14 setembro, 2007

Eu sei, mas mesmo assim...

Não sei se podemos pensar num instinto de longo prazo para a sobrevivência do grupo no caso humano, muito menos se ele costuma aflorar nas situações de crise fazendo “homens-comuns-transformados-em-heróis”, ou mesmo transformando um homem básico num anti-social.

A questão, a meu modo de ver, é que somos regidos também por um outro regime que é o regime das pulsões. Digo “também” porque também somos regidos pelo instinto do mesmo modo que cada espécime animal é.

Convém definir o conceito de pulsão para que fique claro o que pretendo dizer. De acordo com o Vocabulário de Psicanálise de J.Laplanche/J-B Pontalis, trata-se de um processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética, fator de motricidade) que faz tender o organismo para um alvo. Segundo Freud, uma pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão); o seu alvo é suprimir o estado de tensão que reina na fonte pulsional; é no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir seu alvo.

Leia mais em Freud Explica

8 comentários:

João Carlos disse...

Muito interessante esse conceito de "pulsão". Me corrijam os biólogos se eu estiver errado, mas isso me parece muito com a descarga de adrenalina para impulsionar a opção de "luta ou fuga", misturada com algo bem diferente que é a compulsão de satisfazer uma necessidade fisiológica (que pode estar sublimada em "adquirir um símbolo de status", ou ter o caráter mais comezinho de "desejo sexual", ou "apetite").

Silvia Cléa disse...

Oi, Rogério!

Seu artigo me roubou o fôlego! ;o))
Mas te pergunto: será que o que temos visto é sempre proposital, como vc denota? Ou coloco um certo quinhão na incompetência tb...faço isso, citando um exemplo de uma matéria que li na Folha em um domingo desses (atenção: página inteirnha!!!)
O assunto em pauta era uma contenda jurídica trabalhista entre uma ex-funcionária do consulado americano do Rio de Janeiro e este último, a reclamante requeria isonomia, ou seja, receber e ser tratada de maneira equivalente aos seus colegas americanos.
Falou-se muito e finalizou-se a matéria dando a entender que agora a reclamante estava prestes a ganhar a causa (à revelia: o Consulado não constituiu advagados para atuarem neste processo específico).
Porém, o que a matéria toda não falou foi que, na Justiça do Trabalho, o Consulado não tem imunidade de jurisdição, mas tem imunidade de execução! Ou seja, em português bem claro: ela e qualquer outro funcionário pode mover uma ação e ganhá-la, mas na hora de receber...ficam a ver navios, pois o estado não pode obrigar o Consulado a pagar. A isto chama-se soberania!
Agora me digam: aqueles repórteres que ficaram horas e horas fazendo a matéria, não poderiam telefonar para o ramal do departamento jurídico lá de dentro da própria Folha para tirar estas dúvidas para fazer uma matéria completa?
Não. Só tira dúvidas quem as têm...

Mauro Rebelo disse...

Muito legal o pulso! Só contribui para o princípio da 'Incerteza biológica'.

João Carlos disse...

Tudo a ver:

(OK, me desculpe se eu me precipitei...) Mas a matéria do OK no "Semciência", Cérebros de liberais e conservadores fuciona de forma diferente, praticamente reafirma o texto do Rogério, por um enforque totalmente diverso.

Rogério Silva disse...

João

Embora você volte atrás no seu novo comentário, sinto a necessidade de esclarecer um ponto do seu primeiro comentário quando diz: “a descarga de adrenalina para impulsionar a opção de "luta ou fuga", misturada com algo bem diferente que é a compulsão de satisfazer uma necessidade fisiológica (que pode estar sublimada em "adquirir um símbolo de status", ou ter o caráter mais comezinho de "desejo sexual", ou "apetite").”, você está correto se se trata de instinto que é inerente a qualquer animal, mas isso não é pulsão.

A grande descoberta de Freud reside no fato de que há algo que nasce no corpo e se dirige ao objeto que não é mediado por substâncias químicas ou neuro-quimicas, embora algumas possam participar como coadjuvantes em certos casos.

