29 maio, 2007

Daiane dos Santos e Neguinho da Beija-Flor são europeus


A BBC Brasil encomendou ao geneticista Sérgio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, o perfil genético de nove negros famosos. Os resultados integram o especial Raízes afro-brasileiras. Vale a pena conferir o site, que aos poucos divulga os resultados - ontem foi a Daiane dos Santos, hoje Neguinho da Beija-Flor - além de vários textos relevantes a esta discussão. Tem até um fórum para discutir se faz sentido falar em raça no Brasil. Ainda não tive tempo de olhar os comentários, mas há pouquinho tinha mais de cem.

9 comentários:

Anônimo disse...

Penso que o mais correto é não falarmos em raça nenhuma. Parece que entre os humanos as diferenças são culturais, referentes a cor da pele, e características fenotípicas acidentais, como tamanho dos lábios, cumprimento das pernas e tipos de nariz. Julgo que a forma contemporânea do racismo, sim essas formas se atualizam, consiste na admissão de que podemos distinguir os homens em raças. E se a ciência nos mostrar que as diferenças genéticas são suficientes para que possamos falar em raças? Talvez, nesse momento, a moral deva nos lembrar de Auschwitz. A conseqüência de algumas idéias pode servir para que possamos optar por algumas idéias em detrimento de outras.

Maria Guimarães disse...

cesar,
as características fenotípicas não são acidentais. tem origem genética. se o milton nascimento e a daiane dos santos tivessem um filho, talvez ele saísse com a pele mais clara que ambos, afinal ela tem bastante ancestralidade européia. ou talvez não, tivesse traços mais para africanos. aí sim entra algo de acaso, na segregação dos genes. mas não é acidental.

se tem uma coisa que eu queria ter entendido com a discussão desse mês, e nisso fiquei frustrada, é o seguinte: por que você (e a maior parte das pessoas) acha que diferenças biológicas entre as pessoas justificam discriminação, genocídio, ódio etc.??????? não justifica nada!

para mim, apreciar as diferenças biológicas é justamente isso: apreciar. as pessoas são diversas, muito dessa diversidade é biológica e ainda bem! torna o mundo mais bonito e mais interessante.

Anônimo disse...

"Acidentais" eu uso no sentido filosófico do termo. Não é essencial ou substancial que João seja branco e Maria seja negra. A humanidade que se encontra em João e em Maria identifica João e Maria. A cor de João e Maria é um acidente, porque ainda que João e Maria sejam diferentes, não perdem a identidade. Agora, a perplexidade dos filósofos morais é tão contundente quanto a perplexidade dos cientistas. Por que insistirmos em conceitos como o de Raça? Será que a ciência, certa ciência, não percebe que os conceitos possuem relação com a vida social e com os predicados morais? De certa forma é relevante para a história e para a vida política o enunciado: "João é de raça diferente de Maria". Por que relevante? Porque invoca uma série de eventos onde o conceito "Raça" foi utilizado para a determinação de juízos sobre a natureza humana. Para um cientista, certo tipo de cientista, admirar diferenças biológicas possui congraçamento plural. Contudo, as sociedades (espaço onde a ciência faz sentido) quanto expostas a diferenças biológicas invocam sentimentos morais que não são de congraçamento plural, mas de segregação, morte e perseguição. Poderia um cientista perguntar: - Vamos parar de usar um bom conceito em função dos preconceitos que ele desencadeia? A resposta de um filósofo moral: - Sim.

Maria Guimarães disse...

"Será que a ciência, certa ciência, não percebe que os conceitos possuem relação com a vida social e com os predicados morais?"
a ciência eu não sei, mas eu não percebo: por quê?
por que um conceito desencadeia preconceitos?
para mim a relevância de raças é descritiva. como dizer que joão é homem e maria é mulher, joão é português e maria brasileira, joão gosta de maçã e maria de ameixa etc. etc. quanto de descrições temos que abolir?
os exemplos surgiram ao acaso, mas agora olho de novo para ver quais deles evocam preconceitos. vamos ver... português, brasileiro, homem, mulher. para maçã e ameixa não me ocorrem preconceitos, então esses concentos podemos manter?

