alguém quiser explicar será bem-vindo!

Maria Guimarães disse...

professora andrea, dei uma olhada nos seus blogues e achei a iniciativa bem legal.

Kynismós! disse...

Maria, minhas duas perguntas foram capciosas, a primeira (É?) pela simples curiosidade de saber de onde saiu tal informação.
A segunda pelo fato do ser humano achar que ocupa um lugar especial no universo, quando não passa de uma ameba bem desenvolvida. :)

Claro que ninguém precisa concordar comigo.

Supor a existência de coisas incognoscíveis leva o Paul Davies a acreditar em algum tipo de deus, daí ele defender o que você citou.

"O processo que levou uma ameba a se transformar no homem é considerado obviamente um progresso pelos filósofos - se a ameba concordaria com essa opinião, não se sabe."

Bertrand Russel

Osame Kinouchi disse...

Krishna,

Se voce falar pra sua namorada que ela é tão valiosa quanto uma ameba, ela vai te bater (com razão, creio eu). Assim, todo cuidado é pouco, não se fie no Bertrand Russel não!

Kynismós! disse...

Ué, tenho como princípio não mentir para as pessoas, mesmo que doa, entretanto existem amebas e amebas. :)

Com tal honestidade intelectual o tomo sem preocupação como fiador.