Minha contribuição para o tema desse mês do Roda pode ser lida em A Politização do Aquecimento Global.
Os comentários, como sempre, devem ficar por aqui.
[]'s!
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Um ponto de encontro para debates de ciência e não só
Um ponto de encontro para debates de ciência e não só
21 comentários:
Daniel,
[reproduzo aqui o comentário que deixei no Stoa, http://stoa.usp.br/danieldf/weblog/1498.html]
Fez umas afirmações surpreendentes. Vinte anos atras quando se falava em supercomputadores sempre se associava isto com previsão de tempo. Hoje, quando olhar a lista top500, de fato somente 17 dos 250 supercomputadores que especificaram a área de aplicação são para a área "clima" (http://www.top500.org/stats/28/apparea/). Mesmo assim, é difícil acreditar que as especialistas na área usam "algoritmos rudimentares feitos para modelar fluídos."
O seus exemplos relacionados com as linguagens supostamente usadas não me convencem. Nada contra Fortran, Assembly, C/C++, mas cada problema tem a sua ferramenta adequada. Certo, modelar o clima com Excel, realmente faz alguem suspeitar a seriedade da pesquisa, mas Matlab por exemplo é perfeitamente capaz de computação moderna (http://www.mathworks.com/products/distribtb/). Claro que é uma linguagem de alto nível, e também prefiro Python, mas não pode inferir a qualidade do trabalho pelo fato que usam Matlab.
Mas o que incomoda mais é a implicação que se Físicos de Altas Energias estariam envolvidos os problemas dos caras seriam resolvidos rapidamente. Isto não pode ser verdade pelo simples motivo que se fosse verdade, todos os físicos de alta energia se sentariam moralmente obrigados de ir ajudar resolver problemas tão importante como aquecimento global e a cura do câncer. Mas não fazem isso, e sabendo que físicos de altas energias são pessoas com uma consciência, segue que a afirmação é falsa.
Deve de ter muita picaratas em climatologia, como em todos os ramos de ciência ou outros empreendimentos humanos. Mas fazendo grandes afirmações sobre uma área da ciência inteira requer argumentos muito fortes.
Concordo em princípio com a sua análise que ao final das contas a solução será sociológica e não tecnológica. Mas como disse o Keynes "no longo prazo, estaremos todos mortos". Lembra do clube de roma http://www.clubofrome.org/ ? Fizeram grande barulho no inicio dos anos 70, houve a crise do petroleo, etc. Nenhum das previsões deles se atualizaram. A tecnologia tem os seus limites, mas como mostra o resumo do colóquio que menciona, as pessoas ainda preferem a solução tecnológica ao começar investir num gerenciamento de recursos melhor e mais justo.
Oi, Daniel!
Acabei de ler um "post" que gostaria de compartilhar com todos, pois acho bem pertinente:
http://blog.sciam.com/index.php?title=please_stop_talking_about_the_global_war&more=1&c=1&tb=1&pb=1
[]s
Dessa vez concordo com o Daniel (dado que somos físicos, não deveriamos concordar sempre?)
Mesmo se resolvessemos o problema das mudanças climaticas (com uma bala de prata tecnologica, por exemplo, pilulas que diminuem o arroto metanogenico das vacas - sim isso foi proposto recentemente), e mesmo que elas fossem puramente de origem fisica em vez de antropogenica deveriamos enfrenta-las de algum modo), o problema de desenvolvimento sustentavel continuaria nao resolvido.
Ou seja, toda especie, quando a populacao cresce, tende a bater em uma parede que são os recursos que seu nicho ecologico possue para sustentar um certo nivel de populacao.
O problema é que o nicho da Humanidade é o proprio planeta. E que, ao contrario dos animais, o nivel de consumo energetico nao tem limite: se P(x) for a probabilidade de uma pessoa gastar x joules por dia (o Daniel diria gastar energia livre, pois energia se conserva), aposto que P(x) é uma lei de potencia P(x) = C/x^a e os americanos estão no rabo da distribuição de probabilidade.
