18 julho, 2007

O que há de errado com o ensino?


«When I think back
of all the crap
I've learnt in High School,
it's a wonder that
I can still think att all"

Paul Simon

Eu travei conhecimento com o Daniel (Doro Ferrante) através de um site chamado "Queremos Saber", na época, restrito ao Instituto de Física da Universidade Federal do Ceará. Apesar desse site, em particular, ter crescido e se tornado muito mais abrangente, eu só gostaria de mencionar uma pergunta, feita por um vestibulando de Direito: «Para que raios eu tenho que saber o "Número de Avogadro"?».

Leia mais aqui.

34 comentários:

Kynismós! disse...

João, o que está faltando na educação é disciplina, professores muito bem formados no aspecto técnico, ou seja, que realmente saibam a disciplina que vão ensinar e menos condescendência no meio escolar, se de um lado dizem que reprovação frusta, tenha certeza que do outro a não reprovação só avacalha, precisamos de um pouco de seriedade no meio educacional. Além de menos turmas por professor, turmas menores e melhores salários. No ensino público não federal a situação está tão periclitante que se precisa literalmente pegar na mão de um aluno do ensino médio para ensiná-lo a desenhar um "a" ou a fazer uma reta usando uma régua!

Um exemplo: precisava que os alunos soubessem como determinar o comprimento da circunferência dado seu raio no 1.° ano do ensino médio, daí peguei algumas panelas de diâmetro diferentes da cozinha da escola levei para sala medimos os perímetros (C) e os respectivos diâmetros (d), fizemos uma tabela e dividimos C por d(=2r), sempre chegando a um valor 3,1xy pra induzi-los a perceber que o comprimento da circunferência é C=2*pi*r. Um aluno até perguntou por que sempre era o mesmo valor (pi) e daí trabalhei a noção de semelhança, fiz o mesmo para o quadrado usando a relação entre o perímetro(P) e o lado (P/l=4, óbvio) e também entre o perímetro e a diagonal (P/d=2sqrt2, menos óbvio), construímos um grande quadrado na sala medimos sua diagonal e calculamos a razão chegando ao valor com acerto de três casa decimais (usei o Teorema de Pitágoras para calcular o valor teórico P/d=2sqrt2), teorema que alguns já tinham ouvido falar mas não entendem nem sabem usar).
Sim e daí? E daí que, primeiro eu não sou professor de matemática mas a aula foi válida pelas medidas, e segundo que na outra aula um raro ou outro lembravam que o comprimento da circunferência é C=2*pi*r.

Sobre alguns pontos de sua mensagem: o latinório é importante não só para a biologia como para todas as outras disciplinas, quem sabem um pouco do latinório sabe bastante sobre biologia (no nível do ensino médio), com diz o professor José Luís Soares em um dos seus livros de apoio ao ensino médio, o dicionário etimológico e circunstanciado de biologia, "quem sabe latim sabe biologia".
O programa do ensino médio não é exagerado, o que está faltando é estudo. Como existem alunos que estudam e passam em vestibulares de alto nível como os do ITA e do IME, existem alunos que terminam o ensino SUPERIOR sem saber raciocinar em cima de uma regra de três, exemplos disso não faltam em minha escola (dentre os professores)!

Peço-lhe que assista os seguintes vídeos e se possível leia os respectivos textos:

http://www.youtube.com/watch?v=KezHC1YO_dg

e

http://www.youtube.com/watch?v=ovKxvwQv6i8

e os respectivos textos

http://www.ghiraldelli.pro.br/modules.php?name=News&file=article&sid=32

e

http://www.educacao.pro.br/modules.php?name=News&file=article&sid=12

Shridhar Jayanthi disse...

João, eu não acredito que exista uma dicotomia entre decorar e pensar, entre aprender a pensar e aprender conteúdo. Essa dicotomia existiria se o tempo do aluno fosse um bem limitado, mas sabemos que não é assim. O número de Avogadro não é apenas o resultado de uma conta braçal. Ele também é uma das bases filosóficas da teoria atômica, juntamente com as proporções dos gases. O latinório besta das aulas de biologia foi exatamente o que deu uma visão mais clara aos cientistas do final do século XIX a idéia de que uma coisa evolui a partir da outra...

