19 agosto, 2006

Divulgação científica: o ponto de vista do "usuário final"

Este Blog não nasceu com a idéia de fazer "divulgação científica", mesmo porque eu não sou um cientista. A idéia era apenas tornar pública minha indignação contra tudo que anda errado, todo o mundo sabe quais são as soluções, só que ninguém faz... O próprio nome do Blog traduz bem a minha quase desesperança, acumulada nesses quase 56 anos de vida.

Leia mais aqui

18 comentários:

Maria Guimarães disse...

joão carlos, achei delicioso esse teu texto.
e o mundo seria mais interessante se todos fôssemos curiosos combativos como você (que resolveu transferir o treino de combate proutras frentes).
mas o início do problema está tão longe, não sei como resolver. acho que precisaria de uma iniciativa conjunta de se pensar conceitos diferentes de educação.
ao ler o seu texto me lembrei de um professor de história que tive no colegial. o nome dele é gilberto salomão, se não me engano. tenho ainda (mais de 15 anos depois) imagens das aulas dele na minha memória. ele corria de um lado para outro, praticamente encenava a história do mundo. fazia a gente pensar, questionar, entender de fato como e por que as coisas tinham acontecido. eu adorava. e só eu. meus colegas não gostavam da aula do gilberto porque ele não escrevia no quadro, não dava pra copiar um textinho estruturado. como é que eles iam aprender? decorar pra prova?
pois é, como é que a gente ensina as pessoas que pensar é a melhor forma de aprender?
enfim, de volta a esta realidade - o fim do texto me remeteu ao que acho que foi o daniel que escreveu. a presença de cientistas em blogues pode possibilitar esse acesso direto do público curioso. que possa perguntar "mas como assim?".
o que, como eu já comentei, é ainda limitado. mas um começo.

João Carlos disse...

Maria,

Você tem toda a razão (no meu entender). A coisa devia começar da pré-escola, onde as crianças deviam ser estimuladas a ter gosto pelo aprendizado.

E - por esdrúxulo que pareça - já no início do 1º grau, deviam travar conhecimento com lógica, retórica e filosofia. Afinal, o que importa se Cabral chegou ao Brasil em 21 ou 22 de abril de 1500?... Os índios tinham chegado antes (e, antes dos índios, havia outros povos com características distintamente negróides - vide "Luzia" de Lagoa Santa). Que se dane o Império Romano, do Ocidente e do Oriente! E a China? E a Índia? Fica tudo reduzido a Egito e Mesopotâmia, porque são importantes para os europeus...

Falam tanto de Tiradentes e da Inconfidência Mineira, mas sobre a importantíssima Guerra dos Paulistas vs. Emboabas, passam batidos...

Que se dane se a capital do Lesoto é Maseru! Quando você fala da Anomalia Geomagnética da América do Sul, todos ficam te olhando com cara de burro olhando para palácio... "Aquífero Guarani"? O que é isso?... Não, criança não precisa saber disso: vá decorar os afluentes da margem Norte do Amazonas!...

Até sobre a bandeira mentem! Verde da Casa de Bragança, Amarelo (ouro - no escudo em forma de losango, chamado em heráldica "lisonja", por ser um brasão feminino) da Casa de Orleans. Chongas a ver com matas e "riquezas do solo"...

E tome decoreba sobre tabuadas, fórmulas, "monocotiledôneas", "15 de novembro de 1889", "gerúndios" e "metonímias", e a capital de Burkhina-Faso é Uagadugu... Não estranha que a garotada prefira "matar aula" para jogar vídeo-game...

Anônimo disse...

Terei sido deletado?
Ou ocorreu algum problema com o meu comentário anterior?
Bear

Lucia Malla disse...

Joao, acho q te-lo no blog é um grande lucro pra todos nós. E concordo com seu texto: estudar, para a maioria, é "chato": melhor aprender a jogar futebol, ou tentar ser modelo, profissões que não requerem tanta "intelectualização". Por isso q martelo: o problema passa pela educação científica, usar lógica para o dia-a-dia, ensinar às crianças isso.

Gostei muito do seu artigo.

João Alexandrino disse...

João, parabéns pelo texto e pela perseverança.

