12 setembro, 2008

Peleja entre los hermanos

Bolívia e o gás

Ia escrever sobre o gás que importamos da Bolívia, mas essa história é um pé no saco. Vou colocar apenas algumas notas. Publiquei uma matéria em 2006, leia aqui, que continua muito atual. "Eventualmente, em uma remota situação de corte do suprimento de gás, alguns consumidores terão problema momentâneo de adaptar-se para outro energético, mas tudo se superará em menos de seis meses", disse, na época, um representante da Petrobrás.

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9 comentários:

Osame Kinouchi disse...

Isis e João,

O grande problema é que Nutrição talvez nunca venha a ser uma (hard) science, ou seja, o sistema é tão complexo, envolvendo aspectos nutricionais, bioquimicos, ecologicos, economicos etc que, como a metereologia e a ecologia, não permitem previsões ou conclusoes seguras.

Assim, eu imagino que seja impossivel prever o que acontecerá se o Brasil começar a criar algum tipo de peixe em fazendas aquaticas, especialmente se o tal peixe não for originário do sistema ecologico brasileiro. Mas tenho certeza que um novo tipo de peixe (por exemplo, a carpa) afeta bem mais a nutrição brasileira (por exemplo, peixes grandes como a dourada e o cação acumulam elementos pesados tipo mercúrio etc) e também afeta de modo mais dramatico os ecossistemas do que berinjela transgenica.

Deixei uma copia deste comentário na Roda.

Isis Nóbile Diniz disse...

Osame,

Exatamente. O transgênico pode sim trazer conseqüências negativas - tanto para a saúde humana, quanto para o meio ambiente. Entretanto, pode ser positivo por exigir menor uso de pesticida, fazendo bem à saúde por algum motivo - as pesquisas são recentes -, entre outros. Também não podemos ser radicais.

Charles Morphy D. Santos disse...

Olá, Isis!

Um dos grandes problemas da tecnologia subjacente aos transgênicos é sua "propaganda enganosa": o discurso que coloca os OGM (organismos geneticamente modificados) como a arma definitiva contra a fome e a desnutrição é simplesmente hipócrita. A produção de alimentos hoje no planeta é suficiente para alimentar mais de 2X toda a população mundial (há um pequeno livro da coleção Folha, do Marcelo Leite, que discute um pouco o problema; outro livro interessante é um recém-saído do forno, do prof. Fernando Zucoloto, da USP-RP, entitulado "Porque comemos o que comemos").
Além disso, há a questão evolutiva: os mamíferos têm mais de 150 milhões de anos de história. Nossa espécie, talvez um pouco além de 1 milhão de anos. Por todo esse tempo, houve um processo de co-evolução entre "os que comem e o que são comidos" (em um sentido bem generalista). Os OGM são recentes demais e não passaram por esse crivo da seleção natural.
O argumento de menos pesticidas também não se sustenta pois esbarra na mesma realidade sócio-econômico exposta acima: existem inúmeras alternativas para a redução (ou mesmo ausência completa) de pesticidas na agricultura - alimentos "orgânicos", por exemplo. O que dificulta a disseminação dessas alternativas têm pouco a ver com a sua viabilidade econômica...

Anônimo disse...

Ah sim Charles, com relação à "falta de alimentos" concordo plenamente. Aos outros, não acredito que devemos descartar de vez a idéia dos transgênicos - muito menos que eles devam substituir todos os outros tipos de cultura. Apenas é interessante - aliás, principalmente, creio eu, por razões economicas. E, com estas não concordo.

Charles Morphy D. Santos disse...

As tais questões econômicas são mesmo importantes...
Só para levantar a discussão: em que os alimentos transgênicos poderiam ser vantajosos nesse ponto? Eles seriam mais baratos? Não acredito - não há altruísmo nenhum nas grandes empresas que nos faça pensar que tal coisa é factível.
Se a idéia é mesmo a de acabar com a fome no mundo ou pelo menos diminuí-la, por que não começar reduzindo as margens de lucro dos conglomerados internacionais de produtos alimentícios? Isso levaria à redução dos preços e à possibilidade da população de menor renda ter acesso à alimentos de maior qualidade.
Pode-se falar que arroz modificado, digamos, "melhorado" com a inserção de betacaroteno, seria mais barato que comprar arroz e cenouras. Talvez isso seja verdade - eu particularmente não acho - mas há uma grande diferença entre ingerir arroz + cenouras e ingerir arroz com betacaroteno... os OGM não apenas seriam prejudiciais como também estariam naquela faixa da "propaganda enganosa" que eu disse antes: compre 1, leve 2 (quando, na verdade, o correto seria algo como compre 1, leve 0,8 e corra riscos desnecessários).
A meu ver, a defesa dos transgênicos carece de bons argumentos assim como a defesa estrita das religiões - não há evidências, ficamos sempre no "pode ser interessante", "pode ser bom", "vai ajudar" enquanto os problemas de fato não são encarados de frente...

