29 agosto, 2006

ciência e divulgação científica: uma comunicação possível?


Ainda estamos em Agosto... então aqui estão algumas impressões sobre o tema do mês.

Desde a iniciação científica, no início da década de 90, tenho formulado uma idéia – mais ou menos flexível – do que é a Ciência (fica a inicial maiúscula como reconhecimento do fascínio que esta palavra evoca em mim): um campo de intensa experimentação teórica e prática, calcado no raciocínio lógico, na argumentação sobre fatos, observações de causa e efeito, elaboração e teste de hipóteses explicativas, embebido na criatividade e na liberdade à formulação de idéias, cuja orientação mais ampla (ou seria presunção?) é a compreensão da Natureza, de como ela opera e de como pode ser explorada (ainda mais presunçoso, não?). Além da formação de novas idéias, há neste fenômeno humano de “fazer ciência” a formação de pessoas, recursos humanos capacitados para pensar e agir cientificamente, o que é algo ainda mais fantástico!
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3 comentários:

João Carlos disse...

Ana Cláudia, de minha posição de leigo o que tenho observado é que - por mais baixa escolaridade que tenham as pessoas - quando os assuntos científicos são colocados em uma linguagem compreensível, o interesse é grande.
Se a divulgação científica for deixada apenas nas mãos da "grande mídia", o resultado (me parece) não será grande coisa, uma vez que os repórteres estão mais interessados em "causar impacto" do que, realmente, informar o público. Por outro lado, os cientistas acabaram se fechando em "torres de marfim", onde o "publhsh or perish", só leva em conta os papers acadêmicos e considera a "divulgação científica" no mesmo patamar da sci-fi: o refúgio do cientista frustrado.
Isso nos remete ao nível do ensino de ciências, onde esta transmissão do conhecimento científico deveria despertar nos estudantes aquela ânsia pelo conhecimento que qualquer pesquisador conhece bem e não consegue entender por que outros não têm. Infelizmente, eu constato que este é o elo mais fraco da "corrente". Os professores estão desmotivados, ou são simplesmente incompetentes, ou foram devorados pelas sinistras engrenagens da "máquina de preparar para o vestibular".
Talvez o Daniel se lembre de uma das perguntas que apareceu no site "Queremos Saber" da UFC: um candidato ao curso de Direito que queria saber para que raios ele precisava saber o significado do "Número de Avogadro". Como talvez você se pergunte para que raios você teve que aprender sobre o estilo "gongorista" de literatura.
É justamente contra esta pletora de ensinamentos que não levam a nada - a não ser causar raiva nos estudantes contra certas matérias - que eu me insurjo. A matéria "biologia" sempre foi um pesadelo para mim. A "decoreba" nunca foi o meu forte e a matéria nunca me foi apresentada como um ramo atraente do conhecimento. Hoje, depois de velho, eu me sinto "lesado": fui enganado por incompetentes, levado a me desinteressar de um ramo interessantíssimo da ciência. E - como bom ignorante - por vezes me deixo levar por generalizações imprecisas, "mitos" e argumentações pseudo-científicas, por pura incapacidade de avaliar a validade das afirmações.
E essa tarefa não pode ser levada a cabo "de baixo para cima". Os cientistas vão ter que descer da cátedra e conduzir o processo de divulgação das ciências - porque só eles realmente sabem do que estão falando.
Eu - que acompanho Blogs de cientistas nos EUA - vejo o problema, cada vez maior, em transmitir conhecimentos científicos a um público cada vez mais "alienado", e competir com o obscurantismo dos fundamentalistas religiosos e políticos.
(Você falou que seu artigo saiu maior do que o pretendido... imagine o que eu penso deste meu "cartapácio", a título de comentário...)

Lucia Malla disse...

Ana, acho q seu post fez um otimo compendio de tudo q foi discutido ateh agora. E concordo com o Joao: os cientistas precisam descer da catedra para ajudar na divulgacao, caso contrario, continuaremos nesse zero a zero com o publico. O problema comeca em como descer da catedra: em geral, o cientista que se dedica a divulgacao eh encarado como um "frustrado" da ciencia, ou "aparecido". Isso precisa acabar, esse preconceito desnecessario entre os pares, pq na colabora em nada com a divulgacao. Precisamos unir esforcos, nao separar mais.

