Como nós já discutimos esse assunto intensamente aqui no Roda, no post A Politização do Aquecimento Global (além de um pouco mais nos comentários desse outro post, Aquecimento Global), eu achei que essa matéria da The Economist viesse bem a calhar para ilustrar com clareza o quê é que eu venho dizendo [e que foi levantado nesses 2 posts]: A new tree line.
Essencialmente, o resultado diz que se todas as árvores do planeta fossem cortadas (i.e., se todo o Planeta fosse desmatado!), a temperatura global seria reduzida de 0.3°C.
É claro que esse modelo não deve levar em consideração o quê acontece depois dessa redução (i.e., rodaram o código até o ponto em que essa redução foi prevista e pararam -- o que aconteceria se tivessem deixado o programa rodar um pouco mais?), muito menos todo o impacto ecológico e as implicações que ele vai acarretar!
Mas, o objetivo aqui não é criticar esse trabalho em particular, e sim mostrar que esses modelos têm falhas graves e agudas.
Diversão garantida, []'s. :-)
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15 comentários:
Não vejo em que é que este estudo põe em causa os modelos do clima. Já se sabia que uma maneira de arrefecer a Terra é mudando o albedo, quer através de aerossóis, quer da extensão de neve reflectora. Nenhuma das duas é viável (poluição e destruição de florestas).
A parte relativa à poluição é bem conhecida. Durante um largo período do século passado o CO2 aumentou mas a temperatura global manteve-se constante ou baixou. De repente a temperatura iniciou uma subida rápida. Segundo os cientistas "aquecedores" teve tudo que ver com os aerossois da poluição, que diminuiram drasticamente com as tecnologias mais limpas dos anos 90.
Oi Caio,
É possível que eu não tenha entendido o quê foi que vc quis dizer com seu comentário -- mas, dentro daquilo que eu [acho que] entendi, seu comentário só torna meu ponto cada vez mais válido.
Eis meu ponto, novamente, dito com clareza: "Os modelos computacionais climáticos são [cientificamente] pobres (pra dizer o mínimo!) e, portanto, não podem ser confiados."
Se vc ler a reportagem, vai ver que esse modelo é novo e inova em alguns aspectos sobre os anteriores (usados para fazer as predições que vc comentou acima). Entretanto, o resultado final parece ser o análogo, assim como vc mesmo notou [acima].
Porém, como eu já disse no post, certamente esse(s) modelo(s) não foi rodado por tempo suficiente, muito menos teve as conseqüências do desmatamento codificadas no programa -- o que torna esse modelo, no mínimo, simplório e cientificamente pobre (na minha opinião científica -- sem levar em conta o fato d'eu conhecer esse grupo de pesquisas e o trabalho deles).
A minha lógica nesse post é simples e extremamente linear: uma previsão dessas (desmatamento global e planetário) é certamente patética sob qualquer ponto-de-vista científico; portanto, o modelo que a deu origem está "errado". Logo, isso vem a reforçar a minha tese de que os modelos computacionais do clima não são robustos o suficiente, como eu digo no post.
Será que ficou mais claro agora? Será que sob esse ângulo vc é capaz de ver o porquê desse estudo servir como mais 1 argumento que mostra a má qualidade dos modelos climáticos computacionais?
[]'s.
Concordo que os modelos matemáticos de previsão climática são incompletos e muitas vezes produzem resultados esdrúxulos, mas o que este trabalho sugere não é tão estranho assim. Em 2003 foi publicado na Science o artigo "Increase in the Export of Alkalinity from North America's Largest River" por P. A. Raymond e J. J. Cole em que os autores expõem os resultados de análises dos componentes de alcalinidade (basicamente os teores de íon bicarbonato)do Rio Mississipi, observando que as áreas sob cultivo agrícola, ou seja, áreas sem cobertura vegetal perene, foram responsáveis pela maior exportação de alcalinidade, certamente devida à maior taxa de intemperismo químico, sabidamente um processo sequestrador de CO2. Não creio que se possa fazer a partir disto uma apologia ao desmatamento, mas também não creio que se possa questionar um trabalho sem lhe conhecer o embasamento teórico ou baseado simplesmente em diz-que-diz-que.
Oi Ítalo,
Eu sei que esse resultado não é "estranho" quando posto em contexto com outros da mesma espécie, que já foram sugeridos anteriormente. Isso posto, é um resultado, no mínimo, exdrúxulo. :-(
Como eu disse nos comentários acima, nesse post, e nos posts linkados nele, um dos problemas desse tipo de análise é o seguinte: "Ótimo, depois de rodarmos essa simulação por 'T' unidades de tempo, concluímos que o desmatamento do globo é algo "favorável" como paliativo para o Aquecimento Global. O que aconteceria se rodássemos essa mesma simulação para intervalos de tempo maiores que 'T'?!"
