17 agosto, 2006

É possível fazer bom jornalismo de ciência?

O bom jornalismo de ciência, seja ele crítico ou divulgação de pesquisa, é raro. Mas que prazer encontrar um texto saboroso, informativo e instigante! Ou ver um texto ou programa de televisão levar alguém a se interessar por ciência, ou entender o que é afinal que seu filho faz.
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11 comentários:

Daniel Doro Ferrante disse...

Oi Maria,

Li seu texto com muito carinho, não só porque sempre o faço, mas também por causa dessa empreitada a que estamos nos propondo atualmente. ;-)

E, claro, tenho alguns comentários... não necessariamente com respeito ao seu texto em si, mas também com respeito a "Visão", ao "Projeto", que é fazer 'Divulgação Científica' pra mim, dentro da minha cabeça. :-)

Em primeiro lugar, eu quero dizer que encaro todas as tarefas importantes da humanidade como "Projetos". Então, assim como um país TEM que ter um Projeto de Nação (que inclui resultados parciais de 10, 20, 50 e 100 e 150 anos!), atividades como 'Divulgação Científica' também devem ser tratadas com o mesmo respeito, com a mesma honra e dignidade. E isso por várias razões, desde históricas até sociológicas e antropológicas. Por exemplo, os maiores impérios da história, todos, tiveram participação contundente de "cientistas" como "conselheiros". Esse tipo de "intelectuais" também teve participação fundamental nas religiões que sobreviveram até os nossos dias presentes. Ou seja, a mensagem é aquela que já é bem ecoada em ditado popular: "Do céu não cai nada, a não ser chuva." ;-) (Outras brincadeirinhas mais 'espirituosas' também podem ser aceitas, como "excremento de pombas", "raios", "canivetes", etc... :-)

Portanto, quando fala-se em "Divulgação Científica" não se pode ter em mente apenas a propagação das últimas atualidades científicas. Tem-se que ter em mente, também, o "valor agregado" das notícias, no seguinte sentido: "Como é que isso pode afetar o País? Como é que isso pode afetar a população? Como isso pode mudar nossa vida?" É esse o valor não só da Divulgação Científica como da Ciência também. Ou seja, é preciso -- sempre! -- termos em vista o valor social e humano da Ciência que está sendo feita e divulgada.

Isso posto, digo que, em segundo lugar, vc não deve se preocupar tanto com os pequenos tropeços das notícias, até porque esses sempre existiram, existem e ainda vão existir. Não porque a exatidão, precisão e corretude devem ser relegadas ao segundo plano; mas porque o objetivo da divulgação é maior que a notícia em si: "É dar asas ao futuro."

E, por essa mesma razão, também nunca se deixe abatar pelas pedras do caminho. Tenho uma estorinha a respeito disso... É o famoso (e famigerado!) momento... "Senta que lá vem estória..." Como vcs bem sabem, eu jogo basquete aqui na Brown. Pois bem... é claro que eu já fiz diversos amigos jogando uma bolinha por aqui. Num belo dia, estou eu jogando bola... quando aparece esse meu amigo Irlandês, que faz medicina aqui na Brown (quando no bacharelado, ele era o "speech writer" do Buddy Cianci, o ex-prefeito daqui de Providence -- vale a pena dar uma olhada no livro "The Prince of Providence", ganhador do Prêmio Pulitzer ;-). Estávamos brincando, nos aquecendo, escolhendo os times... quando ele olha pra mim e pergunta: "E aí? Como vai a vida e o trabalho?" E eu, que vinha duma semana cachorra, respondi: "Bixo, eu ando trabalhando feito escravo; sem dó!" Ao que ele me olha e responde: "Well, it's better than the alternative!" ;-) Ou seja, qual é a alternativa ao trabalho, por mais árduo que este o seja? É a ausência de trabalho, mais comumente chamada de "desemprego". ;-) E isso, claro, nenhum de nós quer. Noutra dessas estorinhas... no mesmo cenário, só que já estávamos jogando basquete e eu estava marcando esse meu amigo Irlandês. Ele vem com a bola pro ataque, eu na defesa; ele na linha dos 3 pontos, com a bola, só segurando, esperando os outros se posicionarem melhor; eu olhando pra ele, esperando ele esperar. ;-) Aí, ele olha pra mim e diz: "Vc sabe qual é a fama dos Irlandeses?" E eu digo, "Não tenho a menor idéia!" (naquela época -- logo que eu cheguei aqui -- eu ainda não conhecia muitos irlandeses). Aí ele me olha bem nos olhos e diz: "They say we don't know exactly what we want, but we want it passionately!" Eu comecei a gargalhar... e, claro, ele saiu correndo e fez uma bandejinha básica (só pra me sacanear). :-) Mas, eu concordo com ele, e acho que as coisas no mundo funcionam bem assim mesmo: Vc tem que querer com paixão, com vontade. Aí, Maria... aí não tem tempestade que te pare, nem pedra que te faça tropeçar e não levantar. ;-)

A Ciência é uma das coisas, se não for A coisa, mais democrática do mundo: "Qualquer pessoa em qualquer lugar pode fazer ciência, pode publicar, pode discordar, pode opinar e, mais importante do que tudo isso, pode revolucionar o mundo (como já aconteceu algumas vezes)!"

