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19 agosto, 2006
Educação científica: pela divulgação eficaz
Gosto muito dos ScienceBlogs, uma iniciativa americana de blogs profissionais voltados apenas para o tópico "ciência", que abriga o blog de ciência mais lido do planeta, o Pharyngula. São 48 blogs (e crescendo...) nos assuntos mais diversos, de evolução a astronomia. Os ScienceBlogs estão agora entre os 100 mais populares do índice Technorati, e isso, para um assunto árido para muitos como ciência, pode ser considerado uma vitória.
(Leia maisaqui.)
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11 comentários:
Lucia, que iniciativa maravilhosa! Como muitos, também tenho dificuldade de entender a lógica da ciencia pelas mesmas razoes que voce pontuou.
Se voces conseguirem esmiucar assuntos antes relegados apenas aos entendidos e, com isso, fomentar debates, vou virar freguesa incondiciional daqui!
Vida longa e sejam bem vindos a blogosfera. A gente pestava precisando!
Beijos,
Vanessa
Muito a propósito sua colocação:
O primeiro problema que ela vê (e eu concordo) é a passividade da audiência; para mim um reflexo direto da ausência de educação científica nas pessoas em geral. Nós simplesmente não aprendemos a pensar cientificamente na escola.
Eu também acho que o sistema de ensino deixa muito a desejar, e expresso isto com todas as letras no meu artigo.
concordo que a raiz do problema está na educação. na palestra do amabis que mencionei no meu texto, ele mostrou dados assustadores de como os professores de escola não têm uma compreensão adequada do que é o método científico. e assim se perpetuam os estereótipos do cientista maluco e da ciência impenetrável.
mas acho, além disso, que o cientista tem aí um papel a desempenhar. penso numa situação corriqueira: alguém numa festa pergunta, com interesse ou simplesmente educação, o que é que você faz. "sistemática de nudibrânquios", você responde, como se tivesse respondido. a pessoa se sente uma idiota por não saber o que é sistemática nem nudibrânquio. se for uma desbravadora valente e incansável, tentará desvendar o enigma. mas a imensa maioria das pessoas se sente completamente distante daquilo, que se parece tão impenetrável não pode ser interessante. e vai buscar alguém que possa falar sobre futebol.
e o fosso se aprofunda.
aliás, isso me lembrou um texto interessante que fala sobre isso: "The end of science writing", por Jon Franklin.
Vanessa, esse é o objetivo: tentar levar ciência e discussões sobre ela a um número maior de pessoas. Torcendo pra ir longe! :-)
Maria, mas o ponto é: vc pode estar numa festa e falar q trabalha com lesmas-do-mar ao invés de sistemática de nudibrânquios. As pessoas podem fazer comentários de "nojo" (urgh, lesma!), etc, mas um papo pode surgir daí, e nele dúvidas básicas podem ser arejadas. Existe tbm um pouco da postura do cientista perante os demais, o q falo no meu texto: a preferência pela linguagem hermética. Às vezes ela é a única, mas na maioria das vezes há caminhos alternativos a ela, uma linguagem mais prazeirosa ao leitor é possível - sem descambar pro ridículo, como muitas vemos por aí em muitas notas de ciência.
(Estou amando as discussões! :-)
pois é, acho que me exprimi mal. era exatamente isso que eu queria dizer. é fácil falar de um jeito mais apetitoso! basta estar atento e disposto. e surgem mesmo conversas interessantes. as pessoas costumavam rir quando eu dizia que estudava a vida social de uns ratos subterrâneos que pareciam umas cutias atarracadas. mas aí a conversa fluía e ouso crer que alargava um pouco os horizontes da pessoa.
eu mencionei numa palestra que os cientistas muitas vezes não têm noção do que o leigo sabe. dei o exemplo de que dizer que trabalha com anuros é inútil. dizer sapos, rãs e pererecas dá mais trabalhos mas dá papo também. o cara que falou depois de mim, um jornalista, logo falou que ele não tinha noção do que eram... "o que era mesmo aquilo que você falou?", me perguntou.
Eu em geral não puxo ciência como assunto na minha vida social, mas as pessoas que sabem que eu trabalho nisso vêm muitas vezes perguntar-me sobre essas coisas. Pode ser sobre testes de ADN, sobre o número de planetas, etc. Aí ajuda um bocado ter interesses vastos e não ligar apenas ao meu pequeno domínio (não há assim tanta gente interessada em algoritmos genéticos).
