31 dezembro, 2006

A PALAVRA

A palavra fala,

Sozinha, acompanhada,

comanda, manda, demanda...

.

Sublinhada empolga,

inclinada declina.

Clínica, clinica.

Cria idéias,

cria assunto.

.

Causo.

Causo de vida,

caso de amor,

vida de festa, sonho perdido.

Vida vazia!

.

É no discurso

da grande fala

que a fala se cala.

.

Sem nome e sem corpo.

Silencia na voz,

silencia no afeto,

silencia na dor.

Aih! como dói!

.

A palavra,

sempre ela

a palavra.

.

Pa-lavra.

.

Larva que queima,

pá que recolhe, acolhe...

Texto, testículo, prazer;

gozo, ferida, fenda, fruição.

.

A palavra,

sozinha, desacompanhada,

comanda, manda, demanda...

Nomeia, corporifica.

Re-signi-fica.


Como disse o Anselmo, a Roda tem que girar. Aceitar um texto pelo seu prazer e não cerceá-lo em demasia com códigos de conduta também precisa ser levado em consideração.

Prometi reescrever de forma simples, e aí está. A poesia é um bom recurso. Aqui se fala mais, com o mínimo de palavras. É óbvio que não vou explicar o escrito. É como na piada, se você explica, ela perde o sentido. Quem não entender, que não se desespere, espero. Repetindo o Anselmo: “Viva e deixe a língua viver, mesmo que a principio não haja tantos significados.”.

Tentando responder o Osame se é desejável uma tradução conceitual da Psicanálise, sem o uso do jargão, não acredito que ela seja, por definição, intraduzível, mas nós também temos problemas. Em nosso meio, muitas vezes, o psicanalês, o lacanês e/ou outro (ês) irrompem trazendo dificuldades. Outras vezes a questão é institucional e a visibilidade da psicanálise se perde em nome deste ou daquele discípulo(?) de Freud, deste ou daquele conceito. O próprio Lacan disse, certa vez, cabe a vocês serem lacanianos, quanto a mim, eu sou freudiano.

Como eu sou um pouco kantiano e o que me move é o entusiasmo, vou continuar escrevendo.

Feliz 2007 para todos.

14 comentários:

Kynismós! disse...

Melhorou!

Quanto aos significados, parafraseando Poincaré: "A ciência é feita de fatos, da mesma forma que uma casa é feita de tijolos e os textos são constituídos de palavras. Contudo, um agrupamento de fatos não constitui ciência, da mesma forma que um monte de tijolos não é uma casa e um punhado de palavras não necessariamente compõe um texto."

Lacan... blagh.

Rogério Silva disse...

Num punhado de palavras, dificilmente haverá prazer, num texto isto é possível.

Lacan... blagh, mas ele existiu...

Osame Kinouchi disse...

Maria, quem é o mantenedor principal do blog? Estava precisando usar permalinks para citação no SEMCIÊNCIA, mas não tem permalinks aqui!

Silvia Cléa disse...

Oi, Osame!

Onde está "Wally"??? heheheheh...
Vou te perdoar só porque hj é o glorioso dia da ressaca, ok?
Mas, façamos o seguinte: que tal vc procurar algo 'parecido', vulgo "ícone"???? ;0)))))
Tenho umas 'receitinhas caseiras para te passar, caso a dor de cabeça esteja, hummmm, te atrapalhando...'
bjos

Maria Guimarães disse...

rogério, delicioso.
um belo exemplo de escrever simples, com prazer, com beleza - sobre algo não simples!
uma vez vi um documentário sobre lacan e não entendi nadinha do que aquele pessoal dizia! mas já li ensaios deliciosos sobre psicanálise, justamente por engrandecer a gente com reflexões novas através de um texto convidativo para leigos.

ei osame, o que são permalinks?

Silvia Cléa disse...

Oi, Maria!

uauauaauauaua....caiu na armadilha!!!!!! ;0)))))
afinal, a conversa aqui não era sobre procurar no dicionário as palavras que não conhecêssemos??????????????????

Rogério Silva disse...

Oi maria
Participo da mesma dificuldade. O lacanês é terrível e excludente. Só a "turma" entende, mas Freud foi mais delicado quando escreveu "A questão da analise leiga". O propósito era demonstrar que a psicanálise poderia ser exercida por qualquer profissional que tivesse se instruído para tanto, saindo na defesa de Theodor Reik que não era médico. No texto ele cria um interlocutor para diálogo e ganha o premio Goethe de Literatura. Recomendo a quem quiser se deliciar.

Maria Guimarães disse...

"permalink" não está no Houaiss. nem no Merriam-Webster. não tenho dicionário de termos cibernéticos e nem vou procurar (pura rabugice minha, mas não tenho menor interesse em me aprofundar nesse idioma).
rogério, valeu a dica. "A questão da análise leiga" é livro ou ensaio? existe em português ou é melhor procurar em outra língua (não leio alemão, mas sei que tem traduções bem melhores do que outras)? não li muito do freud, mas o pouco que li é bom exemplo de escrever simples sobre coisas complexas.

Maria Guimarães disse...

ah, descobri o que são permalinks! tem sim. é só apertar na hora, que aparece no pé do texto.
(obrigada, joão)

Rogério Silva disse...

Maria
Há uma versão em português das Obras Completas de Freud no vol. XX. A tradução tem uns vícios, foi traduzida do alemão para o inglês e do inglês para o português, mas não atrapalha muito. Mando para o seu e-mail uma cópia da edição eletrônica que só não tem nota de roda-pé.
abs rogerio

Maria Guimarães disse...

Muito agradecida. Lerei com gosto.

Silvia Cléa disse...

Oi, Maria!

Não era para vc ficar chateada, eu só estava fazendo um chiste...
É que eu achei que o Osame estava sendo preguiçoso, só isso...
E como o tema em voga dizia respeito aos dicionários, achei que fosse prática corriqueira de todos os usuários se utlizarem de buscadores, como o Google ou mesmo a Wikipedia para resolver tais assuntos...nada de rabugices, só uma questão de sobrevivência cibernética (eu, pelo menos tenho...pois, padeço com cada uma, vc nem imagina!).
Em todo caso, peço perdão a todos, talvez não tenha sido adequado...

Maria Guimarães disse...

imagina, não fiquei nem de longe chateada!

Silvia Cléa disse...

;0))