De alguma forma precisamos fazer com que tal distribuição tenha uma cauda que decaia de forma exponencial, ou pelo menos que
a > 3 (para que a media e a variancia nos gastos sejam finitas). É essa toda a questão. Como fazer isso?
Se numa polemica cientifica tem 10% dos cientistas de uma lado e 90% de outro, a mídia deveria dar espaços iguais para ambos os lados? Bom, isso é o que ocorre no caso do debate Evolução Darviniana versus ID. E no caso das mudanças climaticas? Bom, mas agora dou o seguinte exemplo:
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL12947-5603,00.html
Me parece que o G1 quis fazer sensacionalismo de tal forma que o titulo nada tem a ver com o texto e as afirmações do cientista. Afinal, ele duvida do que??? Coitado, suas palavras foram torcidas... Cuidado com esses jornalistas científicos! (risos para Maria)
Oi Professor Ewout,
N. B.: Estou no laptop dum amigo, entao vai sem acentos mesmo -- fato que eh completamente aplacado pela musica do Louis Armstrong... ;-)
Desculpe por nao ter visto seu comentario no STOA, mas ando meio enrolado e sem conseguir acompanhar todos os pontos da minha 'rede social'.
De fato, eu nao imaginava que tinha dito nada muito "groundbreaking", ateh porque esse me pareceu ser o 'status quo', pelo menos aquele que eu vejo aqui ao meu redor. Entao, eu acho que posso nao ter sido claro o suficiente, ou expressado meus pensamentos e ideias da mesma forma que eu as vejo. Portanto, deixe-me tentar esclarecer nao soh as suas questoes, mas tambem os pontos que eu quis levantar.
(1) De fato, o pedaco da historia da supercomputacao que eu acompanhei (e ainda acompanho) nao tem 20 anos; as informacoes mais antigas que eu tenho sao fruto do meu orientador, dos amigos dele e dos nossos amigos em comum. Isso posto, meu orientador participou do design de alguns CRAYs, SGIs e MultiFlow (que, efetivamente, deu origem ao Xeon -- depois que a Intel comprou a MultiFlow). projetos Juntamente com meu orientador, o James O'Dell (um dos programadores originais do Macsyma/Algebr) tambem participou de alguns desses projetos e, hoje em dia, ele trabalha pra SGI, na linha de supercomputadores/clusters deles.
A historia que eu conheco, vinda dessas fontes, diz algo um pouco diferente: Eles dizem que os supercomputadores de 20 anos atras (os processadores em si, CPUs, assim como muito das arquiteturas) eram desenvolvidos para lidar com problemas que realmente exigiam muito das maquinas, como Lattice Gauge Theory ou Lattice QCD -- bonx exemplos podem ser encontrados na IBM, aonde os exemplares que levaram ao moderno BlueGene foram todos construidos nessa linha; outro exemplo pode ser encontrado nos novos CRAYs que sao, basicamente, clusters otimizados de alguns processadores um pouco mais antigos (esses tambem foram desenvolvidos com Lattice QCD em mente).
Entao, eh provavel que nos estejamos enganados e os supercomputadores de 20 anso atras tenham sido desenvolvidos com o problema do 'clima' em mente. Mas, mesmo nesse caso, eu continuo a defender que nao ha problema que demanda mais da maquina do que Lattice Gauge Theory. ;-)
(2) Quanto aos algoritmos utilizados, digo isso pelas seguintes razoes. O problema do 'clima' eh 'isomorfico' ao problema de Lattice Gauge Theory, pela simples razao de que, no final das contas, eh preciso 'infinitas' variaveis para se determinar o resultado dum calculo climatico, o mesmo que acontece em teorias de gauge. Entao, as formulacoes mais modernas de problemas climatologicos seguem exatamente essa linha: Os problemas sao convertidos numa linguagem mais proxima de "teoria de campos"; ateh porque, dessa forma costuma ficar mais facil de se 'atacar' o problema em questao (isso eh o que me dizem meus colegas daqui da Brown e do MIT -- tanto os geofisicos quanto os fisicos que trabalham com o problema do clima). E, pessoalmente, todas as formulacoes que eu vi [de problemas climatologicos], foram sempre nessa linha.
