12 maio, 2007

O Cérebro de todos

Nada mais propício do que se socorrer com uma matéria sobre um anatomista do séc. XIX, que, ao estudar cérebros humanos, ultrapassou barreiras impostas pelo gênero e pela cor da pele...leia mais aqui.
Os comentários, por favor, devem ser deixados neste blog também, ok? Boa leitura!

11 comentários:

Maria Guimarães disse...

o artigo é interessante, fiquei fascinada em imaginar alguém naquela época procurando provar a igualdade entre as raças. admirável mesmo.

mas de lá para cá o conhecimento científico mudou muito, e já não acho muito informativo saber que o cérebro de um negro tem volume parecido com o de um branco e diferente de um orangotango. isso já sabemos, inclusive pela genética de populações - o genoma de um negro também é mais parecido com o de um branco do que de um orangotango. isso é caricaturizar a conversa!

continuo achando que as diferenças são mais interessantes - e mais úteis - do que as semelhanças. levar em conta que asiáticos têm maior chance do que europeus de ter deficiência em enzima para digerir álcool é muito mais útil (para os próprios asiáticos) do que entrar em discussões sociais - que são de outro âmbito.

quanto mais penso sobre essa negação politicamente correta das raças, mas fico chocada com ela. tudo bem descrever uma pessoa como loura ou morena, de olho azul ou castanho, bióloga ou médica, por aí vai. o que não pega bem é usar descrições pejorativas: feio ou bonito, esbelto ou obeso, cheiroso ou fedorento. negro ou branco entra aí também, para muita gente. para mim não, e me recuso a aceitar essa cultura. ser branco é tão bom quanto ser negro, do ponto de vista biológico. posso estar sendo radical, mas a meu ver quem atribui valor diferente às raças a ponto de ter medo de enxergá-las é que é racista.

Silvia Cléa disse...

Pois é, Maria, aprendi algumas coisinhas pela vida, uma delas, foi que, em um debate público, devemos sempre pensar no conhecimento médio do internauta (para poder informar e não espantar o público das discussões). Assim sendo, não acredito que chamar atenção a dados históricos seja "caricaturizar a conversa" e muito menos, informar as descobertas do anatomista em questão (em pleno séc. XIX) seja banalização de informação (como se fossem dados mais do que sabidos).
Acho importante sim dar ênfase nas igualdades. Afinal, muito do conceito de raça, além de cultural, quando se o quer defender, utliza-se somente um dos sentidos: a visão!
Experimente, por um secundo, fechar os olhos e pensar na diferença fenotípica que salientou, é capaz de percebê-la? Ah, o tato, sim, saberia identificar, por exemplo as diferenças das texturas do cabelo...somente em sujeitos muito díspares e "você" tendo um tato especialmente desenvolvido; caso contrário, é muito provável que a maioria das respostas fossem erradas.
A propósito, a deficiência enzimática presente em orientais não é uma questão que pode se dizer assim categoricamente: exclusivamente genética! Há muitos estudos, há muitos anos, que já relatam seus hábitos tanto alimentares quanto comportamentais (eles têm um tipo específico de dependência que chega a ser idiossincrático!)
Enfim, é por isso que citei o artigo do Pena, porque é importante tb alertar que: "A journey of a thousand miles begins with a single step" (Lao-tzu, 604 aC-531aC); no meu entender, o anatomista Tiedemann deu esse passo!

Maria Guimarães disse...

concordo, e concordo também com o valor da história. mas continuo achando que hoje temos que dar outros passos - os seguintes a esse que o tiedemann deu.

João Alexandrino disse...

Discordo, se me permitem! Neste caso particular, penso que a história embaça a razão. A fixação histórica com a craniometria apenas revela a ignorância sobre o que é ser humano entre humanos, por oposição a o que é ser humano entre símios. Antes de tudo, é um problema de escalas de observação e de variação. Depois, pôr a hipótese de que o que nos diferencia dos outros símios seria o mesmo que nos diferencia de outros humanos equivale a aceitar que existe uma direção na evolução, um objetivo, primeiro o homem, depois o homem superior... Ufa, que felizardos somos por não vivermos naquela época!

Convido os participantes deste blog para um exercício: pensarem em raça humana apenas do ponto de vista biológico. Aqui reside a clarificação do problema. E aí talvez percebam que a construção social das raças humanas resulta de uma adulteração abusiva e enganadora da sua realidade biológica. Assim, a questão tem de ser posta ao contrário:

- quando vamos deixar de nos esconder por detrás da nossa herança biológica para justificar as nossas construções sociais?

- quando vamos deixar de distorcer (para um lado ou para o outro) a realidade biológica para justificar as nossas construções sociais?

- o facto de existirem raças não implica uma ética discriminatória, ou implica? se sim, então é contra essa nossa incipiente humanidade que temos de lutar, não contra a eventual distinção, com base biológica, de raças humanas!

E isto apesar do que alguns geneticistas filantropos apregoam. Aqui sim, é útil a contextualização histórica para não esquecer que o maior pecado do cientista é o da filantropia.

Abs.

Silvia Cléa disse...

Oi, João Alexandrino!