Aproveitando alguns comentários da Lúcia no meu post. Eu recebo muitas visitas de uma coisa chamada "orkut" que penso ser um fenómeno brasileiro. É interessante pois devo ter apenas um leitor entre eles que lê o meu blog de vez em quando e de repente avisa os outros. Digo isto porque em vez de irem para a página de entrada vão todos directamente para o mesmo post. Em geral vão a coisas de astronomia. Não é apenas um fenómeno google. Acho que os entusiastas de astronomia estão bem organizados, enquanto os de biologia e afins estão dispersos.
Quanto ao seu blog adoro. Além da sua forma de escrever invejo o seu fotógrafo: eu babei quando vi as fotos dos nudibrânquios. Acho a sua fórmula muito eficaz. Um blog permite uma experiência mais agradável, menos formal e partilhar muito mais coisas. Se cada um de nós conseguir umas centenas ou mesmo apenas umas dezenas de leitores interessados é mais do que suficiente. Num blog não há necessidade de lucro nem de reconhecimento universal, deve ser uma questão de gosto e prazer.
mas será mesmo que as pessoas não se interessam por algoritmos genéticos? será que eles não poderiam ser apresentados de forma a suscitar interesse? a maior parte das pessoas não tem interesse pelo que desconhece...
1. O problema da comunicação de ciência à sociedade é particularmente notório na imprensa diária, e menos na semanal ou mensal. É que para a mensagem ser entendida ela é simplificada e destituída da maior virtude da ciência que é a discussão crítica. Acho que a Lúcia toca neste ponto no texto dela.
2. Uma coisa é dizer que "trabalhas com sapos e pererecas" outra é dizer que o que te interessa realmente não são os sapos e pererecas mas sim o gozo intelectual de "discutir modelos disto ou daquilo" aplicados aos sapos e pererecas como modelos biológicos, mesmo que isso não importe nem um pouco à sociedade. O problema de comunicação surge quando a ciência se afasta daquilo que a maioria das pessoas acha que é natural querer saber sobre algo: "é perigoso?"é útil?"está ameaçado de extinção?"onde vive"o que come?". Esse problema é muitas vezes mal resolvido pelos cientistas e por divulgadores de ciência em geral, simplificando de forma enviezada a ciência ao tentar aproximá-la do público. Este problema é mais presente na comunicação de ciência fundamental do que da aplicada.
Acho que uma das soluções é focar a divulgação de ciência um pouco mais nos caminhos (às vezes tortuosos!) do método científico, como penso que Lúcia propõe(?). As pessoas precisam de saber que a ciência trata de falsificar hipóteses ao invés de corroborá-las. A corroboração acontece quando a falsificação falha, mas é em geral precária e transitória. Temos que ser mais húmildes, portanto, cientistas e sociedade em geral, quanto àquilo que julgamos saber.
Mas será que a sociedade consegue conviver com a dúvida gerada com o equilíbrio precário da falsificação/corroboração?
mas será mesmo que não é possível convencer as pessoas de que estudar o surgimento de espécies, por exemplo, pode ser fascinante? mesmo que seja algo em que elas nunca pensaram antes e que têm certa dificuldade em apreender de início?
É deveras fascinante o estudo dos processos que resultam no surgimento de novas espécies, especialmente a humana (ha!!!)!
Mas fascinante é também a discussão conceitual da forma como cientistas podem estudar processos de especiação. Existem "caminhos de abordagem" que cada cientista tem de escolher antes de proceder ao seu estudo, a sua lente se quisermos. E esse processo de decisão raramente é explicitado na divulgação de ciência.
Uma lente, por exemplo, pode retirar toda a importância à seleção natural como motor de especiação mas, em ciência, o uso dessa lente é discutido criticamente no texto científico, e a discussão deveria também ser divulgada ao público leigo. Nessa discussão reside, para muitos cientistas, o verdadeiro fascínio da ciência.
Tem razão, Alexandrino. Uma recente notícia do Physics News Update dava conta de que o som não chega muito longe na atmosfera marciana (por conta de sua rarefação). Meio que en passant, mencionava que essa dedução tinha sido tirada de um modelo computacional, já que a sonda que deveria efetuar esta medição se esborrachou na superfície de Marte. Havia uma maior ênfase sobre o hardware utilizado do que sobre a façanha que foi montar este modelo (e o mais interessante é que o Daniel parece que nem notou essa notícia...)(há!...>8-)
Provavelmente o "grande público" sequer faz idéia de como os cientistas chegam aos resultados - que dirá de como formulam suas hipóteses e de como montam suas pesquisas. Mesmo os "curiosos" são levados - sem querer - a ignorar que os "resultados negativos" são importantes contribuições.
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