31 julho, 2007

Educação na era Google

Nesse mês de julho que passou, o Roda de Ciência dedicou-se a conversar sobre o ensino básico em geral e sua participação no despertar da criatividade e curiosidade. Para variar, aos 45 minutos do segundo tempo, eu deixo aqui minha colaboração na discussão.

Educar não é tarefa fácil, e educar para a ciência talvez seja mais complexo ainda.

(Continue lendo aqui.)

18 comentários:

Kynismós! disse...

"As crianças hoje têm acesso a um mundo de informação muito maior que há algumas décadas, e elas em sua maioria, já chegam a escola "semi-educadas" - o termo não é bom, mas significa que elas já aprenderam algo valioso antes da escola."

Não, isso não é verdade se essas crianças em questão se tratarem de alunos de escolas públicas estaduais e municipais. Essas crianças chegam no máximo com a cabeça cheia de lixo na escola, sem saber ler e contar.

No mais tecnologia não muda o homem por dentro, não é à toa que o computador e a internet não acabaram e nunca acabarão com o prazer de se ler um livro de papel, essa balela de que as novas tecnologias devem ser inseridas e vão melhorar o ensino é pura conversa pra boi dormir de quem está querendo ou arrumar o que fazer ou aparecer no campo da educação, onde parece que é bem fácil vender gato por lebre a muitos que vivem em busca do santo graal do aprendizado fácil.

No mais (e agora para todo público infantil) essa torrente de informações do mundo de hoje não passa de lixo, lixo que não dá nem para ser reciclado, e só faz desviar a atenção dos jovens ainda mais do estudo.

Nada mais sadio do que crianças jogando pião, jogando bola de gude, etc., do que ficarem enfurnadas por horas na frente de um maldito vídeo game ou pc jogando, e muitas vezes perdendo a saúde.


Alguns dizem que ele é maluco, então somos dois, pois concordo plenamente com esse camarada aqui:
http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/

João Carlos disse...

Pinçado do artigo: Na infância, a percepção utilitarista da ciência é minúscula, e não raro indignamo-nos (e irritamos nossos pais) em aprendermos a taxonomia animal ou distinguir diferentes tipos de rocha. É mais simples a meu ver entender porque precisamos fazer análise sintática (para escrevermos melhor, algo que você exercita com frequência em todas as disciplinas) ou aprender equações trigonométricas (para saber calcular áreas e afins) que as questões que a ciência impõe.

Curioso... Eu, ao contrário, sempre me aborreci com análise sintática e trigonometria... Sempre preferi assuntos mais relacionados com algo que eu pudesse ver e identificar. Mas dei azar... Meu primeiro professor de Química era uma besta quadrada - daquele tipo bem ex-catedra... E só estudei biologia no 1º Científico, porque o Colégio (Estadual "André Maurois", Rio, RJ) resolveu fazer um Científico "dedicado" ao Vestibular (no vestibular de Engenharia Química, não havia prova de Biologia...)

Resultaram disso duas coisas: meu curso Científico foi pífio, e até hoje eu dependo do que aprendi no Ginásio... E, como acabei seguindo carreira na Marinha, o jeito foi me tornar auto-didata.

João Carlos disse...

Acompanhando o comentário de Kinismós:

Esse "lixo" que vem na cabeça das crianças vem muito mais da TV do que dos video-games. No meio do século passado, TV começava a transmitir às 17:00h... E não havia essa praga de animes e seus (péssimos) derivados americanos, que enchem as cabecinhas das crianças de personagens que resolvem tudo "no muque".

Isso, sem falar nos efeitos devastadores que a propaganda consumista instila, notadamente nas classes mais baixas, e na velada "propaganda" de práticas excusas que são enfiadas goela abaixo do público, principalmente o infantil, através de Novelas e programinhas de auditório...

Uma questão que me escapou, mas que me parece fundamental: não há como padronizar um modelo de ensino para o Brasil, simplesmente porque esse "Brasil" não existe. Existem, sim, diversos Brasís diferentes, que, mal e mal, convivem nos grandes centros urbanos e um "Brasil de TV" que é visto como uma coisa distante nas cidades do interior. As motivações de uma criança de Bagé, RS, são totalmente diferentes de uma de São Paulo, SP, e mais distantes ainda de uma de Rio Branco, AC.

O primeiro problema é enxergar issso: aqui não é uma Suécia, com apenas 8 milhões de habitantes e rica, nem uma Somália; é ambos, ao mesmo tempo!

A educação é apenas um dos problemas de um país que não quer reconhecer sua condição de não ser uma nação, mas um "império". O que funciona em Santa Catarina, não funciona em Pernambuco, e por aí vai...

Lucia Malla disse...