Qual é a importância da educação escolar e/ou familiar para uma postura filosófica lógica e crítica perante a vida? Talvez muita, mas penso também que cada indivíduo desenvolve as suas tendências próprias de acordo com a sua reação única a estímulos do meio. Isto é, nem todos teremos inclinação para a lógica, a filosofia e/ou o pensamento científico. E ainda bem!

O que é importante democratizar é a informação não enviezada (toda!), desde a sua forma mais pura, não filtrada (artigo científico) até à sua forma digerida tanto por especialistas como por divulgadores. Democratizado o acesso, a escolha será sempre de cada um.

Daniel Doro Ferrante disse...

Oi Pessoal,

Joãos, eu concordo com ambos... Porém, [Alexandrino], apesar de entender e também apreciar a diversidade humana, a "lógica" sempre vai existir na base de TODO e QUALQUER empreendimento humano: das línguas e literaturas às artes, histórias e políticas, até os esportes e filosofia e matemática e física.

O que acontece, em geral, é que não estamos acostumados (e, provavelmente, psicológicamente preparados) pra perceber nem pra assumir isso. Os Pelés da vida, os Michael Jordans da vida, os Federers da vida, assim como os Nobéis da Paz e da Literatura, os grandes artistas (Renascentistas, Impressionistas, Surrealistas, Dadaístas, etc), assim como os Einsteins ou os Hilberts; todos nós usamos Lógica diariamente, dioturnamente, sem percebermos, quer seja pra calcular o preço do cafézinho ou do pão-com-manteiga (hum, o famoso pingado! ;-) quer seja pra expressar a beleza ou nossos sentimentos. Em vários sentidos diferentes a Lógica é algo "acima" (ie, é um precursor -- pode haver lógica sem haver razão, mas não o contrário) da noção de "razão".

Quando o Ayrton Senna fazia uma passagem arriscada no Mansel ou no Prost, havia uma "lógica" por detrás, quando o Pelé fazia as mágicas dele, assim como também fazia Magic Johnson, Jordan e Barkley, sempre havia uma "lógica" por detrás. Só que essa é uma "lógica" que as pessoas acham "diferente", pois ela se aplica aos "esportes". Está aí a nossa Silvia que pode nos dizer claramente (como membro do Mensa) que "genialidade" é algo dividido em várias "categorias" e que pessoas ditas "inteligentes", em geral, possuem domínios de mais de uma dessas categorias (o que de fato torna o problema complicado de se analizar).

O que eu quero dizer é que "PENSAR" é algo que SEMPRE existe em qualquer empreendimento humano. Achar que isso é uma inverdade e justificar de qualquer forma é um erro gigantesco: Diversidade e pluralidade NÃO implica em ausência de pensamento. E a questão levantada pelo João [Carlos] é a de se ensinar a molecada a 'Pensar': Esse, realmente, é um problema difícil e por diversas razões.

A razão mais robusta e forte (e, portanto, difícil de ser combatida e mudada) está na base do nosso comportamento social: "A Cultura." A "Camada de Cultura da Sociedade" serve, antes e acima de tudo, para um propósito BEM claro: "Responder as dúvidas do ser humano, dar guia (moral ou ética), etc." Ou seja, quando vc está perdido e não sabe o que fazer perante uma determinada cituação, vc faz o quê: Liga prum amigo, pergunta pros seus pais ou pruma pessoa mais velha e mais "experiente", etc, etc, etc... isso tudo são comportamentos do "coletivo" que vão influenciar a sua decisão no "pessoal". Até aí, tudo bem... note que eu não estou fazendo uma crítica contra a cultura... pelo menos não duma forma imediata e irresponsável. Porém, pessoas que não desenvolveram o prazer de pensar e arrumar suas próprias respostas, fazem uso constante da "camada de cultura" pra responder a tudo. Veja, por exemplo, o que acontece no mundo "civilizado"/"desenvolvido" (tanto nos USA, quanto na Europa quanto na Austrália): "As pessoas, na média, fazem apenas aquilo que está diretamente diante dos seus narizes." Se o suporte do café não diz que o café está quente e vc bebê-lo e se queimar, é possível se processar judicialmente porque vc não foi "avisado"; ligam do suporte técnico para computadores e uma boa parte das perguntas pode ser solucionada com respostas absolutamente triviais (como conectar o computador na corrente elétrica, não usar o CD como porta-copos, etc); e assim por diante. Note que esse NÃO é um fenômeno apenas norte-americano, ele também acontece tanto na Europa quanto em todos os outros países... incluindo o Brasil.