Te garanto que a expansão do vocabulário e a melhoria dos seus textos veio em função da leitura dos vários livros e textos que sua professora recomendou. Qual a diferença entre ler o que elas pediam e ler os nomes científicos ou decorar a física? Uma coisa podia ser legal e outra coisa podia ser chata, mas isso não é parâmetro para o que deve ou não ser ensinado, senão trigonometria sairia do currículo. Estamos exigindo que o professor ensine para alunos que não querem gastar o precioso tempo usado para jogar bola ou ir para baladas com deveres de casa. Aí fica difícil.

Aluno, desde Pitágoras, sempre foi um cara chato e insatisfeito... e é por isso que não se pode deixar ele tomar conta de como a aula vai ser dada. Lembro de uma professora de português que passava extensas cópias de texto e das regras de acentuação. Uma vez, corajoso na 6a. série, eu falei pra ela que aquilo tudo era inútil para mim porque eu queria ser cientista e ela ao invés de me explicar ou motivar me disse "quando você virar professor de português, aí você muda". Nunca me esqueci disso, e quanto mais o tempo passa, mais razão eu dou a ela.

Kynismós! disse...

Pois é Shridhar Jayanthi, hoje também sou muito grato aos meus professores de português (entre outros) pelos vários trabalhos e estudos enfadonhos, e que eu mesmo assim, por vontade própria, não deixava de fazê-los.

João Carlos disse...

Vamos a alguns esclarecimentos. Primeiro a Kynismós:

Sim, falta disciplina (eu vou mais longe: falta um mínimo de "educação" (cortesia formal) - respeito é coisa que anda ausente em todos os níveis e locais).

Quando eu falei de "latinório" foi exatamente porque não se ensina mais latim e grego, nem a etimologia das palavras. Quer "germanório" pior do que Química Orgânica?...

Todos os exemplos que você citou, são ilustrações do que eu disse: ensinar mecanicamente a fazer e não explicar o que está sendo feito e por que. Ou seja, nada de raciocínio.

Shrindar: há uma grande diferença entre você ter que recorrer ao dicionário a cada terceira palavra de um texto de Machado de Assis, e ter que decorar as fórmulas de óptica, cinemática, etc. Fórmulas, quanquer handbook tem (poderiam ser dadas na introdução das provas; eu tive uma única professora que fazia isso, a Sarah). Você conhece coisa mais chata do que equilibra uma reação química (principalmente sem uma tabela de valência de ânions e cátions)?

E eu não disse que o Número de Avogadro é um resultado de trabalho braçal (embora tenha sido). Os exercícios de molaridade, que se fundamentam nele, é que são puro trabalho braçal.

As professoras de português que eu citei no artigo, também davam análise léxica e sintática (matérias áridas), mas mostravam o emprego das regras. Em suma, ensinavam os alunos a se expressar corretamente.

O que eu vejo por aí (e me desespero com isso) é gente que nem consegue pensar porque lhes falta vocabulário para tanto.

Sabe aquele tipo de conversa de "mulherinha"?:
- Fulana, me pega aquele "troço" que está aí, por trás do "negócio"?
- Aquele "treco" ou o outro?
- Aquele que fica todo "coisado"...
- Ah!... Sim!... Já achei.

Eu não consigo entender como pessoas podem sequer viver assim.

Kynismós! disse...

"Todos os exemplos que você citou, são ilustrações do que eu disse: ensinar mecanicamente a fazer e não explicar o que está sendo feito e por que. Ou seja, nada de raciocínio."

Juro que não entendi esse comentário?
Faço todo um processo de construção experimental (que nenhum matemático leia isso) de C=2*pi*r junto com os alunos e não teve nada de raciocínio?

Para que serve saber C=2*pi*r? Estais falando sério?

Kynismós! disse...

Eita me esqueci de uma coisa:

se vê sim a etimologia das palavras quando se estuda em português radicais gregos e latinos, prefixos e sufixos.

João Carlos disse...

Kinismós: evidentemente que o exemplo que você deu é contrário da minha argumentação. Tão raro, que mereceu uma menção específica.