Será que esse modelo seria robusto o suficiente para prever as catástrofes ecológicas que se seguiriam? E suas conseguintes cascatas climáticas? E assim por diante!
O embasamento teórico desse artigo eu discuti bastante hoje com um professor daqui da Brown que trabalha nessa área e conhece bem os autores desse trabalho -- nada de diz-que-me-diz. Eu jamais faria um comentário dessa magnitude de modo leviano e irresponsável: Se vc olhar nos links que eu pus nesse post, para outros posts aqui do Roda, vc vai ver que meus comentários vêm sempre bem embasados.
O que sempre me deixa com a pulga-atrás-da-orelha é o seguinte: Se nós, espécie humana, não estivéssemos aqui habitando o Planeta Terra (e medindo o Aquecimento Global), a Mãe Natureza teria seguido seu curso normal e tudo estaria em "harmonia" (talvez não fosse uma harmonia favorável à vida na Terra, mas certamente seria o melhor que a Natureza pode fazer). Então, modelos que produzem resultados que, de alguma forma, são "contra" a Natureza... sempre me incomodam.
[]'s.
Calma, pessoal, acho que ambos estao corretos. Acho que o que Daniel quiz dizer nao é que o trabalho esteja errado, mas sim que o resultado nao tem aplicacao pratica. Por exemplo, suponhamos que um estudo conclua que se pintarmos todas as vacas e todos os telhados de branco, o albedo modificado ajudaria a esfriar a terra. Tudo isso baseado em boa fisica. Bom, mas isso nada diz se seria possivel na pratica realizar tal coisa. Nesse sentido, o resultado, enquanto sugestao de politica, nao tem sentido, nao é realizavel.
Caríssimos Daniel e ok,
Peço desculpas se minhas palavras pareceram agressivas, às vezes escrevendo não expressamos exatamente o que queremos. Como já disse, minha menção ao dito artigo não pretendeu nem pretende ser uma apologia ao desmatamento. Na verdade já fiz alguns comentários a este mesmo trabalho em meu blog, comentando que os autores deixaram de considerar o impacto causado pelo aumento na decomposição da matéria orgânica causada pela retirada da floresta e pelo revolvimento do solo. A mesma omissão possivelmente foi feita pelos autores do modelo em questão. O problema é que tenho a mania, às vezes inconveniente, de tentar abordar os vários lados de uma questão, podendo exceder-me. De toda forma, concordo que a aplicabilidade prática de um tal modelo é nula e altamente indesejável.
Cordialmente,
Ítalo Moraes Rocha Guedes
Oi Ítalo, BB,
Pode ficar sossegadíssimo: Suas palavras nem foram agressivas nem eu me senti hostilizado. O Ok_BB é que ficou preocupado antes da hora... :-)
Agora, Ok_BB, minha crítica com respeito ao tal modelo não é apenas sob o cunho prático, da aplicabilidade do mesmo -- é mais do que isso. Pegue um pedaço do seu jardim e desmate-o. E, depois de um bom tempo (quiça alguns anos!), me diga como é que está tudo no pedaço desmatado de jardim -- e, se possível, compare com o pedaço não desmatado. Tá sacando aonde eu quero chegar? ;-)
Tudo bem, vc desmata o globo, isso melhora o aquecimento global... e depois?! O que acontece depois?!!!
Claramente, o trabalho e o modelo proposto [nesse link que eu passei] NÃO levam esse "detalhe" em consideração!
Agora, pessoalmente, eu acho esse um efeito absolutamente trivial, i.e., se o modelo NÃO inclui um efeito tão trivial quanto esse, o quê é que ele inclui?!!! Seria como eu fazer simulações de Teorias Quântica de Campo sem levar em conta as Flutuações Quânticas!!! É aquilo que, no jargão, vai com o nome de "backreaction" ou "feedback".
Ou seja, na minha opinião científica, o modelo em questão não leva em conta nem um efeito tão óbvio quanto esse (o que acontece depois do desmatamento -- coisa que qualquer experimento de jardim é capaz de mostrar!); então, como é que os autores esperam que eu aceite seus outros resultados?! (Cadé a famosa "revisão por pares"?!!! :-P)
O nome, em inglês, pra esse tipo de coisa é "homework problem": Todos esses probleminhas simples, que a "galera" publica a torto e à direita, são "homework problems" -- um amigo meu chama isso de "Piloto de Hamiltoniana", vc troca os parâmetros da Hamiltoniana e tem um artigo novo (depois roda o mesmo algoritmo novamente: troca o valor dos parâmetros e publica novamente). Esse tipo de prática e de comportamento tem me incomodado FORTEMENTE -- não só atualmente, mas já há tempos; é que atualmente a "galera" anda descarada demais! TODO santo dia, de manhã, eu leio os arXivs: Leio praticamente TODOS os arXivs, a não ser por um ou outro, em geral cheio e 'crackpottery'. E TODO santo dia eu vejo a mesma coisa: 'homework problem' em cima de 'homework problem' sendo publicado, como se tudo que soubéssemos fazer fossem as 4 operações: A única diferença entre linhas e linhas de equações são as 4 operações! :-P
Isso NÃO pode ser sério! Eu não quero saber se a comunidade acha que esses trabalhos são bons ou não -- até porque, isso é só da boca-pra-fora, basta conversar com as figuras proeminentes de cada campo e ver o que elas pensam!