Ou seja, a "paixão" humana pelo "pensar" é bem pobre e pouca... em qualquer lugar do mundo. :-( As poucas pessoas com um pouco mais de visão viram logo "reis"... ou são ostracizadas pra não chamarem demais a atenção. Infelizmente, quer vc queira ou concorde, ou não, esse é o "estado-da-arte" do espírito humano.

É claro, na Grécia antiga, com 2000 pessoas, é fácil vc resolver esse tipo de questão: 2000 pessoas é menos da metada do número de alunos do meu colegial -- além de ser 30% do número de alunos daqui da Brown! Hoje em dia o mundo é estupidamente diferente e, portanto, manter alguns ideais é tarefa muitíssimo mais complicada. A população do mundo, hoje, é aprochutadamente 3.000.000 de vezes MAIOR do que a da Grécia antiga. Portanto, só para argumentarmos em termos de "ordens de grandeza", estamos falando de 10^{6}: O mundo de hoje é 10^{6} vezes maior que há 3000 anos atrás! Isso é MUITA coisa...

Fora isso, se solucionar um problema nos países europeus é tarefa muitíssimo diferente do que se solucionar algo nos USA, na Austrália ou no Brasil: A Europa cabe 1,8 vezes dentro do Brasil! A torcida do "Timão" (que eu espero ainda significa Esporte Culbe Corinthians! ;-) é do tamanho da população de Portugal! O Brasil é maior que os estados unidos na sua porção continental (ie, sem o Alaska). Existem regiões nos estados do Amazonas e do Pará aonde só é possível se chegar depois de 2 ou 3 semanas de barco! Isso tudo é muita coisa... a logística organizacional TEM que ser diferente pois as necessidades são diferentes. A Europa, em seu pequeno espaço de terras, tem ~9-11 línguas diferentes, enquanto no Brasil tudo funciona no Português (que não é o de Portugal e que varia bastante de região pra região... mas, ainda assim, está em situação BEM melhor do que o Hindi na Índia ;-).

Eu espero não soar como se estivesse "patronizing" você pois, realmente, não é essa a intenção. Tudo o que eu quero dizer é o seguinte:

(1) "Pensar" e, portanto, "Lógica", é algo inerente a QUALQUER atividade humana;
(2) As soluções que já funcionaram historicamente NÃO vão servir pra países das dimensões do Brasil.

Agora chega... vou trabalhar um pouquinho... ;-)

[]'s.

Maria Guimarães disse...

tudo o que você falou, daniel, é interessante e de forma geral correto. mas resumindo, isso quer dizer o quê?
1- você acha que o problema não existe?
2- o que você sugere?
(não resisti a provocar!)

Daniel Doro Ferrante disse...

Oi Maria,

Provocação aceita... :-) E só porque é sua e aqui, nesse foro... senão, acho que não teria mordido a isca... ;-)

'Anyway'... Respondendo:

(1) Muito pelo contrário: Assim como o João disse, eu acredito que o problema existe sim e, mais ainda, é "forte", "robusto", difícil de ser resolvido -- eu achei que isso tivesse ficado claro nos meus outros comentários... então, nem vem que não tem. :-P (Apesar de que, se vc disser que me achou prolixo, eu deixo passar... ;-)

(2) Soluções, sugestões... eu acho que, de verdade, pra se sugerir qualquer solução mais 'robusta' seria necessário se começar com uma análise sociológica e antropológica dos paradigmas atuais brasileiros e, a partir daí, começar a analisar diferentes possíveis "táticas de combate", diferentes políticas pra se lidar com a situação atual. Como eu não sou nenhum grande mestre nem em sociologia nem em antropologia e nem em ciência política... vou dar a minha opinião... e, como diz o ditado (devidamente modificado pra incluir a versão dos 'marines' daqui): "Opinião é como bunda, todos têm uma e todas fedem." :-)

Plano de Nação: O Brasil precisa duma coisa chamada PLANO de NAÇÃO; algo que dê diretrizes básicas para o país nos próximos 10, 20, 50, 100 e 150 anos. Quem conhece do assunto, [Ciência Política e/ou Sociologia], já deve ter ouvido falar disso. Num exemplo meio digressivo, veja os seguinte livros: On Revolution, The Discovery of India.