"...penso que a história embaça a razão".
São poucas as coisas, neste mundo, que me deixam pasma. Você foi objeto de uma delas. Me calou profundo, portanto.
Quanto ao restante do parágrafo, quem falou em fixação histórica????


Maria

Claro que é importante salientar os demais aspectos, mas como somos muitos a falar sobre um mesmo assunto, falamos um pouco de cada, não é? E, mesmo assim ele se torna inesgotável! ;o)))

Maria Guimarães disse...

ufa, joão, finalmente alguém com quem concordo!
já estava começando a pensar que há algo de errado com meu cérebro (será menor que o dos outros?)...

João Alexandrino disse...

Silvia,
a minha afirmação foi feita neste contexto particular, de esquecer a história do "conceito" de raça humana e sua aplicação prática para conseguir uma reflexão sobre a sua realidade biológica, livre dos bolores e "confusões" da história.

A ciência só faz sentido se for livre de dogma, baseada na observação dos fenómenos, naturais ou experimentais, à luz de conceitos determinados. E aqui sim, como afirmei no último parágrafo, é útil ter em consideração a história para aprender os perigos de misturar ciência natural e ética e/ou ideologia. A sua separação deveria ser o objetivo primeiro de qualquer cientista.

Mas não percebi se a admiração com a minha afirmação foi positiva ou negativa, uma vez que ela não foi expressa de forma argumentativa.

Abs.

João Carlos disse...

Gostei, João Alexandrino!

Principalmente deste trecho: - o facto de existirem raças não implica uma ética discriminatória, ou implica? se sim, então é contra essa nossa incipiente humanidade que temos de lutar, não contra a eventual distinção, com base biológica, de raças humanas!

As diferenças biológicas são patentes e, fingir que elas não existem - em nome do "politicamente correto" - é um absurdo.

A mim, me é profundamente indiferente se se pode caracterizar os tipos caucasóide, negróide e mongolóide como "raças", e suas miscigenações como "mestiços". Os argumentos vão e vêm, mas não há - que eu saiba - qualquer indício de que essas "raças" tenham tido origem em "evoluções" de primatas diferentes.

As distinções patentes (tais como a melanina na pele, a predominância de um determinado tipo sanguíneo em uma região, o formato e cor dos olhos) me parecem uma forma muito simplista para rotular culturas diferentes.

Como todos vocês cientistas hão de concordar, os problemas não residem nos dados científicos, mas na maneira pela qual são usados.

Maria Guimarães disse...

joão carlos, que bom que você apareceu!
só discordo levemente de você. há indícios de seleção natural para a evolução de cor da pele e outras características que distinguem raças (ou etnias, ou sei lá como queiram chamar).
reunir essas características e cultura num mesmo bolo é de fato simplista, mas a cultura - apesar de não ser genética - também evolui em resposta ao meio ambiente. então há sim algo de biológico - tanto na cor da pele como na cultura.
e você concluiu muito bem! o problema está na dificuldade absoluta em separar os dados da maneira como são usados. você vê isso pelo rumo predominante da discussão neste blogue.

João Carlos disse...

Salve, Maria!

Por suposto a seleção natural nas características físicas (quer prova maior do que a predisposição dos negróides da Costa dos Escravos para a Anemia Falciforme? Lá, a AF é boa para a sobrevivência: resistência à malária, dengue, etc).

Já as culturas, são moldadas pelo meio ambiente, sim, mas de forma diferente. O Daniel chamaria isso de "propriedade emergente" - daquelas que não se manifestam, necessariamente, em um indivíduo; mas no conjunto (tomado como uma unidade) sempre se manifestam.

A "Síndrome de Sarkozi" (que acometeu a França recentemente) é uma doença em vias de extinção. O encolhimento das populações européias "nativas" (se é que isso ainda tem algum sentido, já que, se há algum lugar onde falar de "pureza étnica" é um absurdo, a Europa é esse lugar - estão aí nossos colegas portugueses que não me deixam mentir - mesmo que seja uma miscigenação apenas de etnias caucasóides)... mas eu dizia, o encolhimento da "população nativa" e a atual onda de refluxo de "oriundi" (todos devidamente miscigenados), vão deixar Sarkozi e suas seqüelas "pendurados na broxa"...

É simplesmente lindo ver a quantidade de atletas negros presentes em todas as modalidades esportivas nas equipes européias (ou até mesmo o negríssimo Hamilton britânico pilotando magistralmente um Fórmula 1). Quem diria?!...

Por outro lado, da mesma forma que os Celacantos não estão extintos (embora já não provoquem maremoto...), diversos raciocínios eurocêntricos ainda vão fazer suas aparições. Fazer o que?... O Império Romano ainda subexiste: o "Imperador" (com o título ligeiramente modificado) foi efusivamente saudado em São Paulo, recentemente...

Maria Guimarães disse...

não resisti à deixa esportiva: é engraçado que negros são ainda pouco representados na natação. terá a ver com constituição física inerente? não me parece ligado a poder aquisitivo, porque negros são bons corredores. é preciso pouco recurso para correr, mas um par de tênis razoável ajuda bem. para nadar, desde que a pessoa more perto dalgum corpo d'água digno de nota, uma cueca está de bom tamanho.