Vocês não acham que ficar nesse clima nostálgico de "no meu tempo era melhor", "a gente brincava de pião", etc. simplesmente não colabora muito com o progresso do ensino ao desprezar a realidade do mundo atual? Que as crianças de hoje podem não gostar de brincar de pião, bola de gude, etc, achar chato e sem graça? (Eu aliás já achava isso na década de 70.) Que as crianças podem gostar de verdade de animes e games, e um professor que os insira de forma inteligente na educação pode conseguir passar seu recado (o conteúdo a ser ensinado) de forma mais eficiente e até mais indagativa, participativa, sem perder a noção de autoridade?

Os fatos estão aí, querendo ou não, gostando ou não, as crianças estão mais expostas a toda essa tecnologia e lixo televisivo - mesmo as de escolas públicas, pois presenciei em vilarejos paupérrimos do norte e nordeste do Brasil agora em junho em TODOS os internets cafés q passei (sim, cidades pobres também têm internet café. Será isso resultado da velha lei da demanda?) crianças com uniforme da rede pública acessando orkut e quetais, dividindo o pagamento da hora da internet entre 5 ou 6 alunos. Foi aliás, algo que me surpreendeu.

Mas, como escrevi no meu post, eu não sou professora. Lidei pouco com ensino - só durante as disciplinas de licenciatura, e mesmo assim dei aula só por 1 ano numa escola pública rural, onde os meninos de 5a série tinham interessantemente um conhecimento da botânica local fenomenal (que eles obviamente trouxeram de casa, da história de vida deles antes da escola, da experiência deles no mato, não do q eu passava em sala de aula. "Idiota você se não aproveitar o q eles sabem pra ministrar suas aulas..." dizia minha professora de licenciatura.).

Talvez me falte a experiência que vcs têm com a garotada de hoje.

João Carlos disse...

Ponto para você, Lúcia!

Depois que Qausímodo nasceu, não adianta tentar enfiar ele de volta ao útero... O velho MacLuhan já prevenia que isso ia acontecer, na década de 1960 (só que, como sempre, ninguém prestou atenção).

O seu artigo sobre a Região dos Lençóis Maranhenses já deveria ter "acendido a luzinha de alarme", mas o velho gagá aqui não se tocou... Existem ciber-cafes onde nem um serviço de transporte público decente existe!...

Enquanto isso, as Escolas, quando têm um quadro de giz, já se dão por felizes... (isso, onde há escolas). Não é de estranhar que os alunos se desinteressem em aprender "análise sintática" se têm um Google ou uma WikiPedia à mão.

A sua experiência em uma escola de área rural, de certa forma, reforça parte do que eu falei: existem muitos "Brasís". Um onde crianças de 5ª série têm um grande conhecimento da botânica local e outro onde as crianças só fazem o circuito play-ground - shopping center - escola... "Planta é coisa suja, menino! Você brinca no canteiro e depois vem sujar o carpete!..." Podem até se confundir, pensando que falam o mesmo idioma, mas as escalas de valores nas quais as palavras se apoiam, são completamente diferentes.

O diacho é que o Gênio saiu da garrafa... E agora? Vamos continuar a debater qual é o melhor modelo: o coreano ou o hindú?... Ou vamos parar de "nomear grupos de trabalho para discutir os problemas" e arregaçar as mangas e por mãos à obra? Vamos fazer gritarias pela "Autonomia das Universidades", ou vamos procurar consertar o ensino básico que, cada dia mais, envia "analfabetos funcionais" para os bancos dessas universidades?

E alguém pode me explicar por que fazem tanta questão de escrever "Brasil" com "s", mas o Estado da Bahia continua com "h"?...

Silvia Cléa disse...

Oi, pessoal!

Lendo o que todos vcs escreveram, uma questão crucial me veio à mente: toda essa crítica e reflexão de vcs é baseada em quê. A Lucia já disse que não tem experiência didática e vcs? Indo mais fundo no questionamento, gostaria de saber se têm contacto íntimo e freqüente com a população pobre, de quem tanto falam.
Pois eu tenho, experiência didática e tb o contacto com a população citada e gostaria de deixar aqui o meu depoimento.
O que consigo ver, através do ensino atual, a formação de crianças confusas, para não dizer esquizofrênicas. Explico-me.
Aprendem, qdo conseguem ter um ensino decente na escola, a forma correta do falar e escrever.
Ao chegarem em casa, convivem com avós analfabetos, que não sabem escrever e falam de maneira completamente errada. O discurso familiar é repleto de idiossincrasias, que, devido à ignorância, está cheio de incorrenções gramaticais, inaudíveis aos ouvidos das crianças (meros aprendizes da Língua Portuguesa).
Quando seus pais fogem do padrão e têm alguma formação superior, passam a ser o parâmetro do conhecimento; porém, são fruto do convívio familiar e, portanto, reproduzem o mesmo discurso repleto de erros.
A um ouvinte externo, tais características são evidentes e facilmente perceptíveis - justamente porque estranho ao meio.
"Quem sai aos seus não degenera"...
Ter um professor atento a tais possibilidades é praticamente impossível, se ele nunca viveu a experiência. Daí a minha pergunta inicial...a importância do convívio além da sala de aula propriamente dita.