O que eu quero dizer com os livros acima é o seguinte: Com o primeiro ('On Revolution') eu quero dar exemplos de duas revoluções mais modernas (Francesa e Norte-Americana) e o quê significaram ambas em termos de lutar pela liberdade e por valores de liberdade pessoal e do indivíduo; com o segundo eu quero mostrar qual é o tipo de engajamento que um povo deve ter pra conseguir mudar qualquer coisa que seja (por menor que esta possa ser).

Então, assim como Lattes e Leite Lopes (comentário acima) tinham uma visão para a Ciência brasileira, é preciso haver uma "visão" não só pra Política brasileira mas também pra toda a HISTÓRIA brasileira que ainda há de ser escrita: "Isso é um Plano de Nação."

Como parte desse Plano de Nação, eu sugiro que o Brasil adote um esquema parecido (porém, devidamente modificado pra satisfazer as necessidades locais) com o Japonês -- adotado logo após a derrota daquele país na 2ª Guerra Mundial -- para atacar o problema da educação: Em ~50 anos o Japão saiu de 2 bombas atômicas para ser o maior credor dos USA. Independentemente de quaisquer qualificações que se venha a fazer sobre tal fato (foram ajudados aqui ou ali, dessa ou daquela forma), ele ainda é digno de respeito por diversas razões (que eu acredito serem razoavelmente claras).

Outra coisa que eu venho achando cada vez mais fundamental é que o Brasil passe a fazer parte da Comunidade Internacional -- coisa que, sinto muito, não acontece hoje em dia; e, se acontece, eu realmente não sei aonde, certamente NÃO é na educação. Tome, por exemplo, a Índia ou a China (vc pode até incluir a Rússia nessa lista aqui): esses países têm uma "máquina" de mandar alunos pra fora. Ambos os países estão completamente inseridos no contexto mundial, principalmente no contexto educacional mundial: Eles mandam alunos pra fora, aos montes, e re-captam uma boa parte desses cérebros. (Até porque, como mandam um grande volume, por menos que eles re-captem essas pessoas, ainda assim o número é expressivo -- medindo-se com respeito ao número de empregos que tais países podem oferecer a tais pessoas.) Infelizmente, o Brasil NÃO está inserido nesse contexto mundial (assim como não está inserido em outros contextos mundiais também). Essa situação é tão politicamente forte no caso da China que, hoje em dia, a China já se tornou um poló e um foco de estudantes asiáticos (principalmente do sudeste da Ásia) -- isso é tão sério que, na qualidade eleita dos representantes dos alunos da pós-graduação aqui da Brown, eu já fui a algumas reuniões da 'Brown Corporation' aonde planos foram traçados pra se lidar com tal "problema". A tal da A Cultura da Desvantagem (o link é para o Cache do Google porque o site da Sociologia da UnB está fora do ar devido a problemas com o Banco de Dados MySQL deles) tem que desaparecer ou ser minimizada ao extremo!

Portanto, esse "rescunho de solução" implica que TODOS os professores, em TODOS os estágios da vida escolar dum indivíduo, iriam tentar ao máximo contribuir para ensiná-lo a "pensar". Muito poucas vezes, na minha vida, eu encontrei questões que são resumidas a um problema de 'certo × errado', a grande esmagadora maioria das vezes NÃO se trata duma questão binária, mas sim duma problemática mais complexa. Então, não é uma questão do professor ensinar o aluno a "pensar certo" ou "pensar errado", mas sim de ensinar o aluno a "pensar" de qualquer forma. Uma vez criado o hábito, o resto é muito mais fácil, pois passa a se tornar uma questão de "argumentos" e não de fé -- quer dizer, esse é o resultado que se almeja chegar.