Anônimo disse...

Concordo que existe uma dimensão descritiva que é inafastável de qualquer juízo científico. Acredito inclusive que o conhecimento, de um modo geral, relaciona-se com a dimensão descritiva dos fenômenos. Nesse momento invoco um pouco de ceticismo. Como somos capazes de descrever algum fenômeno? Evidente que descrevemos em virtude de observações, classificações e experimentos. Mas como observações, classificações e experimentos podem ser entendidos? Parece-me claro que em virtude dos conceitos a que remetem. Assim, chegamos ao ponto que julgo fundamental. Existe algum juízo descritivo que consiga não possuir alguma dimensão prescritiva? Penso que de maneira geral não existem juízos descritivos que não se envolvam com uma determinada ordem de prescrição. Mas prescrever não é o problema, mas o tipo de prescrição. No caso da ameixa e da maçã, a dimensão prescritiva demonstra apenas a nossa curiosidade de estudarmos esses fenômenos; no caso no branco e do negro, a dimensão prescritiva demonstra uma curiosidade acerca da cores que os homens podem ter. Agora qual é a dimensão prescritiva do juízo descritivo no conceito de raça. De certa forma penso que a dimensão prescritiva que invoca enseja a curiosidade sobre como podemos ter características diferentes em função dos estímulos aos quais somos expostos há bastante tempo. Mas um elemento que não pode deixar de observar é que a dimensão prescritiva do conceito de Raça, na história, atende a valores menos louváveis do que a descrição da ciência. Como por exemplo, o anti-semitismo, o preconceito aos negros, aos asiáticos etc. Agora, o juízo prescritivo que faço como essa minha descrição é o seguinte: não conseguimos nos afastar de nossa história. A utilização do conceito de raça atualiza uma dimensão perniciosa da vida social que é o racismo. A proposição: existem raças entre os homens, para mim, é a forma mais contemporânea do racismo. Penso que é um juízo mais correto do que a afirmação: em função da perfeição descritiva não importa a história do conceito.

Maria Guimarães disse...

pois é. o problema é a história, é a utilização do conceito de raça de determinada maneira. não é a ciência, não é o conceito em si.
por que essas coisas aparecem sempre indistintas nos discursos, sejam eles simples ou rebuscados?

Maria Guimarães disse...

só para completar, pensando nos outros descritivos que levam a preconceito.
o conceito de mulher foi muito mal usado ao longo da história, e ainda é. opressão, proibição a opinião ou cidadania, violência, salários baixos, discriminações diversas.
já vim mulher que quer parecer homem para provar que vale tanto (ou mais) quanto qualquer homem.
mas as pessoas não costumam sugerir a abolição do conceito de gênero como realidade biológica.

Mauro Rebelo disse...

Olá, também tenho um blog de ciência e também escrevi um texto sobre as raças: http://vocequeebiologo.blogspot.com/2007/05/sangue-bom.html

Concordo com a Maria de que o problema é o uso que fazem da ciência e, desde Galileo, aprendemos que não é bom quando políticos (ou inquisitores) decidem quais são as verdades científicas. Lembrem-se que essa pesquisa é feita com marcadores genéticos: porções de DNA não codificante que podem ser utilizados para diferenciar indivíduos ou grupos. Os DNAs que importam, os codificantes, seriam iguais tanto em qualquer grupo que vocês queiram. Na verade a genética aboliu o conceito de raça. Se tiverem um tempinho dêem uma olhada no texto. Um abraço, Mauro

Unknown disse...

Quem souber do vídeo "the journey of man, a genetic odyssey", que ajuda na questão do racismo, por favor, publique