Beijos.

via gene disse...

João Carlos e Lúcia Malla!

Obrigada pelos comentários ao "post" e as observações pertinentes. Desculpem a demora em responder. Imaginei que notas publicadas ao final do mês (puxa... 29 foi bem tardio mesmo, ficamos eu e a Sílvia como as "lanterninhas" :))poderiam "pegar" os "navegantes" já cansados de discutir um mesmo tema (e fervilhando idéias para o próximo tópico), então me alegro com a disposição de vocês!

Segundo o João Carlos:
"...onde o "publhsh or perish", só leva em conta os papers acadêmicos e considera a "divulgação científica" no mesmo patamar da sci-fi: o refúgio do cientista frustrado."
- tenho a impressão de que apesar de parecer predominante, esta é uma visão meio velada pela academia, pois seria "politicamente correto" apoiar iniciativas desta natureza (veja, por exemplo, o prêmio José Reis de Divulgação Científica, o Edital Olimpíada de Ciências e o Edital MCT/CNPq nº 12/2006 (popularização da ciência) promovidos pelo CNPq recentemente) e o cientista ou acadêmico que manifesta esse tipo de "pré-conceito" corre o risco de expor que está contaminado pelos patógenos mesquinhos do mundo do "publish or perish" como você bem apresenta. Exemplos atuantes de vida científica dedicada ao ensino e divulgação, como o Prof. Mariano Amabis (USP) - citado na discussão temática deste mês - e o Prof. Leopoldo De Meis (UFRJ), entre outros ajudam a desmistificar isso um pouco, não?

Outra interpretação é que que além da pressão pela publicação de artigos (até porque os avaliadores do CNPq irão consultar sua "lista" de papers para decidir seu "valor" como proponente de algum projeto - inclusive dos editais citados acima :)), há maior "tolerância" com pesquisadores que captam recursos (estes dificilmente são vistos como frustrados mesmo que desenvolvam atividades de ensino e divulgação científica, não é?).

Agora, há bons e maus cientistas - como prevê qualquer sistema composto pela diversidade - e quando o cientista comprometido com fazer ciência e fazer divulgação de ciência tem espaço (neste sentido = ideal + financiamento) contribui para modificar essa idéia errada do cientista frustrado.

Outro comentário seu:
"conhecimento científico deveria despertar nos estudantes aquela ânsia pelo conhecimento que qualquer pesquisador conhece bem e não consegue entender por que outros não têm."
- isso foi revelador, ilustrou muito bem uma sensação que por vezes me aflige... ainda bem que existem alunos que superam o mau professor e visulmbram o fascínio científico e, há também, aqueles que tiveram bons professores para inspiração.

Mais um:
"Os cientistas vão ter que descer da cátedra e conduzir o processo de divulgação das ciências - porque só eles realmente sabem do que estão falando"
- conheço alguns "cientistas" que NÃO sabem do que estão falando... sinto informar... por cooperativismo eu deveria defender a "classe", não? Mas o mundo do cientista não é tão "cor-de-rosa" e em busca da auto-promoção, vaidade, ou seja lá que outra condição humana que nos persegue, pode ser interessante manter essa imagem de "donos da verdade" ou "guardiões do saber" que sabem do que falam. Acho que a maioria sabe... :) mas há controvérsias e discordâncias - agudas e crônicas - impregnando o tal "saber científico".

Segundo Lúcia Malla:

"O problema começa em como descer da catedra: em geral, o cientista que se dedica a divulgacao eh encarado como um "frustrado" da ciencia, ou "aparecido". "
- pois é, rotular é fácil... comentei algo sobre o "frustrado" ao responder ao João Carlos. Quanto ao "aparecido", acho que isso pode servir para o "bem" ou para o "mal" pois uma dose de exibicionismo pode estimular o ingresso do cientista no mundo da exposição pública, revertendo benefícios para a divulgação científica, por exemplo.

Obrigada novamente pelas ótimas manifestações,

abraços,

ana claudia