Discussões a respeito de avanços tecnológicos sempre tendem a polarização: alguns defendendo as descobertas e novidades científicas e outros contrários a elas. Essa dicotomia é desnecessária e inocente. É uma interpretação por demais limitada da história da ciência.
Há um belo livro póstumo do astrônomo e divulgador da ciência Carl Sagan (uma referência constante aqui nesse blog) intitulado The Varieties of Scientific Experience, de 2006, que reúne uma série de palestras sobre o pensamento científico e os motivos que fazem dele a melhor ferramenta disponível para explicar a realidade. No entanto, como o próprio Sagan considera em muitos trechos (e isso se repete em outros de seus livros, por exemplo, no Bilhões e Bilhões), aos cientistas cabe também vislumbrar as conseqüências do que fazem e à população restante cobrar por explicações. Isso não é conservadorismo ou romantismo exacerbado - é apenas uma postura responsável.
Há um belo livro póstumo do astrônomo e divulgador da ciência Carl Sagan (uma referência constante aqui nesse blog) intitulado The Varieties of Scientific Experience, de 2006, que reúne uma série de palestras sobre o pensamento científico e os motivos que fazem dele a melhor ferramenta disponível para explicar a realidade. No entanto, como o próprio Sagan considera em muitos trechos (e isso se repete em outros de seus livros, por exemplo, no Bilhões e Bilhões), aos cientistas cabe também vislumbrar as conseqüências do que fazem e à população restante cobrar por explicações. Isso não é conservadorismo ou romantismo exacerbado - é apenas uma postura responsável.
Leia a continuação desse texto no blog "Um longo argumento".
3 comentários:
De certa forma, estamos repetindo o tema do "Papel do Cientista nas Decisões Éticas"... E estamos esquecendo (novamente) de que nem "ciência", nem "tecnologia" são coisas "éticas". O emprego destas é que pode ser ou não ético.
Meu post sobre o tema demorou mais tempo do que eu tencionava, e - como tudo que é feito às carreiras - acabou ficando "manco"...
Em resumo: as tecnologias são direcionadas a resolver problemas específicos e sempre precedem o estudo científico. No caso particular dos trasngênicos, a resposta que se procurava era: vegetais com maior rendimento por área plantada e com menores custos para cultivo. As demais implicações (impacto ambiental, possíveis efeitos colaterais sobre o organismo humano e até mesmo a exaustão da terra de cultivo) foram solenemente ignorados, em favor de uma resposta imediata.
Outras abordagens bem mais "socialmente desejáveis", tais como uma maior eficiência nos processos de plantio, colheita, transporte, armazenamento e distribuição (sem contar com toda a infraestrutura financeira envolvida), foram relegadas a segundo plano, porque demandam mais tempo, recursos e planejamento sério (ou seja: mais de um mandato eletivo) para serem equacionadas e outro tanto para serem implementadas.
Sagan deu uma séria mancada quando inseriu em sua argumentação a "democracia". Como já disseram outros, para um homem faminto, "liberdade" é um prato cheio de comida: não tem nada a ver com uma representação política e, de preferência, deixe isso para lá... Isso exige muito "estudo" e a vida já é suficientemente difícil para ficar se importando com essas coisas de "gente sabida"...
Quando e se fosse possível "nivelar por cima" a educação de um povo, a representatividade democrática teria um papel relevante. Mas o fato é que Zé Povinho está muito contente com seu telefone celular e não está nem aí para a poluição que as baterias que seu celular podem causar, contanto que ele possa falar com a Titia Marocas lá onde Judas-perdeu-as-botas...
A "recompensa imediata" das novas tecnologias suprem - com folgas - a falta de "ciência" sobre todos os efeitos a médio e longo prazo das mesmas.
Mesmo porque, a longo prazo, nenhum de nós estará aqui para sofrer essas conseqüências e, se no século XIX, soubessem (aliás, já sabiam...) do efeito estufa causado pela queima de combustíveis fósseis, a escolha por usá-los teria sido a mesma.
Mas esse prato sobre o imediatismo e inconseqüência é um terreno mais adequado ao Rogério. Talvez "Freud explique"...
arroz com betacaroteno, credo... faz pensar no livro do michael pollan, que advoga que se deve comer comida. saiu uma entrevista na folha, acho que no fim de semana retrasado.
A entrevista com o Michael Pollan saiu no último domingo (21/09)... achei interessante ele dizer "não coma nada que sua avó não diria que é comida"...
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