Portanto, eh dessa observacao que nasceu minha critica aos algoritmos utilizados: um dos profs aqui da Fisica da Brown que trabalha no problema do clima me pediu pra ajudar os alunos dele a otimizar o codigo que eles usam -- codigo esse que parece ser o 'padrao' da comunidade (esse foi o codigo escrito em Matlab que eu tive acesso e critiquei no meu post). Sem conhecer muito do problema do clima e trabalhando apenas com sua "formulacao em termos de Teoria de Campos", eu consegui otimizar a performance do codigo deles em pouco mais de 350%! A razao principal de eu ter conseguido um resultado tao brutal quanto esse eh que as tecnicas utilizadas no codigo eram bem rudimentares -- como me foi dito que esse eh o codigo "padrao" da comunidade, minha conclusao foi linear (ela pode, certamente, estar errada).
(3) A utilizacao do Matlab para esse tipo de problema altamente paralelizavel eh extremamente indesejada: O Matlab eh escrito completamente single-threaded! Portanto, eh impossivel de se paralelizar o codigo. Esse fato, sozinho, eh razao o suficiente pra se qualificar os algoritmos como "rudimentares": Um simples 'wrapper' em Python rodando rotinas simples (em C/C++ ou FORTRAN) em paralelo jah seria suficientemente mais elaborado do que o codigo que eu tive acesso.
De fato, para problemas "simples", eh inteligivel que se queira usar alguma linguagem simbolica (Maple, Mathematica) ou de alto nivel (Matlab, Octave). Porem, num problema tao complicado quanto o climatico (ainda mais depois de se notar que ele pode ser escrito na forma de Teoria de Campos), nao vejo razao nenhuma para uma escolha tao simples quanto essa.
Agora, se o codigo Matlab que vc tem em maos precisa lidar com uma matriz de 100.000 entradas... eh melhor vc comecar a procurar por algo mais robusto, que gerencie melhor a memoria, que otimize melhor as estruturas de dados, etc.
(4) Agora, Professor, eu nao quis implicar, em absoluto, o que o senhor entendeu, i.e., que se fisicos de altas energias estivessem envolvidos no problema ele jah estaria resolvido. O que eu quis dizer foi que o pessoal do clima jah poderia ter aproveitado muito mais e muito melhor dum conhecimento que jah exsite e jah estah estabelecido de forma robusta -- ao inves de re-inventarem a roda. Me desculpe se deixei transparecer algo diferente disso, realmente nao foi minha intencao.
(5) Pois eh, eu me lembro do Club of Rome... e o senhor estah coberto de razao quando diz que nada se concretizou das previsoes deles.
---
O fato eh que fica se moendo-e-remoendo se usando noticias cada vez mais sensacionalistas quando se fala do Aquecimento Global... quando, de fato, o problema concreto eh BEM pior: A utilizacao de forma mais racaional das fontes energeticas do nosso planeta. Substituindo um problema pelo outro, a midia faz pouco para contribuir para a solucao de qualquer um deles, alem de contribuir para um aumento da confusao do publico leigo! E essa situacao, alem de ser extremamente politica, eh de um mau gosto impar. :-(
Um abracao, []'s.
Um link que pode ser relevante para essa discussão: Less carbon, more community building
.
[]'s!
Daniel,
Pare de me chamar de professor!, até porque obviamente nesta área você é o especialista. A respeito de Matlab, apenas vi que existe um "distributed computing toolbox", mas talvez para os algoritmos que mencionou é preciso uma granularidade menor para chamar isto de parallização?
Agora entendo melhor o que quer dizer que climatologistas não usam o estado de arte em simulação, acredito. Quando li o seu parágrafo sobre "algoritmos rudimentares", extrapolei e pensei que estava falando sobre a área inteira, o que claro não foi o que quis dizer.