A história do mundo já passou pela Revolução Industrial, que foi quando a humanidade aprendeu a por a tecnologia em benefício próprio. Agora estamos noutra era, aquela em que vamos aprender a por a Ciência para uso da humanidade (num sentido um pouco diferente daquele que vinha sendo dado até agora)! A "Revolução Digital", de que a Internet é bandeira clara, é prova cabal disso que estou falando. Hoje em dia, pela primeiríssima vez na história do mundo (!), vc pode não só ter acesso direto aos cientistas, mas eles também podem ter acesso direto à sociedade. Mais ainda, hoje em dia é possível que a ciência tenha aplicações diretas, práticas, sem necessariamente ter que virar "tecnologia". Pode até parecer um oxímoro essa minha última frase, mas não é. Por exemplo, o uso de "Teoria dos Grafos" para a construção de compiladores ou de navegadores ('browsers', como o Internet Explorer ou o Firefox ou o Opera, etc) são claras instâncias aonde a ciência (Teoria dos Grafos) vira "aplicação" (compilador, navegador) sem ter que passar pelo estágio de "tecnologia".

Então, o momento que estamos vivendo é, certa e seguramente, muito singular. E essa nossa "Revolução Digital" vai nos levar à mares nunca d'antes navegados. :-)

Um abraço, []'s!

Maria Guimarães disse...

daniel, valeu o apoio!
concordo com você.
só que sempre penso numa responsabilidade maior quando se trata da comunicação com o público leigo. uma coisa é eu te dizer uma coisa errada e você me dizer "opa, não acho que seja por aí porque eu sei tal coisa que te contradiz". outra é você não ter nada no seu repertório que me contradiga, e vou te deixar com aquela mentira pra começar a construir o seu repertório. é mais sério... por isso sempre me preocupa quando vejo incautos sendo enganados por "notícias" sobre ciência, ou quando vejo cientistas agitando o jornal e dizendo - "viu? essa gente não sabe escrever sobre ciência". e sei que tenho que tomar cuidado.
ah, uma coisa que não é óbvia mas uso como se fosse: no meu texto falei mais de jornalismo de ciência, que a meu ver inclui já a discussão, o senso crítico, a equiparação com outras visões etc. a divulgação da ciência seria a propagação mais direta de uma pesquisa, sem buscar necessariamente um contexto mais amplo.

eu tenho um amigo irlandês, e reconheci certinho a definição desse teu amigo: ele quer apaixonadamente, mas não parece saber o quê!
eu pelo menos acho que sei o que quero.
abraço.

Lucia Malla disse...

Em minha opiniao, a divulgacao da ciencia passa pela educacao cientifica das pessoas: o pensar cientifico. Saber como se constroi uma ideia. Nao no sentido de q as criancas devam comecar a aprender filosofia no jardim de infancia, mas no contexto de q em algum momento da vida (escolar ou nao), a pessoa precisa ser incentivada a aprender o metodo cientifico. A maior parte dos erros q vemos nos jornais - e da raiva q os cientistas sentem quando vem esses erros - advem da tentativa de:
1) ser palatavel ao publico leigo;
2) assumir q esse publico leigo nao sabe metodologia cientifica;
3) ser maniqueistas, tudo tem q ser "preto no branco", algo como, "gene Z eh responsavel pela agressividade e ponto final".

Acrescentem mais pontos a vontade, mas eu vejo esses 3 como os mais criticos. A humanidade adora respostas confortadoras e faceis, e quando a ciencia mostra q o problema eh muito mais complexo, que hah nuances para as questoes mais basicas, as pessoas se assustam. Ao se assustarem, fazem o obvio: repelem a ciencia. Acho q apenas a educacao cientifica, entender q refutar uma ideia nao eh algo "mau", nao eh joga-la no lixo completamente e fim, entender como se elabora uma hipotese, ser cetico e questionador,... sao as atitudes mais positivas q vislumbro pra melhorar a divulgacao da ciencia. Via jornalismo, blogs ou qualquer outra midia.

Lucia Malla disse...