Como eu já disse em Redes Sociais e a Ciência moderna, eu acho que esse nível e qualidade de trabalhos é BASTANTE sintomático dos "tempos modernos": Coitado, Chaplin jamais poderia imaginar o quão visionário o filme dele foi -- hoje em dia, até a Ciência funciona feito "máquina de fazer salsicha"! :-(
E, digo mais ainda: Vc (Ok_BB) colocou no seu blog um link para uma matéria com o Stevens Rehen, lidando com o assunto da abertura das publicações científicas, blogs, e seus valores sociais agregados. Isso aqui, pra mim, é o MELHOR exemplo dessa discussão (que, pra variar, sempre chega atrasada no Brasil! -- eu, sozinho, já venho falando disso há anos... agora é capaz de "vira moda" :-P): Tá aqui, estou fazendo o "peer review" desse artigo -- e minha opinião é BEM clara!
Tudo aí, DIVERSOS temas, todos amarrados num comentário só: Das predições do artigo que eu citei e sua qualidade científica, até o post do Ok_BB sobre blogs e o futuro da publicação científica! Bite me! :-P
Me desculpem pelo possível mal-humor matinal -- ainda por cima numa sexta-feira, dia internacional do 'happy hour'. Mas, infelizmente, nem é mal-humor... é só o meu jeitinho jagunço-ogro-troglodita (ou "poliglota", como diria a Magda do extinto "Sai de Baixo"! ;-)... se expressando sobre esses temas. :-)
Abraços gerais e um excelente final-de-semana para nós todos! []'s! :-)
Daniel, eu li o artigo da PNAS, e não vi em lado nenhum os autores a defenderem o desmatamento global. O objectivo dos autores era sobretudo mostrar que na questão das florestas boreais não é tanto o CO2 que têm, mas como modificam o albedo que é importante. Aliás, eles são bem claros que o desmatamento nos trópicos aquece o planeta. A relação corte/arrefecimento tem que ver com as florestas das regiões frias, onde neva.
Aliás um dos pontos dos autores é que isto vai provavelmente piorar a questão do aquecimento global pois as florestas boreais estão em expansão.
Quanto às tais questões sobre o ecossistema. O efeito depende sobretudo da queda de neve e isso está incluído. Mesmo alguns aspectos biogeoquímicos, como algumas das coisas a que se refere o Ítalo, também lá estão.
Eis aqui o abstract do artigo:
The prevention of deforestation and promotion of afforestation have often been cited as strategies to slow global warming. Deforestation releases CO2 to the atmosphere, which exerts a warming influence on Earth's climate. However, biophysical effects of deforestation, which include changes in land surface albedo, evapotranspiration, and cloud cover also affect climate. Here we present results from several large-scale deforestation experiments performed with a three-dimensional coupled global carbon-cycle and climate model. These simulations were performed by using a fully three-dimensional model representing physical and biogeochemical interactions among land, atmosphere, and ocean. We find that global-scale deforestation has a net cooling influence on Earth's climate, because the warming carbon-cycle effects of deforestation are overwhelmed by the net cooling associated with changes in albedo and evapotranspiration. Latitude-specific deforestation experiments indicate that afforestation projects in the tropics would be clearly beneficial in mitigating global-scale warming, but would be counterproductive if implemented at high latitudes and would offer only marginal benefits in temperate regions. Although these results question the efficacy of mid- and high-latitude afforestation projects for climate mitigation, forests remain environmentally valuable resources for many reasons unrelated to climate.
Referência
G. Bala, K. Caldeira, M. Wickett, T. J. Phillips, D. B. Lobell, C. Delire, and A. Mirin (2007) "Combined climate and carbon-cycle effects of large-scale deforestation" PNAS April 17, 2007 vol. 104 no. 16: 6550-6555.
Depois de ter lido o artigo não vejo como possa ser considerado um homework problem. Aborda uma questão que não tinha sido quantificada. Havia quem minimizasse o aquecimento global dizendo que era uma questão de plantar mais árvores.