Continuando este parte do debate: veja dois casos: 1. RMN, ressonância nuclear magnética foi inventado nos anos cinquenta por físicos americanos. Mas segundo um especialista em RMN que conheci, foram os químicos que pegaram a técnica e adaptaram para os seus fins particulares, indo muito além e fazendo coisas muito mais avançados do que os físicos. 2, No livro popular de Kip Thorne, ele relata como foram físicos que desenvolveram telescópios de raio-X, que os físicos pegaram os dados primeiros mas que foi somente após os astrônomos começaram interpretar os dados que saíram resultados de verdade.
Conclusão que tiro: físicos tem que oferecer as ferramentas que desenvolveram, mas não devem tentar fazer o trabalho de especialistas de outras áreas.
Oi Ewout,
[É difícil de conter o "Professor"... É mais forte do que eu... mas, se continuar por aqui, o Rogério vai aparecer falando que é alguma coisa Freudiana! ;-]
O "distributed computing toolbox" do MatLab é... fraco, bem fraquinho. O que acontece é o seguinte: Tanto o Maple quanto o Mathematica estão trabalhando há tempos em conjunto com a SGI ou com a Apple ou com a IBM para terem soluções mais robustas para problemas em clusters. Em particular, o Mathematica foi extremamente otimizado para rodar nos Apple/Mac e tem investido um tanto para avançar nessa área de "paralelização" e "computação distribuída".
Na verdade, no caso de modelos climáticos (assim como em Lattice Gauge Theory), pode-se atingir um bom nível de paralelização usando-se a técnica de "computação distribuída": Vc tem um cluster de computadores e põem cada um dos nós desse cluster para calcular algo diferente, depois basta agregar todas as respostas e dar o próximo passo iterativo. Mas, via de regra, "computação distribuída" não é o mesmo que "computação em paralelo". Porém, nesse nosso caso, já é possível se fazer bastante com a simples "distribuição" de "tarefas" [para diversos processadores] -- apesar dessa não ser uma solução ótima. De qualquer modo, o "distributed computing toolbox" do MatLab mal-e-mal serve para máquinas SMP, i.e., para máquinas com mais de 1 CPU. Por exemplo, temos um computador aqui que tem 2 CPUs 'dual core' de 64 bits; então, efetivamente, temos 4 CPUs de 64 bits cada -- mas tudo isso numa única placa-mãe (motherboard). Então, um MatLab rodando nesse computador e utilizando o "distributed computing toolbox" teria um rendimento [marginalmente] melhor.
Mas, como eu disse, o MatLab andou deixando esses avanços para trás e, agora, está correndo pra alcançar a competição: Eles ainda não disponibilizaram uma versão nativa para Apple/Mac; porém, estão trabalhando intensamente com a SGI para desenvolverem uma versão verdadeiramente paralelizada (na verdade, 'threaded') do software deles. ;-)
É verdade: cada ciência tem uma particular "leitura" de diferentes tecnologias. Pessoalmente, essa é a beleza que eu vejo em áreas inter- ou multi-disciplinares: Cada um vê o problema dum ângulo diferente e o ataca de modos completamente distintos... usando as mesmas ferramentas! :-) É bastante bonito... pelo menos pra mim. Mas, acho que por causa do Ciências Moleculares, alguns desses exemplos acabam me passando desapercebidos.
[]'s!
Deixa eu continuar o thread original. Dado que o tema realmente se polarizou politicamente nos EUA, republicanos minimizando (ou melhor, agora dizendo que o nivel de CO2 produzidos pelos humanos nao tem nada a ver com o aquecimento) e os democratas dizendo o contrario... Será que Al Gore ser o paladino do aquecimento global nao poderia se tornar contraprodutivo? Afinal, quem nao quer votar nele ficaria deslocado se aceitasse o fato das tais mudanças climaticas...
Ou seja, será que Al Gore fez um desserviço para a coisa toda?