Você é mais um da grande maioria que faz do Professorado um Sacerdócio. O que não impede que os "montadores de currículo" atrapalhem seus esforços.

E também é verdade que se estuda sufixos e prefixos. Mas o peso desse estudo, em comparação com outros itens é ridículo. E a velha Academia Brasileira de Letras ainda piora as coisas, aceitando neologismos sem critério de qualidade.

Vou relatar outro incidente, ocorrido com minha filha, no Colégio Santa Úrsula. Na matéria "Português", me apareceram com um livrinho dirigido ao público pré-adolescente. Em primeiro lugar, foi o "cara" do meu avatar quem fez a revisão: cheio de erros tipográficos. O coroamento da estorinha era uma "redação", feita pela personagem principal, que teria sensibilizado tanto sua professora que esta quis guardar uma cópia. Entre as "pérolas" da tal "redação", havia a frase: "eu sou é uma burra". E queriam que eu aceitasse isso como "Norma Culta"!

Outro incidente: um livro de Geografia que, a cada passo de "Geografia Humana" comparava o resto do mundo a Cuba. Não nego as vantagens do sistema socialista, mas, toda hora se pautar em Cuba como paradigma, é levar as coisas longe demais. Já é proselitismo político.

Eu nem vou comentar sobre os incidentes ocorridos na Escola Estadual Professora Maria Rita Santoro, em Lambari, MG, porque já seria covardia...

Kynismós! disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kynismós! disse...

João, sinceramente, uma expressão que você deve conhecer bem: colei as placas!

Espero que quem leu não tenha colado também.

João Carlos disse...

Estou misturando alhos com bugalhos, né?... É que eu tenho um monte de consideraçãoes a fazer sobre o assunto, mas tenho pouco espaço e tempo.

Vamso ver se eu posso resumir os pontos essenciais:

- a humanidade mudou muito e os métodos de ensino, não. Fica cada vez mais difícil motivar os jovens de hoje, com métodos obsoletos;

- os currículos escolares estão muito mais voltados para dar emprego a professores do que para transmitir conhecimentos úteis aos alunos;

- com os baixos salários que pagam aos professores (no mundo inteiro), os melhores cérebros se voltam para atividades mais lucrativas. Resultado: a mediocridade campeia;

- o acanalhamento da sociedade, como um todo, retira dos professores o indispensável respeito dos alunos (eles não respeitam os pais, que dirá dos professores?);

- a cada meio-ano, aparece um teórico com uma nova proposta. Quando os professores começam a se adaptar à penúltima novidade, já têm que se ocupar em entender e se preparar para o novo modismo;

- como observa Bruno Bettelheim, um dos problemas com os jovens é que 20 anos e a eternidade têm aproximadamente a mesma duração. Eles não conseguem enfiar na cabeça que, para aprender física nuclear, há que estudar aritmética antes.

Shridhar Jayanthi disse...

Bom João. Eu não sei se a humanidade mudou tanto assim. A sociedade pode ter ficado bem mais complexa mas eu acho que o indivíduo moderno é o mesmo medieval e o mesmo grego. Os "jovens de hoje em dia" não estão menos motivados que os "jovens de outrora". A diferença pra mim é que os jovens de hoje em dia tem voz ativa, mas continuam tão ingênuos quanto os jovens de antigamente. O segundo ponto é que não existe real diferença entre o que é útil e o que é inútil no conhecimento. O que existe diferença é entre conhecimento instrumental e conhecimento filosófico e restringir o ensino ao componente instrumental gera alunos sem capacidade crítica.

No tocante ao resto, eu concordo com você. Salários baixos, sociedade que desvaloriza o ensino e incapacidade juvenil de aceitar o que é ensinado...

João Carlos disse...

Shridnar,

Os "jovens de hoje em dia" não estão menos motivados que os "jovens de outrora".

Ah!... Estão sim!... A perda dos valores morais (por hipócritas que fossem...) e a diluição do pátrio poder criaram uma total falta de paradigmas para a juventude.

Dê uma olhada neste artigo do "Chi,vó, non pó"

Kynismós! disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kynismós! disse...

Sinceramente, essa história de motivação é bem subjetiva.

