23 agosto, 2008

Post de Convidado: O Planeta pede um copo d'água

A pedido do Osame, Ricardo Reale enviou um post (trasncrito abaixo) para contribuir com a discussão do tema atual.

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O planeta pede um copo d'água

Escrever um texto é sempre gratificante, principalmente quando ele parte de uma pergunta, que nós desejamos responder. O blog Roda da Ciência me propôs um desafio. Responder em um texto se o desenvolvimento sustentável é possível. A maneira mais simples de responder a esta pergunta é com um sim ou um não, seguidos de uma explicação, entretanto o problema não é tão trivial... A melhor resposta que encontrei procurando responder-me se o desenvolvimento sustentável é possível foi, pasmem, outra pergunta. Nós queremos realmente o desenvolvimento sustentável? Antes de falar sobre isso voltemos ao sim ou não..

A primeira resposta que dou ao leitor é sim. A sociedade sustentável é possível. É uma utopia - a nova utopia diga-se de passagem, mas alcançável. Uma nova consciência está se formando, novas tecnologias limpas ganham terreno a cada dia e todos concordam que uma biosfera saudável é a grande meta civilizatória da sociedade mundial. É, portanto, uma questão de tempo até atingirmos essa condição.

A segunda resposta é não. Não porque a sociedade ainda está baseada no petróleo e na produção em série. É impossível construir uma civilização sustentável em uma natureza orgânica (biosfera) produzindo em série. Isso porque ao se produzir em série é preciso que se consuma em série, e ambos, consumo e produção em larga escala devastam a natureza de forma exponencial. A história dos últimos séculos é a prova cabal do que estou dizendo.

A pergunta que eu encontrei como resposta para indagação "O desenvolvimento sustentável é possível?", foi "Nós queremos realmente o desenvolvimento sustentável?". É direta e vai mexer na ferida do problema. Será que os bancos que fazem propagandas sobre a sustentabilidade querem que se consuma menos? Porque é uma infantilidade intelectual dizer que desenvolvimento (diga-se crescimento econômico de produtos materiais) pode combinar com desenvolvimento sustentável. Será que a elite econômica, industrial, comercial, midiática não percebe que hoje o discurso ambiental é uma grande hipocrisia? Por exemplo, um publicitário que faz uma campanha verde para uma indústria química e viaja 1.000km de avião toda semana para fazer uma reunião com a diretoria comercial da dita empresa. Ora, viajar de avião para conversar a 1000km de distância não é nada ambiental. Menos ainda fabricar detergentes, sabão em pó... Não quero só atirar pedras, até porque eu compro detergente e sabão em pó, mas me sinto um verme quando não tenho opção de um produto biodegradável que eu possa comprar. Faltam leis. Leis que contrariem a curto prazo os interesses políticos e econômicos.

Você já parou para pensar o quanto é absurdo tomar um copo de água descartável? Para quatro goles de água que vem de fontes de longe, quanto plástico, alumínio, energia, CO2... Claro que é possível viver uma vida frugal, simples, em contato com a natureza, cultivando a terra, sem carro, trabalhando com atividades de baixo impacto ambiental, enfim, uma eco-vila, futurista e ligada à Internet... Isso é possível, mas será que é isso que o povo quer?

Ricardo Raele

Para ler meu blog:www.ricardoraele.blogspot.com

2 comentários:

Natália disse...

Concordo plenamente. Mas fica outra questão:
Até quando querer ou não querer o desenvolvimento sustentável será uma opção?

João Carlos disse...

(Desculpe o atraso...) Não se trata de "não querer"... Trata-se de "não dispor dos meios e do tempo". Mas, pelo andar da carruagem, você está certa... Está sobrando menos tempo para o meio ambiente "ir à forra" do que para promover o "desenvolvimento".

De uma forma ou de outra, a população mundial vai ter que encolher... (o H5N1 parecia um bom candidato, mas...)