Ewout, vc tem um blog cientifico? Manda ai o endereço...
Aproveitando o título e já o modificando: agora mudou-se o campo de batalha, as armas são jurídicas! Vejam no link a seguir
http://www.nytimes.com/2007/04/03/washington/03scotus.html?_r=1&oref=slogin
(não podemos nos esquecer, que o que acontece lá, cedo ou tarde, acaba refletindo por aqui...enqto atitude a ser copiada ou como conseqüência do que fora determinado)
Como as águas de março não fecharam o "verão" e o aquecimento global continua, pelo menos no blog, estou preparando alguma coisa que não sei se atende ao tema.
Quando João Giovanelli diz que a culpa é do Homem (assim mesmo em maiúscula, porque é a espécie), não tenho dúvidas que ele está certo, mas também creio que aqui ninguém espera um "mea culpa", nem dos cientistas, nem dos psicanalistas.
Aliás, (É difícil de conter o "Professor"... É mais forte do que eu... mas, se continuar por aqui, o Rogério vai aparecer falando que é alguma coisa Freudiana! ;-] esta afirmativa não me deixa muito confortável, pois parece que a psicanálise caminha distante da ciência. Por menos que ela pareça científica em seus pressupostos, entendo que ela procura ser o mais fiel possível aos seus conceitos teóricos.
Ainda bem que ela não contribui, pelo menos diretamente, para o aquecimento global. Pelo menos nunca soube que Bush tenha um analista.
Daniel, fique tranqüilo, pois ser professor não é, necessariamente, culpa para a psicanálise.
Salve, Professor! (Isso é com o Daniel, gente... faz muito tempo que eu trato ele assim)
Gostei do seu approach e pretendo aproveitá-lo no meu artigo sobre o tema para o "Roda" (se é que eu vou ter tempo e paz de espírito para completá-lo...)
Mas, a título de preprint, me parece que o assunto está sendo abordado com demasiado açodamento e pouca base científica real. Tem "achismo" demais no ar...
Rogério, eu acho que o que o Daniel quis dizer é que ao chamar o Ewout de "professor", havia algo de Complexo de Edipo nisso. Apenas isso.
Notei que ninguem quis responder minha pergunta. Al Gore faz bem ou poe areia na questao da aceitação do aquecimento global?
Oi Pessoal,
"Vamos por partes", disse o estripador...
Rogério: É verdade, o Osame está correto: Em absoluto, minha intenção jamais foi a de "dar uma indireta", muitíssimo pelo contrário: Eu gosto bastante das reflexões que recebo e leio de vc. Foi só uma brincadeira (talvez infeliz), aludindo à "autoridade" do "professor"... nada demais. Mas, se vc se ofendeu, eu me desculpo desde já: Nunca tive essa intenção, nem remotamente, e não quero que algo tão 'trivial' comprometa o nosso bom andamento coletivo.
Quanto ao mea culpa, eu acho que poderia dizer MUITO sobre isso; não necessariamente do ponto-de-vista científico, mas acho que mais sobre um 'approach' sociológico e antropológico. Por exemplo: Os cientistas (quer seja os ecólogos, os geofísicos, os químicos, etc) vêm avisando de 'problemas com a Mãe-Natureza" há tempos... "muitos tempos" mesmo. E, sabidamente, ninguém toma NENHUMA nem qualquer providência: O rumo em direção ao "progresso" é 'steadfast' (me desculpem, mas, às vezes, o pt_BR me foge mesmo: Eu até 'ouço' a palavra na minha cabeça, mas não consigo 'falar' nem 'escrever' a dita cuja ;-). O Charles Chaplin já criticou isso há anos. Agora, a questão que, de fato, eu quero colocar é a seguinte: O "Processo Deciditório" desse tipo e nível de questão, i.e., aqueles que decidem os rumos das nações e, nesse claro sentido, do Planeta, é feito por uns poucos... MUITO poucos! :-( O grande truque é que esses "poucos" não querem nenhuma forma de "bem comum", mas sim apenas a manutenção de seus respectivos "poderes", quer sejam econômicos, políticos, etc.