Se papai e mamãe que pariu cobrassem as tarefas de casa já era uma boa motivação.

Em termos de personalidade o jovem deve ter mudado mas a máquina ainda é a mesma, e se não quiser estudar não vai aprender mesmo.

A escola perfeita seria assim: quer estudar? 1) Sim – Então se prepare que vem aí chumbo grosso, mas não se preocupe, você só irá ganhar com isso.
2) Não – Então se prepare, você terá sérios problemas na vida.

Sabem porque dentre as escolas públicas os colégios de aplicação, os CEFET's e os colégios militares são as únicas que tem um qualidade razoável e competem em pé de igualdade com as melhores escolas particulares? Simples, educação e disciplina, ou estuda ou se ferra, sem falar de um tal exame de seleção que os alunos fazem para poder ingressar nas mesmas.

Reativem os exames de admissão!!!

Kynismós! disse...

Faltaram três coisas sobre as escolas públicas que funcionam: professores razoavelmente bem formados, bem pagos e bem cobrados.

Kynismós! disse...

Coincidências a parte: http://ghiraldelli.blogspot.com/2007/07/um-inseto-chamado-prostituta.html

João Carlos disse...

Kinismós:

Eu finalmente li o artigo que você "linkou" (desculpe a demora).

Não faz muito tempo que o Daniel trouxe à baila o fenômeno da Apofenia. O que se nota é, primeiro, uma "Apofenia Social" (de resto, já demonstrada em diversos testes, onde pessoas famosas, usando uniformes de gari, passavam despercebidas).

E, de outro, um total "afrouxamento" dos códigos de conduta ética. Estão dando muita asa aos adolescentes, cujo discernimento é, comprovadamente, subdesenvolvido. Exemplos típicos: "botar fogo em um índio é errado; se fosse um mendigo, podia" e "espancar uma doméstica é errado; se fosse uma prostituta, podia".

Eu acredito que três coisas precisam ser urgentemente revistas: A Lei de Execuções Penais; o infeliz Estatuto da Criança e do Adolescente; e a questão de Controle Externo do Judiciário. De quebra, poderiam rever os Códigos Penal e de Processo Penal, também. Não resolveria, mas já seria um começo...

Anônimo disse...

Olá João!

Parabéns pela postagem!

Ponderando sobre seu texto lembrei-me da Reorientação Curricular editada pela Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Logo na introdução há um item que pergunta “Para que ensinar?” e a resposta eu cito:

“Para formar indivíduos com uma atitude responsável e solidária perante o mundo, e isso exige asegurar a cada um deles autonomia intelectual, pensamento crítico e conduta ética nas relções humanas. Neste processo, o estudante deve mobilizar os conhecimentos adquiridos na escola, para aplicá-los à realidade (e até mesmo para reinventar sua própria realidade)”

No entanto, fica a cargo do professor mal formado preencher o abismo entre a proposta acima construida com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional pelos Parâmetros Curriculares Nacionais e as orações subordinadas substantivas objetivas diretas, o número de Avogadro e o processo de independência do Haiti.

Quando um aluno pergunta: “- Para quem eu preciso saber disso?”, apesar de toda as teorias, o professor engasga, ou apena para o utilizadíssimo “porque sim”.

Shridhar Jayanthi disse...

Talvez eu seja "velha guarda", mas eu acho essa resposta não é boa... existem diversas razões pelas quais se ensina. Tentar equipar indivíduos para que eles se tornem cidadãos produtivos, manter a herança cultural-científica-filosófica da humanidade (bibliotecas são inúteis se não sabemos ler), saciar curiosidade inata de alguns seres humanos, levar a mente dos alunos ao extremo...

No geral, eu sou da opinião de que a resposta à pergunta "para que ensinar" têm várias respostas metafísicas, mas a respostas "porque sim" é boa o suficiente.

Anônimo disse...

Estudei na mesma escola que lecionei, ao pé de uma das favelas mais violentas do Rio de Janeiro e curiosamente dos problemas que enfrentei a violência mais óbvia (alunos agressivos, armas dentro de sala, membros tráfico em sala) foi o menor.