Esqueci algo importante no meu comentario. Sobre o q as pessoas deveriam entender sobre o metodo cientifico: saber q ciencia se faz a partir de fatos, evidencias, testaveis em sua natureza mais basica; saber q ciencia nao envolve achometros nem entidades supranaturais: a base da ciencia sao as ideias do cerebro do Homo sapiens, mas elas soh sao validas se corroboradas com dados, gerados com os pes no chao e com o que se veh de alguma forma.

Lucia Malla disse...

OFF-TOPIC: Nao recebi email algum sobre a inscricao na lista de emails daqui, e casualmente soube da lista pelo comentario do Daniel no post passado. Hoje q me registrei, mas nao estou conseguindo acessar a lista via web nem lendo nenhum email. Como ficou decidida a data para publicacao de textos sobre o assunto do mes? Hah sequencia das pessoas a postar? Desculpa as perguntas, mas eh q estou confusa e quero colaborar com o blog...

Caio de Gaia disse...

Também me inscrevi tarde. Aqui estamos em plenas férias de verão, se se pode chamar verão a chuva torrencial e temperaturas de 20 graus.

Pensei este artigo marcava o início da coisa e que seria suposto metermos os textos o mais depressa possível.

Maria Guimarães disse...

toda a discussão sobre como fazer e quando se deu aqui mesmo no blogue. vejam a postagem do dia 6 de agosto.
a idéia é todos pormos nossas contribuições, conforme o formato que eu e caio já seguimos, o mais depressa possível. não vejo motivo para que o texto inaugural tenha que ser meu. lembrem-se que nosso plano é discutir este tema em agosto, e outro em setembro! a não ser que no fim de agosto achemos que ainda não deu, aí esperamos outubro pra pôr outro assunto em discussão.

Anselmo Augusto de Castro disse...

Olá Maria.
Lendo o seu post, senti o quanto você está comprometida com a divulgação científica e com a valorização do papel de cientistas nesta atividade. Quando comentou sobre o Prof. Amabis, lembrei-me do curso que este docente incrível ministrou em um simpósio sobre evolução este ano em São Paulo. Uma capacidade de mostrar de maneira simples para leigos e ao mesmo tempo não tornar enfadonho assuntos para os que já dominam, creio seja o objetivo que devemos almejar. E isto o Prof. Amabis faz brilhantemente. Fiquei encantado.
Gostei muito quando você tocou nos assunto "erros" cometidos pelos jornalistas, cientistas e todos nós. Essa cultura de alta performance que desvaloriza os erros e suas retratações, apenas nos oferece uma imagem ilusória de progresso. O verdadeiro desenvolvimento humano e científico, como você bem disse, é feito com muita discussão, avaliação e por uma busca incessante da verdade. Mantendo sempre em mente que esta verdade pode não ser única.

Anônimo disse...

Olá Maria

Claro que é possível, se o jornalista se preparar convenientemente sobre o assunto para saber colocar as perguntas certas, na hora certa.

Há algo absolutamente fundamental: o jornalista não pode ter qualquer tipo de receio de fazer perguntas estúpidas. Também é necessário ter sorte com os cientistas que de disponibilizam para responder às questões...

Estou a ler um artigo interessantissimo sobre a importância de não ter medo de parecer ignorante: "Weird Science - Why editors must dare to be dumb" de K.C. Cole - http://www.cjr.org/issues/2006/4/cole.asp - .

Cit. "good science journalists know that if they’re not dealing with subject matter that makes them dizzy, they’re probably not doing their jobs"

Cit. "sometimes you just need to 'dare to be stupid.'"

Não percam!

Anônimo disse...

Olá,Maria Guimarães!
Meu nome é Vanessa Burgos,sou estudante do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo e aluna da professora Leonora Costa,que me deu teu contato neste fantástico blog.Gostaria de saber mais a respeito do curso de especialização em repórter científico,pois tenho o desejo de participar desta arte maravilhosa que é divulgar o conhecimento,promovendo a ciência.
Parabenizo-te por esta coragem em descortinar a ciência ao grande público.Aguardo ansiosamente informações sobre o curso.
Coragem,tudo de bom!

Anônimo disse...

Olá,Maria Guimarães!
Meu nome é Vanessa Burgos,sou estudante do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo e aluna da professora Leonora Costa,que me deu teu contato neste fantástico blog.Gostaria de saber mais a respeito do curso de especialização em repórter científico,pois tenho o desejo de participar desta arte maravilhosa que é divulgar o conhecimento,promovendo a ciência.
Parabenizo-te por esta coragem em descortinar a ciência ao grande público.Aguardo ansiosamente informações sobre o curso.
Coragem,tudo de bom!
vpbburgos7@yahoo.com.br