Osame Kinouchi disse...

Acho que a questão toda tem um tom filosofico: existem aqueles que acham que a Razão pode nos dar controle suficiente sobre a Natureza de modo que as modificações tecnologicas sejam manejaveis, vantajosas, ou pelo menos suportaveis (Iluministas). E existem aqueles que confiam mais na Tradição, na experiencia histórica acumulada, na coevolução milenar (seja biologica, seja cultural). Esses são os Conservadores.

No processo social, os Iluministas produzem mutações, nem sempre boas - na verdade a maior parte não é boa, vide as revoluções esquerdistas iluministas. Mas sem eles, o processo fica parado. Já os conservadores são responsáveis pela inércia social, que tanto pode preservar um status quo opressor quanto preservar as coisas boas (nos ecossistemas naturais e artificiais). Os conservadores fazem o papel de forças seletivas.

Assim, temos mutação (muitas vezes cega, dos iluministas, engenheiros e cientistas) e seleção (das forças tradicionalistas, da crítica romantica, seja de esquerda seja de direita).

O Darwinismo Universal de Dennet diria que as duas forças são necessarias para um processo evolutivo saudável... Ou seja, na questão da Ciência e Tecnologia, talvez seja melhor não sermos 8 nem 80.

Observo que Charles parece ser um conservador romantico (pelo menos no caso da critica ecologica).

Charles Morphy D. Santos disse...

Caro Osame,

Hummm... não sou muito afeito a dicotomias. Como você mesmo disse, talvez seja melhor não sermos nem 8 nem 80.
Da forma como você colocou, parece que não há possibilidade de os próprios iluministas fazerem o papel de forças seletivas. Não concordo. Não acho que as coisas possam ser colocadas nesses termos - isso me parece uma interpretação um pouco limitada da história. Tradição e coevolução milenar não são compatíveis, especialmente porque coevolução significa mudança (!) em conjunto...
Como diria Carl Sagan, a ciência é a melhor ferramenta disponível para explicar a realidade. No entanto, precisamos também pensar nas conseqüências do que fazemos.
Sou favorárel às "mutações"! Se não o fosse, teria que ser crítico ao uso do fogo (muda as propriedades dos alimentos e nenhum outro animal o utiliza), da agricultura, da energia nuclear, dos computadores, da internet...
Mas, no caso dos transgênicos, a argumentação não convence - na verdade, ela é dúbia e lacunosa. Os organismos geneticamente modificados são importantíssimos na nossa sociedade atual - basta lembrar, por exemplo, da produção de insulina por bactérias geneticamente modificadas. Há, no entanto, uma grande distância entre o que se apregoa e o real signficado das coisas no caso dos alimentos transgênicos.
A razão não só pode nos dar um controle suficiente da Natureza, como ela é a ÚNICA coisa capaz disso. Como você mesmo disse, tradições se baseiam na história acumulada e não em repetíveis, observações ou experimentos. No caso dos transgênicos, o que tem faltado é exatamente o uso dessa razão, ainda mais quando o assunto é apresentado para o grande público, no geral leigo. Tudo fica parecendo uma luta entre os cientistas que querem acabar com a fome versus os ambientalistas "conservadores românticos".
Há uma série de casos relatados de problemas com os OGMs - o livro do Marcelo Leite que citei anteriormente traz alguns - e muitos deles nunca mereceram um contraponto das empresas que os produzem.
E fica a pergunta: se não há riscos, se a tecnologia veio para ajudar, qual o problema em colocar um rótulo "T" nos produtos geneticamente modificados? Por que não tentar esclarecer a população com argumentos sólidos e não com promessas de campanha política?

Maria Guimarães disse...

os alimentos são geneticamente modificados desde a domesticação das plantas e dos animais para alimento. vamos ter que pôr um T em muita coisa...

Charles Morphy D. Santos disse...

Sim, Maria. Você está certa. Por isso escrevi lá no blog "(...) claro que os organismos geneticamente modificados (o correto seria organismos artificialmente modificados via manipulação genética - a evolução é um longo processo de modificação genética dos organismos...)". E, como você disse, o processo de seleção artificial obviamente também leva à alterações genéticas dos organismos.