Pierre Bourdieu já dizia isso há anos -- existem 2 livros dele que valem a pena serem lidos, Distinction: A Social Critique of the Judgement of Taste e Homo Academicus. Ou seja, quando a "massa" fica sabendo das "possíveis escolhas"... já é tarde demais! Essas escolhas já foram feitas há tempos... e a "massa", como sempre, é apenas manobrada -- muitas vezes até com auxílio da mídia.
O que eu estou dizendo é que quando somos informados das notícias, quando a mídia cumpre seu papel, já é tarde demais. Os "Caras Pintadas" não fizeram o 'impeachment' do Collor; o movimento "Diretas Já" não introduziu a democracia no Brasil; e assim por diante.
Porém, isso é apenas uma observação factual, estou apenas apontando um fato: Por qualquer razão (que não vem ao caso nesse momento), a humanidade se comporta assim. O que isso mostra, com clareza cristalina é o seguinte: A sociedade é constituída por COMUNIDADES ATIVAS! Ou seja, por núcleos de pessoas que ativamente CONSTROEM seus "nichos". E não há como enfatizar isso o suficiente. Então, se a gente QUER mudar qualquer coisa, é preciso fazermos uma escolha racional e consciente, não só enquanto indivíduos, mas como comunidade e sociedade também (senão, de nada adianta)!
As pessoas e comunidades que reconhecem esse simples fato... concretamente dominam o mundo! Não é uma questão moral, de certo × errado, de bom × mal, ..., é simplesmente um fato da vida: Se mais comunidades se tornassem ativas e buscassem construir seus espaços naturais e seus nichos, esse "poder" teria que ser dividido e diluído. É em observações como essa que mora o "poder do conhecimento": quem 'conhece' como algo funciona, pode agir ativamente para mudá-lo -- em qualquer direção.
Porém, uma vez dado esse passo educacional, intelectual, o passo seguinte é 'ético': "Devemos trabalhar para o bem comum ou para o nosso bem próprio e pessoal?!" Claro, conhecemos BEM a resposta prática e concreta pra essa questão. :-( Mas, o que muitos estudos populacionais mostram claramente é que isso pode ser melhor formulado em termos de Teoria dos Jogos: Na esmagadora maioria dos casos, o MELHOR resultado para TODOS os membros duma 'comunidade' é o '0-sum game'!!! Ou seja, todos ganham quando nos organizamos em direção a um "common ground"!
[N.B.: "Que mágica, quem poderia imaginar algo assim?!!!" Ah... se o sarcasmo pudesse falar... ;-) ]
Existem simulações em cima de simulações e pilhas e pilhas de dados estatisticamente significativos que MOSTRAM que o melhor método de interação social é a famosa e famigerada "Regra de Ouro" -- para uma introdução mais acessível e que serve de referência aqui, eu recomendo fortemente o livro Five Golden Rules: Great Theories of 20th-Century Mathematics -and Why They Matter. (Aliás, TODOS os livros do Casti são EXCELENTE e eu recomendo TODOS eles, assim como os do Bourdieu, acima! ;-)
Então, em termos de "espécie", somos muito pouco bem sucedidos... certamente somos piores que muitos insetos, quiça animais maiores! :-(((
De qualquer forma, Rogério, espero que tenha esclarecido tanto o mal-entendido quanto seu comentário -- pelo visto minhas palavras, ultimamente, têm sido mais prolixas que o usual... acho que está na hora de leiloar o que sobrou da minha cabeça, antes que seja tarde demais! ;-)
Joãozão: Infelizmente vc tem razão: Tem "achismo" DEMAIS no ar! E isso me incomoda PROFUNDAMENTE quando começam a falar na "comunidade científica" e seus "consensos". Na minha opinião, as distorções científicas que acontecem aqui no problema do clima são da mesma magnitude que aquelas que eu veja acontecendo com respeito à Teoria de Cordas [e afins]! :-(
Me parece que a "Indústria da Comunicação" chegou no seu limite: Hoje em dia, sensacionalizam até notícia científica!!! A que ponto chegamos: há não muito tempo atrás, notícias científicas eram consideradas simplesmente "patéticas" e FORA do escopo da mídia -- vide a gafe-do-século protagonizada pelo William Bonner, chamando os telespectadores do Jornal Nacional de "Homers" (em alusão direta ao Homer Simpson!). Porém, atualmente, a Indústria da Comunicação usa, literalmente, QUALQUER "notícia" como 'arma de venda'. I-na-cre-di-tá-vel! De fato, nunca pensei que chegaríamos nesse nível, aonde o peso da Indústria da Comunicação forçaria a Ciência na população, goela abaixo.