É preciso se parar completamente de se "viver sob slogans", quaisquer que sejam eles! Isso eu confesso: "Estou absolutamente CHEIO de ouvir 'slogans' que não têm NENHUM significado, frases cujo conteúdo é nulo!" E, hoje em dia, diversos líderes mundiais adotam essa prática... inclusive o nosso (que nos afeta tão diretamente). :-( E, como eu disse antes, 'slogans' são excelentes, porque evitam que as pessoas tenham que pensar... elas simplesmente podem pegar a resposta na "camada de cultura da sociedade": Vão lá e buscam o 'slogan' que mais as agradam. Não interessa se são slogans ditos de 'esquerda' ou de 'direita', pois muito poucas vezes isso fez alguma diferença: São TODOS slogans com conteúdo NULO; uns são mais 'apelativos' que outros porque vão direto nos nossos sentimentos, mas isso tem nome e é bem conhecido, chama "sentimentalismo". A questão tem que ser posta com clareza e frieza: "Esse é o problema. Essa é a 'melhor' técnica, tática, estratégia, pra resolvê-lo. Vamos pra frente."

Já faz tempo que o mundo não é dividido em 'certo × errado', 'direita × esquerda', 'verdade × mentira', '1 × 0' (binário) e assim por diante: Esse tipo de "polarização" dos assunto só mostra o quão imbecilizados estamos -- a verdade é SEMPRE bem mais complicada do que isso. Mas os slogans estão todos aí e nós vivemos IMERSOS neles... é difícil de se limpar de todos esses "pré-conceitos".

E aí, Maria: "Vc acha que eu respondi a sua pergunta?" Eu, agora, acho que sim... talvez ainda tenha sido prolixo... mas, acho que fui menos que das vezes acima. ;-)

Como eu já disse acima: "Isso tudo é esporte de contato!" Cadê os participantes... eu já estou aqui, com a cara à mostra! :-)

[]'s!

Lucia Malla disse...

Daniel, a logica e o pensar sao intrinsicamente humanos, as pessoas exercitam essa capacidade, MAS o fazem a esmo, sem saber q a estao usando. Quando digo q elas deveriam entender a logica, nao digo q elas nao a exercitem at all; digo no sentido de a pessoa se tornar consciente de q estah utilizando um metodo cientifico para seus problemas do cotidiano, de q seu raciocinio eh a base para se fazer a propria ciencia. Se elas estivessem conscientes disso, de q jah executam o pensar cientifico em atividades rotineiras, talvez nao se sentissem tao distantes dos cientistas, e esse buraco abissal q existe entre nao-cientistas e cientistas estivesse com pelo menos uma ponte movedica no caminho para ligar os 2 lados. :-)

João Carlos disse...

Eu gostaria de acrescentar, ao que diz a Lúcia, que a estrutura de nosso sistema de ensino está voltada extamente ao contrário. Em vez de estimular o exercício da lógica e do raciocínio, ela é voltada para a "aceitação da autoridade". Isso é menos grave nas Universidades, principalmente nas públicas, porque a pressão exercida pelo corpo discente é muito grande (queiram ou não, é uma elite intelectual que obtém o ingresso nessas instituições).

Mas nos níveis básicos - e justamente no setor do ensino público - é onde vamos encontrar os professores mais despreparados (e pior remunerados) cujo único "trunfo" é o abuso da "autoridade", o "poder de reprovar". Os alunos são submetidos a um processo de "terrorismo psíquico" que leva a maioria a associar o aprendizado com algo desagradável e enfadonho. Eu - que sou um subproduto de Henriette Amado no Colégio Estadual André Maurois, no Rio - me considero particularmente afortunado. E não tem nem graça comparar a qualidade da rede pública de ensino da década de 60 com a atual.

Eu tive uma experiência - particularmente traumática - com o ensino público em Lambari, MG, que foi desastrosa para meus filhos. Só para exemplificar, uma professora de história (que apregoava 30 anos de magistério) não era capaz de se expressar corretamente em português, cometendo erros grosseiros de concordância e diversos non-sequitur nas apostilas e nas provas. À diretora do Colégio, eu tive que dizer: "Minha senhora, eu - com meus 25 anos de Fuzileiro Naval - posso afirmar que nunca vi alguém tão autoritário como a Sra. Se a Sra. fosse comandar uma tropa, eu lhe dava um mês antes do primeiro motim".

Eu considero São Paulo um país diferente do restante do Brasil, mas não me consta que a situação por lá seja tão melhor assim...

