Tudo o que tem a fazer é escrever uma frase verdadeira. Escreva a frase mais verdadeira que souber (...) Se começasse a escrever rebuscadamente, ou como se estivesse defendendo ou apresentando alguma coisa, achava logo que podia cortar esses floreados ou ornamentos, jogá-los fora e começar com a primeira proposição afirmativa verdadeira e simples que tivesse escrito".
Ernest Hemingway, A moveable feast (Paris é uma festa), p. 29
O filósofo John Wilkins, no seu artigo The roles, reasons and restrictions of science blogs, publicado na edição de agosto da Trends in Ecology and Evolution, define um blog como "fundamentalmente uma página da web atualizada constantemente, com entradas ('postagens') que têm uma data, tempo e, se muitos autores contribuírem para o blog, selos com autor e nome". Para ele, um das razões flagrantes para a existência de blogs é a comunicação científica. Além disso, essa também é uma forma de desmistificar a ciência e de fazer frente a perspectivas contrárias, presentes no discurso público (e.g., anti-evolucionistas), àquelas científicas. Ainda segundo Wilkins, um blog que representa uma comunidade científica ou subdisciplina irá ele mesmo se transformar em uma comunidade.
Leia a continuação desse texto no blog "Um longo argumento"
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6 comentários:
Pô, Charles!... Tinha logo que citar o artigo do Wilkins?... (Quando - e se... - eu publicar a tradução, vai ficar com gosto de café requentado... :D )
Bom, já que todo o mundo aqui já leu o Wilkins (menos o público leitor), existe mais uma observação que ele faz, que eu julgo de suma importância: existem três possíveis "públicos-alvo" para Blogs de Ciências (ou sobre ciências, como é o caso do dele).
O mais comum é o Blog de "divulgação de ciências" que pode ter vários níveis de "profundidade", por assim dizer. Dou como exemplo a experiência da Ana Cláudia "via gene" Lessinger, com seu "Via Gene Kids", voltado para crianças de ensino fundamental. E, para manter os exemplos dentro dos participantes do "Roda", chegamos a níveis do "Semciência" do Osame e do "It's Equal but it's Different" do Daniel (principalmente seus links para os "This week in ArXives").
Uma idéia que o Wilkins aborda é o do Blog-diário de pesquisadores (que são em linguagem quase que necessariamente hierática), onde a "troca de calor" é entre cientistas-pesquisadores e que vão se transformar em futuros papers. Wilkins chega a citar que diversos editores "dão dicas" para pesquisadores-blogueiros sobre artigos em fase de revisão, para obter uma revisão por pares mais ampla.
Wilkins defende um ponto de vista que - é claro - é partilhado por todos nós: os Blogs de Ciências suprem uma lacuna no Jornalismo de Ciências, principalmente na divulgação para leigos, uma vez que a "grande mídia" está muito mal dotada neste setor.
Até mesmo por causa disso, o American Institute of Physics resolveu modificar o formato do seu boletim Physics News Update, tornando-o mais acessível ao público leigo. E, para manter as referências dentro dos participantes, é o que praticamente todos fazemos, buscando matérias "chamativas" e procurando explicá-las nos termos mais "pedestres" possíveis.
Resta vencer a resistência da "Academia" à linguagem informal dos Blogs (diga-se de passagem que eu acho a formalidade vetusta dos science papers uma estupidez - é possível ser sério sem ser vetusto). E - last, but not least - informar aos professores e à mídia em geral que "nós" existimos. Sem a colaboração dos professores de ensino médio para divulgar "nosso" trabalho, vamos continuar dependendo dos Google da vida para capturar a atenção do leitor ocasional.
Caro João,
Achei o texto do Wilkins um ponto de partida interessante, enquanto ficamos aguardando a traduação prometida... :)
Não sei bem se, aqui no Brasil, a "Academia" realmente resiste à linguagem dos Blogs. Acho que aqui ela nem sabe da existência e da importância deles! Digo isso com base na minha experiência acadêmica - sou Pós-doutorando na USP-RP e nunca (repito, NUNCA) ouvi algum professor dizer qualquer coisa a respeito de blogs científicos. Vejo isso quase como uma - desculpe-me o clichê - mania de grandeza acadêmica, que, por exemplo, não enxerga a relevância da divulgação científica mas, ao mesmo tempo, reclama do nível dos alunos ingressantes nas universidades (que foram formados em grande parte por professores que NÃO tiveram acesso à informação científica de qualidade).
Não sei bem se, aqui no Brasil, a "Academia" realmente resiste à linguagem dos Blogs. Acho que aqui ela nem sabe da existência e da importância deles!
E eu temo que você tenha razão!... É que eu me acostumei a esta dúzia de participantes do Roda de Ciência e me esqueço, por exemplo, de um companheiro de juventude, biofísico (da primeira turma de biofísicos da UFRJ), atualmente na UFPE, que ainda acessa a Internet por conexão discada... (É mole fazer pesquisa com esses recursos?...)
Charles, vc está em RP? Onde?
Assim que o portal ABC estiver mais completo, em uma nova fase passaremos a divulgá-lo em sites visitados por professores, revistas de divulgação cientifica, escolas etc. Se conseguirmos um numero suficiente de sites externos apontando para a blogosfera cientifica (via ABC, Divulgar Ciencia etc), isso pode ajudar na decolagem dessa blogosfera (espero!)
charles, não sei se é mania de grandeza. será? imagino mais como limitação mesmo, as pessoas não costumam buscar meios de comunicação além dos que já conhecem. então tem um descompasso entre os que já exploraram outras rotas e os que não...
mas é verdade, em geral me sinto sozinha quando digo que blogues são um meio valioso para divulgação e discussão de ciência...
osame, vou ter que fazer meu papel de chata - conversas que não interessam ao público visitante do roda - e à discussão do mês - não deveriam acontecer por e-mail?
Caríssimos!
Obrigada João por ressuscitar o via gene kids, anda mais às moscas que o via gene... mas hei de voltar minha atenção para as crianças novamente, preciso apenas de um tempo, mas estou incubando algumas idéias...
Sei de professores que conhecem blogs, mas não RE-conhecem blogs...
não sei exatamente os motivos...
abraços, ana claudia VG lessinger (gostei, João!)
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