O biólogo Mauro definiu pulsão muito bem quando fala de “pulso”. Pulso ou impulso ou pulsão foi exatamente o caminho seguido por Freud para definir pulsão. E eu também penso que isso só contribui para o princípio da incerteza biológica.

Bem, se a pulsão não é da ordem do biológico, é de que ordem? É da ordem do desejo e vou dar um exemplo simples e talvez corriqueiro.

Repentinamente surge uma pessoa idosa e de aparência simples que se aproxima e pede uma ajuda. Ninguém negaria uma ajuda a essa pessoa. Então ela diz que é possuidora de um bilhete lotérico premiado de, digamos R$ 10.000,00, (mostra o bilhete, o resultado ou outra coisa convincente) que ela não pode resgatar porque não possui RG, conta bancária, ou coisa do gênero. Propõe uma troca por R$ 1.000,00 agora e em dinheiro, porque afinal de contas ela não precisaria de tanto para tomar os remédios que toma (mostra receitas médicas, caixas vazias e cartelas acabadas).

A dificuldade de resgate do prêmio, a urgência e a fragilidade da velhice, comovem o incauto que aceita a troca. Mais tarde, passado impacto emocional é que a pessoa percebe o engodo. Já é tarde, era tudo falso. Caiu no conto do vigário.

Veja, o desejo de ajudar aliado ao desejo (inconsciente ou não) de ganhar mais, levam a pessoa a fazer uma escolha rápida. Essa pessoa agiu por impulso e depois reflete: eu sabia que alguma coisa não combinava, mas mesmo assim...

Silvia,

Sinceramente eu não consegui entender a proposta do seu comentário, por isso não sei o que dizer. Procurei a reportagem para ver se tinha algum esclarecimento, mas não encontrei.

abs rogerio

Silvia Cléa disse...

Oi, Rogério!

A proposta é alertar justamente para os engodos...que vc tão brilhantemente exemplificou acima.
É apenas mais um exemplo de matéria incompleta, digamos assim, que no fim é mais um desserviço...ou seja, o leigo não sabe que a informação está incompleta ou incorreta e "engole" a informação como certeira!
No caso do exemplo que citado, quis mostrar que a praxe das informações incorretas ultrapassa o campo das ciências. É óbvio que não dominamos todas as áreas...e se percebemos esses "furos" em várias matérias, avalie só o que não acontece naqueles campos em que não conseguimos separar o joio do trigo...
Então, o que fazemos? Paramos de ler jornais? (ouço tanto essa famosa expressão...)
Para terminar, no seu exemplo de engodo, vc esqueceu de um detalhe fundamental! Só cai em conto do vigário aquele que pensa no lucro fácil, na vantagem financeira! ;o)))

Rogério Silva disse...

Oi Silvia
Desculpe se não percebi de prima o seu alerta, mas há muitos anos atrás o Fantástico tinha essa mania. apresentava o fantástico do fenômeno mas não explicava como e porque e eu como professor de ciências me via às vezes encalacrado quando via as percepções errôneas a que chegavam.

Não esqueci não. eu quis mostrar mostrar em exemplo bem forte, mas uma coisa vc esta cetra, está sempre presente a lei de Gerson "você tem que levar vantagem em tudo, certo." Seja financeiro ou não.

abs rogerio

João Carlos disse...

@ Rogério:

Não ia ser um místico como eu quem iria reduzir os trabalhos da mente a simples reações químicas... O fato mensurável é que se pode acompanhar as variações bioelétricas e bioquímicas no cérebro acionado pela "mente" (me reporto ao Daniel que me disse algo que, supersimplificado, é equivalente a: "os campos podem assumir valores imaginários, mas as observáveis têm que permanecer reais").

A "mente" não é mensurável: mas seus efeitos físicos sobre o cérebro, são. É por isso que eu disse que o artigo do OK referendava o seu, por um enfoque diferente.