É por isso que eu acho que esforços como esse, do Roda, são TÃO importantes e ESSENCIAIS: Não só eles estabelecem diversas "pontes" entre cientistas e comunicadores, mas eles também fazem algo muitíssimo mais importante: Começam a polarizar e a criar uma Comunidade ATIVA, que vai colaborar para a criação dum futuro diferente!!!
Felizmente (ou não! ;-), eu acredito nisso piamente! :-)
Osame_BB: Eu acho que o papel do Al Gore é de "escape goat"... no seguinte sentido: "Olha vamos botar o cara pra falar disso lá, é uma questão importante, ele divulga, informa o público (ganha até estatueta!) e, de quebra, isso contribui FORTEMENTE para o Marketing Pessoal dele, i.e., isso constrói a NOVA IMAGEM do fulano! E, assim, o povo não reclama de nós, [democratas], afinal, é a cara do outro que está à prova."
Ou seja, parafraseando o Gonzaguinha: É a bunda do Al Gora que está na janela... se tiverem que passar a mão, é na dele e não na do Partido Democrata! Sacou?! ;-) Isso sem falar, claro, no grandíssimo truque de marketing pessoal e reconstrução de imagem que isso é -- nada a favor do Clima, mas tudo a favor do partido democrata. O Gore está "taking one for the team": Se der certo, EXCELENTE, senão, "foi bom ter te conhecido"... goodbye and thanks for all the fish!
Essa é uma arma política extremamente afiada... eu só não sei o quão efetiva ele poderá ser... mas acho que isso ninguém sabe... ainda. ;-)
Por enquanto, ele tem feito só bem: Pra imagem dele, pro filme, pro Aquecimento Global, pros Democratas... por enquanto, todos têm ganho. Mas, como vc bem sabe, nem toda evolução temporal é unitária! (Foi mal pela piadinha interna, de Físicos: tudo que isso quer dizer é que, com o tempo, a coisa pode mudar da água pro vinho! ;-)
Então, como diria a Globo: "A seguir, cenas do próximo capítulo." :-)
---
E, por aqui, fico eu também: Esse comentário já ficou BEM maior do que eu havia previsto ou tinha tempo pra escrever hoje... hora de trabalhar! :-)
Um abração para todos, []'s!
olá,
Desculpem-me se pareceu que eu quis interpretar o Daniel ou se me senti ofendido, se há um mal entendido, reivindico ao meu comentário. O que eu pretendia era apenas dizer é que às vezes um charuto é só um charuto e nada mais. Não entendo como minha função fazer aqui interpretações selvagens.
A questão freudiana se coloca assim: no mito de Édipo, vários códigos nos informam funções humanísticas globais. Assim, a Esfinge, que propõe enigmas, é um aspecto do próprio ser humano que necessita descobrir os enigmas dos aspectos formais e aparentes da relação humana, os quais possuem, em seu conteúdo, informações preciosas para o desenvolvimento humanístico do homem. Se, de um lado, o aspecto imanente aprisiona o indivíduo aos instintos, às necessidades animais básicas, de outro, seu lado transcendente o impele a buscar no conhecimento uma maior libertação (e nunca total libertação) de seu lado imanente. As pessoas que por ali passavam, uma após a outra, eram devoradas pelo monstro. As pessoas representam o lado mais universal do homem, que será destruído se ele não aperfeiçoar o conhecimento e decifrar os enigmas e os códigos de sua mente primitiva.