Já nas escolas particulares, a situação se inverte: a formação básica tem melhor nível (embora ainda distante do nível da escola pública de meu tempo), mas na esfera do ensino superior é uma tristeza... Eu cheguei a abandonar um curso de Tecnologia de Processamento de Dados por ter ficado horrorizado com dois incidentes: o primeiro, um aluno que não conseguia expressar um pensamento com clareza e era mantido indefinidamente porque "pagava em dia"; o segundo (e definitivo) quando - após uma greve de professores que durou três meses - fui informado pela secretaria que "bastava pagar as mensalidades e a aprovação no período estava garantida" (eu retruquei que já tinha profissão e que eles podiam fazer o "diploma" de supositório).

O grande problema da "divulgação científica" para o público brasileiro é que qualquer tema que exija um conhecimento um pouco além das 4 operações aritiméticas básicas e, pelo menos, um dicionário de bolso, assusta o público alvo.

João Carlos disse...

Em tempo: comentando o Daniel. O plano que deu certo no Japão foi, em parte, obra de um americano, cujo "projeto de desenvolvimento nacional" tinha sido largamente ridicularizado nos EUA...

Eu continuo martelando na mesma tecla: temos que abandonar a "importação" de soluções que funcionam bem em países europeus (quem acompanhou o bate-boca que eu mantive com a Maria sobre transporte urbano, lembra-se do exemplo da Suécia e suas bicicletas públicas; funciona em um país cuja população é menor que a de São Paulo...), ou nos EUA (que têm recursos para manter uma rede universitária enorme e uma Marinha de Guerra que consome mais do que o PIB do Brasil, ao mesmo tempo).

O Daniel sugere olhar o modelo da Índia; eu me atrevo a sugerir que a parte mais importante desse exame seja, talvez, reparar onde a Índia rompeu com os modelos europeus.

Daniel Doro Ferrante disse...

GraAande Joãozão: Sempre com a espada afiada e no lugar certo; cirúrgico! 8-)

Massa, me diverti pacas com seus 2 comentários acima... apesar de que, viver essas situações nunca é nada agradável.

Eu concordo em gênero, número e grau com o quê vc disse e, de verdade, não acho que tenha nada a adicionar ao que vc falou, tamanha a clareza do exposto. :-)

Agora, note que, em todo o momento, eu fiz questão de deixar claro que nenhum "enlatado" serviria pra 'resolver' a questão brasileira; eu apenas citei exemplos mais modernos e que têm dado certo atualmente (China, Índia, etc). Isso pela mesma razão que vc fez na sua ressalva: O grande "pulo do gato" vai estar, certamente, naquilo que esses modelos/exemplos tiveram que especifizar para seus casos particulares.

Quanto ao "assustar" do público perante a divulgação científica, minha posição é clara: Eles vão ficar assustados por um tempo... mas, depois, tenho certeza de que vão pro 'rebote'. Então, o negócio é um "SPQR da Ciência" (pra usar o moto do exército do Império Romano). 8-)

[]'s!

Anônimo disse...

"Isso é menos grave nas Universidades, principalmente nas públicas, porque a pressão exercida pelo corpo discente é muito grande"
Negativo!!! E já que estou escrevendo para professores universitários, entre outros, não tive mais que dois professores dispostos a manter um diálogo aberto e sincero durante as aulas em todo meu curso de física na UFPE. O nosso grande problema se chama mediocridade e pode ser bem entendido se lermos isso aqui http://www.olavodecarvalho.org/textos/carp3.htm. Sou professor do ensino fundamental e médio, leciono sempre tentando manter um diálogo aberto e sincero com meus alunos, estimulando-os a raciocinar, garanto a você que meu trabalho seria bem mais fácil se lecionasse com 90% dos meus colegas professores. Também garanto que meu trabalho teria um resultado muito melhor se minhas turmas tivessem no máximo 20 alunos e não mais que 50 alunos. É a velha história, mediocridade só gera mediocridade. Sugestão a todos vocês: ao invés de ficaram gastando tantos neurônios escrevendo o óbvio para pessoas "esclarecidas", por que não colocam a mão na massa (os que estão no Brasil) e não se voluntariam a ensinar algo em pelos menos uma turma da rede municipal ou estadual de ensino dos seus respectivos estados. Dica: antes de tentarem seria bom ler um pouco de Paulo Freire (Pedagogia do Oprimido e Pedagogia da Autonomia, só para começar).

Daniel Doro Ferrante disse...