Certamente meu ponto de vista está condicionado às minhas experiências e particularmente, acho ambas as respostas citadas insuficientes. A primeira é muito bonita, mas para formar “indivíduos com uma atitude responsável e solidária” é preciso que os professores atuem de forma responsável e solidária. E para preencher o abismo do qual falei é preciso que os professores dominem os conteúdos programáticos, o que muitas vezes não ocorre.

Creio que o “porque sim” não é suficiente especialmente porque um dos maiores problemas hoje é o total e absoluto desinteresse pelo que é ensinado que ocorre não somente entre o corpo discente oriundo das camadas mais pobres ou as mais privilegiadas. A segunda questão seríssima neste pto é que os professores, muitas vezes, usam esta resposta porque simplesmente não sabem o que responder.

Anônimo disse...

O Número Avogadro e a química básica inteira só são úteis para formar trabalhadores da indústria e dos serviços químicos, isto é, os técnicos em química. A escola básica e o vestibular deveriam exigir como matérias obrigatórias para todos os alunos só português (mais redação), inglês, matemática, educação física e espanhol. Todas as outras disciplinas deveriam ser opcionais.

João Carlos disse...

Sooraia:

Como facilmente se vê, não adiantaria nada você responder o "por que?" com a diretriz da Secretaria Estadual...

Uma resposta, talvez menos honesta, porém mais convincente, seria: "Você vai precisar deste conhecimento mais adiante" (o que nem sempre é o caso).

A resposta mais honesta - porém mais revoltante - seria: "porque isso cai nas provas e, se você não passar nas provas, não vai arrumar emprego". (o que, para vergonha nossa, é a verdade).

E vou acrescentar uma coisa. Meus filhos têm realizado diversos concursos públicos, onde sempre há questões de "interpretação de texto". Eu jamais consigo "gabaritar" essas questões. Como eu não me acho nenhum apedeuta, concluo que é mais uma questão de "interpretação pessoal" de quem elaborou a prova.

Anônimo disse...

A maioria dos professores está tão preocupada em ensinar que se esquece do fator mais importante na equação da educação: "a aprendizagem".
Ensinar não implica automaticamente em aprender.
Há uma fórmula mágica que permita aos professores (bem preparados ou não) conduzirem um aprendizado adequado?
Se vocês conhecem a fórmula me digam, por favor! :o)

João Carlos disse...

Juliana:

Não há fórmula mágica (pelo menos, que eu conheça...). O problema está em falta de preparo das aulas, mau emprego dos meios disponíveis e falta de acompanhamento imediato da absorção pela turma de cada "unidade" da matéria.

Mas qual é o professor que tem tempo para isso?...

Anônimo disse...

João,

você está absolutamente correto. Postei aquela resposta da Secretaria com o objetivo de trazer para o debate.

Se, por um lado, muitas vezes em minha prática do magistério não pude ser a melhor professora, por outro sempre procurei ser honesta e sempre utilizei ambas as respostas que vc sugeriu - incluindo a "revoltante".

Uma vez, li para meus alunos do Ensino de Jovens e Adultos (o famoso supletivo) a resposta da Secretaria de Educação. Após ouvirem atentamente, me pediram: "Sooraya, agora traduz pra gente."

Anônimo disse...

Juliana,

eu não creio em fórmulas, até porque a cada turma o professor deve aplicar diferentes estratégias.
Acredito em construção, a relação ensino-aprendizagem deve ser uma construção.

Shridhar Jayanthi disse...

Anônimo do número de Avogadro: Parece que o número de Avogadro serve só para resolver questões de vestibular. Não. O conceito filosófico expressado pela constante é muito mais profunda. Ele nos diz que existe uma relação profunda entre a massa e o átomo. Hoje a gente banaliza o conceito porque é sabido que átomos são constituídos por prótons e nêutrons que tem massa "1" e elétrons de massa desprezível.

Eu não sei de onde vem essa obsessão por reduzir o ensino ao que é "útil". E quem define o que é útil? A escola? Muita coisa "inútil" que me foi ensinado foi exatamente o que me inspirou a curiosidade e me motivou a seguir minha profissão. Mais idéias que não são minhas, mas que são parecidas com as minhas e que eu acho que valem uma leitura aqui (sigam as migalhas de pão).

Anônimo disse...