Lucia Malla disse...

João, digo mais: vi no Maranhão vilarejos de meia dúzia de casas que não têm água encanada, posto de saúde, etc. mas têm uma igreja evangélica, fazendo propaganda (pra não dizer implorando) pelo dízimo nas paredes de pau-a-pique. Para mim, isso fala muito sobre o país que vivemos.

E concordo com vc: não dá pra pensar em unificar a educação no Brasil. Temos realidades completamente diferentes dentro do país, e elas precisam ser analisadas separadamente. E copiar o modelo de um outro país, para mim, não é a solução plena. Podemos até acertar em alguns pontos fazendo isso, mas erraremos em outros e terminaremos deixando de lado a realidade que a Sílvia coloca: a informação de casa, que veio antes, contraditória e que gera essa esquizofrenia do ensino. Essa realidade é completamente diferente entre países, e não dá pra unificar.

Kynismós! disse...

Respondendo brevemente: eu tenho experiências didática, sou professor de física em um bairro da periferia do Recife.

Não temos, quem é professor, que abaixar a cabeça diante de todo o lixo que o mercado impõe aos jovens, muito pelo contrário, temos é que lutar contra isso. A educação é que deve mudar o mundo e o tal mercado, e não o mundo e o mercado mudarem a educação, essa segunda alternativa é o caminho do caos.

Quem já atingiu determinado grau de instrução na vida sabe bem que deve isso a ter colocado a bunda na caderia e metido a cara nos livros e não as novas tecnologias, isso é balela, discursinho falacioso de quem quer vender, vender e vender e que ainda é engolido facilmente até por pessoas instruídas.

Kynismós! disse...

Quem não conhece o livro "The deliberate dumbing down of america" deveria dar uma olhada:

http://www.deliberatedumbingdown.com/

Mauro Rebelo disse...

Gente, a internet não é o diabo, nem a televisão é. Só que a propaganda esta usando esses meios muito melhor que a educação. A gente tem que lutar contra o emburrecimento, as desigualdades sociais e regionais, mas não precisamos, para isso, continuar usando 'machadinha' enquanto o inimigo usa 'metralhadora'. A educação a distância, via internet vai crescer. É ponto pacífico! É bom todo mundo aprender a usar isso. Citando uma amigo, "O google é um sucesso porque é muito fácil de usar. A página mais acessada do mundo tem uma linha, não tem apelo visual e qualquer excluído digital conseguiria usar!" Vamos usar isso em favor da educação!

Ainda não é agora, porque as estatísticas mostram que 80% dos lares brasileiros não tem computador e 60% dos brasileiros nunca entraram na internet. Para a educação, não vai funcionar internet discada, vai ter de ser banda larga. Talvez por isso a Índia esteja iniciando agora um programa para colocar banda larga em cada domicílio do país nos próximos 10 anos. Nos estamos ficando para trás. De novo!

Ainda assim, não tenho nenhuma dúvida de que é mais fácil aprender biologia usando um computador. Mas pra ensinar, o professor vai ter que aprender... Aprender como o conteúdo digital quais os potenciais e as limitações dessa nova mídia. Vai ter que estudar! ;-)

Kynismós! disse...

Talvez seja instrutivo para alguns ouvir o aúdio dessa postagem

http://blog.meira.com/2007/08/02/estetica-da-periferia-recife-2007/

Lucia Malla disse...

complementares à discussão...

Lucia Malla disse...

O comentário acima era: "Alguns números complementares à discussão.." Foi engolido pelo "monstro" da internet mas já o recapturei aqui. (O link está correto.):)

Kynismós! disse...

Isso seria o milagre da multiplicação dos pães?

Kynismós! disse...

Mais comentários sobre as correntes de pensamento que com essa história de modernização do ensino e inserção de tecnologias na educação só contribuem para o emburrecimento da população:

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO NA PÓS-MODERNIDADE

João Carlos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Carlos disse...

Kiynismós:

Francamente?... Eu não achei a argumentação válida. Na verdade, achei um grande non-sequitur...

Começa por atacar a escola filosófica do "idealismo" para, depois, rejeitar o "utilitarismo"?... Então, afinal, o que é importante? Ensinar coisas práticas e do cotidiano, ou ensinar o que os "luminares" acham, do alto de suas cátedras, que é "importante"?

Kynismós! disse...

Com certeza é a segunda opção.