Caro "Krishnamurti",

Apesar de entender os seus sentimentos e compartilhar de alguns dos seus pontos-de-vista, tenho um comentário a fazer sobre o que vc escreveu.

Esses nosso "esforço" aqui no 'Roda' até pode ser entendido -- como vc o parece fazer -- como "masturbação mental" e "sem resultados práticos, concretos". Porém, ninguém o obriga a vir ler nossos posts nem a participar desse nosso esforço: Vc veio de livre e espontânea vontade. Portanto, eu tenho dificuldades de entender o porquê da sua hostil e agressiva sugestão, que pode muito bem ser resumida na máxima "vão trabalhar, vagabundos".

Vale lembrar, também, que aquilo que vc pessoalmente considera 'óbvio' para um determinado conjunto de pessoas 'esclarecidas', pode não o ser para um outro determinado conjunto dessas.

Quanto a sua sugestão, digo o seguinte: Nem sempre a melhor atitude por parte de quem 'entende' um determinado problema é sair à 'luta armada', da mesma forma que os estrategistas das Forças Armadas dedicam o seu melhor (capacidade de raciocínio), assim como os soldados que estão no front também o fazem; nosso papel, aqui, pode muito bem ser como o primeiro e, nem por isso, deixa de ter valor ou papel social.

Portanto, já que vc acha nosso esforço "óbvio" e "sem valor" (posto o seu comentário), eu acredito que vc não só tem o direito como o dever de lutar com as armas que vc considere mais úteis e relevantes. Quanto a nós... vc pode muito bem nos deixar em paz e nos poupar dos seus comentários agressivos e denegritórios. Até porque vc não conhece os nossos motivos pessoais pra participar do 'Roda', fato esse que o impede de fazer um 'julgamento' não só do 'Roda' como também das nossas personalidade e caráter.

Pessoalmente, de minha parte, eu tenho a dizer que já acompanho seus comentários em outros blogs há tempos... e, verdade seja dita, sempre me divirto com eles, uma vez que por detrás do anonimato vc pode sair atirando com precisão cirúrgica em detalhes que muitos só podem 'pincelar'. Então, eu acho que uma contribuição positiva da sua parte seria extremamente útil aqui para o 'Roda'. Note, porém, que eu entendo perfeitamente que 'contribuição positiva' NÃO implica em 'elogios' e 'lambições'; entretanto, pelas mesmas razões, também não implica em agressões gratuitas.

[]'s.

Anônimo disse...

Ops, só não concordo com o anonimato, só uso do anonimato quando algum anônimo babaca resolve se manifestar, eles me dão tão direito.
Não seja tão radical, além da masturbação mental vocês podiam também "sujar um pouco as mãos de graxa" encarando o problema cru e nu.
Eu literalmente combato em várias frentes, inclusive nos blogs dos "esclarecidos", mas não considere o que escrevo como agressão (com exceção aos erros crassos de português), não é essa a intenção, só sou um pouco cru, pois afinal a vida é crua mesmo.

Anônimo disse...

*tal direito

Anônimo disse...

Só para reflexão:
O drama de uns pode ser a realidade de outros.
Olha só que coisa linda, já que estava colocando-o como comentário em um blog de ciência aproveito o ensejo:

"Eu não tenho vergonha
de dizer palavrões,
de sentir secreções
(vaginais ou anais).
As mentiras usuais
que nos fodem sutilmente
essas sim são imorais,
essas sim são indecentes."

(Leila Miccolis, Ponto de vista)

PS: pouco importa o autor, muito importa o conteúdo.

Daniel Doro Ferrante disse...

Krishnamurti,

Não me entenda mal, bixo, não estou demonizando o seu anonimato... muitas vezes é bom pra evitarmos "forças ocultas" de se explicitarem nas nossas vidas... ;-)

E, posto o seu poema, pode ficar sossegado quanto ao português: Quem não consegue entender o significado porque fica preso nos símbolos... não merece muito mesmo. ;-)

Quanto ao meu radicalismo... foi mal... tem dias que essa veia fala mais alto que as outras.

E sou TOTALMENTE a favor do seu poema... ou melhor, das idéias e sentimentos nele expresso. :-)

E, quanto a por a mão na massa... de minha parte, pode ficar sossegado: Sempre que posso, ou sei como fazê-lo, dou um jeito de pular de cabeça! ;-)

[]'s.