O "anônimo do número de Avogadro" se chama Luís e é licenciado em química por uma universidade federal mas se afastou das salas de aula. A relação entre o número de Avogadro, os cálculos estequiométricos e as questões de vestibular pode ser compreendida a partir de artigo publicado no periódico "Em Aberto" por Eduardo Fleury Mortimer, professor da UFMG. Se eu lembro certo, ele diz, entre outras coisas, que a reforma do ensino pós-1971 "exigia" que as questões de química fossem fáceis de corrigir na escola básica e/ou fossem adequadas para vestibulares de múltipla escolha. O que é interessante no Número de Avogadro é o próprio experimento de sua determinação, mas isso deve ser inviável para a escola básica.

João Carlos disse...

O que é interessante no Número de Avogadro é o próprio experimento de sua determinação, mas isso deve ser inviável para a escola básica.

Não só isso, mas o fato da Hipótese de Avogadro só ter sido verificada muito tempo depois, como Loschmidt fez para calcular seu valor e por que o padrão mudou de Oxigênio-16 para Carbono-12.

Isso "dá vida" ao Número de Avogadro e mostra como as ciências realizam seus avanços. Deixa de ser a decoreba de um valor (que, de resto, pode aparecer nas provas como um dado - evitando a decoreba) para se tornar toda a evolução de um raciocínio e dos esforços feitos para comprovar se estava certo.

E não custa nada dar alguns exemplos do porquê este número é importante (para isto, basta recorrer ao fato de que a química industrial se vale mais de fórmulas por peso do que as equações).

Pronto: deixou de ser um "mistério" e virou algo familiar: a receita de bolo que todos conhecem.

Anônimo disse...

Segundo achei em outro blog, um economista bem conhecido, referindo-se ao magistério, "sugere que o mais importante é melhorar a qualidade dos cursos de formação de professores, dando ênfase a práticas em sala de aula, como a aplicação de dever de casa, boa utilização do livro didático, avaliações constantes e uso eficiente do tempo em classe. Essas práticas, que têm resultados comprovados na melhoria do desempenho do alunado, não só não são ensinadas, como são vistas com grandes ressalvas por questões pseudo-ideológicas."

http://nabruzundanga.blogspot.com/2007/07/proletarizao-do-magistrio.html

João Carlos disse...

E, acrescentando ao que diz "Anônimo", não adianta só melhorar a qualidade dos cursos de formação de professores. É preciso evitar que esses professores com a qualificação melhor deixem a profissão, para se dedicar a uma mais lucrativa.

Ah... sim!... E o Ensino Público tem por obrigação ser o "Padrão de Excelência". Se não der para ser gratuito em todos os níveis (difícil de acreditar, considerando a carga tributária...), que seja pago por quem pode (e financiado por quem tem interesse no humanware; vide SENAI, SENAC e SENAR — por que será que as confederações que mantém esses serviços, não podem financiar CEFETs?...

Kynismós! disse...

Só para quem não sabe ou não se lembra, a tese de doutoramento de Einstein tratava-se da descrição de um novo método teórico para determinar os raios moleculares e o número de Avogadro e deu pano para manga por todo o século XX.

Kynismós! disse...

Esse tal Gustavo Ioschpe diz umas besteiras monumentais como essa:
"Há dezenas de estudos que demonstram não haver relação entre o salário do professor e a qualidade do ensino."

mas em alguns pontos até que é realista, no entanto não me parece ser a pessoa mais indicada para falar sobre educação, é um tipinho desses que gostaria de ver numa escola dentro de uma favela dando aula (ele e os pedagogistas que ele critica):
http://www.terra.com.br/istoe/1877/1877_vermelhas_01.htm

João Carlos disse...

"Há dezenas de estudos que demonstram não haver relação entre o salário do professor e a qualidade do ensino."

E pelo menos uma centena de outros, desmentindo isso!... É verdade que se consegue melhorar o relacionamento aluno/professor com diversas outras medidas que não a melhoria do salário. Mas é tão patente que o salário tem influência sobre a motivação (e sobre a possibilidade horária de dedicação à tarefa) dos professores, que discutir sobre isto me parece querer tampar o Sol com uma peneira furada.