Caio,
(1) Em NENHUM momento eu afirmei que os autores apoiam o desmatamento global. Aliás, eu JÁ disse diversas vezes nos comentários acima que NÃO foi isso que saltou aos meus olhos -- pelo menos não desse modo trivial e simplista.
(2) Quanto as outras explicações no seu comentário acima: eu já havia lido o artigo (mas, obrigado mesmo assim por deixar a referência aqui -- se vc tivesse posto um link para ela teria sido melhor ainda ;-) e, acredito eu, já as tinha digerido e entendido.
(3) Quanto a questão dos "homework problems": Certamente nós devemos ter opiniões diferentes do que é uma "homework". Se preciso for, eu posso por uma lista de alguns problemas que eu já tive que resolver em "homeworks" para que possamos 'sincronizar' nossas definições. De qualquer forma, essa questão é minha opinião, como eu deixei claríssimo no meu comentário acima: Sim, é minha 'opinião científica' mas, ainda assim, é "opinião". E, infelizmente, o julgamento de qualidade dos trabalhos científicos é feito com base em OPINIÕES. :-(
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Mas, como eu JÁ disse tudo isso antes... não consegui entender seu objetivo. De qualquer maneira, sempre há quem reduza o problema do aquecimento global às árvores: uns querem plantar, outros querem desmatar. :-(
[]'s.
Daniel olhe para o seu título: "Modelo climático sugere desmatamento global", se isso não é atribuir intenções aos autores... Podemos fazer um pequeno inquérito. Quem, após a leitura do texto do Daniel, entendeu, como eu, que os tais autores faziam a apologia do desmatamento?
eu!
Caio,
Eu não pretendo entrar em questões semânticas: O problema do Aquecimento Global já é complicado o suficiente per se; adicionar a isso uma camada semântica só faz piorar a situação. Eu acredito que minhas críticas foram extremamente claras, inclusive entrando nos méritos técnicos da questão e discutindo pontos que vc mesmo levantou.
Fora isso, ontem à noite, durante a janta, vi na TV (acho que era CNN, mas não tenho certeza) algo que me deixou um pouco chocado: Alunos de colegial escrevendo [para o tal do programa que estava no ar] e reclamando que seus professores estão mostrando o DVD do filme do Al Gore, mas SEM contar o OUTRO lado da estória! :-( E, pra piorar ainda mais, o 'host' do tal programa teceu comentários e mais comentários na "loucura" que o Al Gore está promovendo, chamando-a de "State of Fear". :-(
Não que o filme do Al Gore não mereça críticas... mas, daí a dizer que é tudo mentira e que ele só está promovendo o medo... é distorção demais: Muito triste a nossa realidade atual. :-(
[]'s.
(Vide meu comentário ao artigo da Maria, logo acima deste).
Pois é, Daniel... "Existem mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas" (Disraeli). Ou aquele caso do sujeito que todo dia, pela tábua que faltava na cerca, via passar a vaca em direção ao pasto. Um dia, ele teve uma genial revelação: "Já sei!!! O focinho causa o rabo!!!
"State of fear" é o título de um livro do mesmo autor que escreveu o Jurassic Park sobre o aquecimento global. Lê-se bastante bem (comprei isso no aeroporto e li durante as viagens de ida e volta de um vôo para a Califórnia). O autor é de facto um mestre a manobrar a informação que lhe convém. As referências a artigos científicos são reais mas é uma obra de ficção. Infelizmente há quem a considere mais que isso.
Há alguns erros no documentário do Gore, sobretudo quando tenta dar exemplos dramáticos e escolhe mal. O mais claro é o dos glaciares, escolhe o Quilimanjaro, que não está a "derreter" por causa do aquecimento global. A taxa de sublimação do Quilimanjaro é aproximadamente a mesma do costume, os padrões de precipitação é que se alteraram, e não necessariamente por causa do aquecimento global.
Alternativas ao aquecimento global por CO2, que eu conheça, há duas. Uma ligada ao Sol/raios cósmicos, mas sem mecanismo causal e por enquanto pouco convincente (o que não quer dizer que não cheguem lá). Se a causa do aquecimento for o Sol o aquecimento provavelmente terminará já no próximo ciclo solar (estará ligada a um cliclo de 80 e poucos anos sobreposto aos 11 anos do ciclo solar típico).
Outra alternativa são os Anti-ciclones Móveis Polares, essencialmente qualitativa e cujos autores são uma minoria mas bastante vocal, e quanto a mim demasiado agressivos na forma como insultam os "aquecedores". Basicamente chamam-lhes alarmistas e irresponsáveis, que não percebem um pingo da ciência atmosférica. Os defensores dos AMPs prevêm o fim do ciclo de aquecimento (que aliás eles contestam) daqui a 5 ou 10 anos.
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