A psicanálise clássica enuncia que há sempre uma repressão de impulsos pulsionais. Tanto a pulsão sexual quanto a pulsão da agressividade têm de ficar reprimidas. Tudo isso a serviço de um ideal de ego. A sublimação é vista como um mecanismo de troca de objetivo sexual original por outro, muitas vezes de valor socialmente mais elevado, considerado mais nobre. A constituição inata de cada um determinaria o quanto este indivíduo poderá sublimar (sublimar é um dos destinos da pulsão, talvez o mais criativo). Em meu modo de pensar, a repressão não é só de impulsos pulsionais, que ofenderiam o ideal do ego e daí a necessidade de repressão. Há, concomitantemente, a repressão de necessidades mais universais, que já existem em potencial e ainda não foram desenvolvidas. A consciência prematura da destruição dessas necessidades mais universais poderia desencadear sentimentos de culpa com profundas necessidades de autodestruição, uma vez que perdoar é uma das funções do amor, que pode ainda não estar desenvolvido.
A verdade é que, nas mais profundas entranhas do ser humano, estão valores universais que necessitam ser desenvolvidos, como é o caso, por exemplo, da difícil tarefa do respeito aos direitos humanos, à ecologia do planeta e ao ecumenismo religioso.
De qualquer forma, agradeço ao Daniel que me faz olhar para outros aspectos como os propostos por Pierre Boudieu e Casti que darei uma olhada.
Um forte abraço a todos.
Oi Rogério,
Não, eu nem pensei que vc estava querendo me interpretar... e, se estivesse, também não teria problema nenhum! Minha brincadeira infeliz foi mais no contexto de uma turma de amigos, num bar, se divertindo, um pegando no pé do outro, brincando e rindo... quando um vira pro outro e diz, cutucando ele com o dedo: "Não fala isso senão vão pegar no meu pé!" :-)
É nessas horas que, de fato, sinto falta de estarmos ao vivo e em cores, pra nos divertirmos cara-a-cara -- mas, as oportunidades eletrônicas são as que nos permitem termos nos encontrado e estarmos juntos, então, por enquanto, está "de bom tamanho". ;-)
Agora, vc está coberto de razão: O ser humano mal consegue lidar com seus valores universais mal desenvolvidos, imagina lidar com a coletividade, com a comunidade, com toda uma sociedade?! Realmente, não poderíamos esperar nada muito melhor do que a atual conjuntura da condição humana. :-(
Porém, as dicas que eu dei (Bourdieu e Casti) não passam, apenas, de outros métodos e técnicas de se olhar para essa mesma "condição humana" -- de outros ângulos, com outros prismas, mas certamente atacando o mesmo problema.
Infelizmente, pra mim, às vezes um charuto, de fato, é só um charuto... o que empobrece todos os trocadilhos estúpidos que minha mente faz por unidade de tempo! ;-)
Um abração, []'s!
Mente que mente,
não mente e mente da gente!
Insiste somente,
contente, presente.
Mas não mente a mente da gente!
Corrente...
Esta sim, nos pega
para além do dormente...
corrente,
torpecente,
dormente.
Não dá, só tem um jeito,
Vamos tomar uma aguardente!
Uma pergunta para o Rogério. Eu sempre entendi que o principal fator de sucesso da raça humana foi o fato de ser gregária.
No entanto, ao que tudo indica, esse fator gregário-solidário está cada vez mais enfraquecido. Em outras palavras, o individualismo parece ter tomado a dianteira.
Poemos estar a braços com um problema cuja escala torne mandatório um retorno ao gregarismo. Em termos da psicologia isso é possível?
n ão entendi.
caraca, eu só entrei aqui pra poder estudar a relação das teorias de Gauge com o nicho ecológico, mas eu to muito mais perdida socorro
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