O gráfico mostra um crescimento super-exponencial dos casos confirmados de gripe suína no Brasil.
Obviamente isto é um artefato do processo de confirmação de casos, a menos que reflita um aumento da transmissibilidade da gripe. Ariadne, minha estudante de mestrado, está trabalhando em um modelo epidêmico que poderia reproduzir tal curva.
É claro que mais cedo ou mais tarde a capacidade do país de confirmar casos irá saturar (como já aconteceu em outros países). Mas se usarmos o conjunto de dados da última semana como preditor, podemos esperar atingir 1 milhão de casos (reais, que não serão necessariamente confirmados) na primeira semana de agôsto. Isso implicará em 10.000 casos graves (usando uma taxa super conservadora de 1% de hospitalização - a taxa real está entre 5 e 10%). Dado que temos atualmente 1.000 leitos para os casos graves, eu sinceramente não sei o que vai acontecer com os outros 9.000.
O pico da epidemia provavelmente se dará no final de agôsto, especialmente se as ondas de frio permanecerem até o final daquele mês.
É claro que isto é apenas um "educated guess". Mas se você olhar com cuidado os posts sobre gripe suína deste blog, verá que tenho tido um acerto de quase 100% nos meus chutes educados.
Disclaimer: o egocêntrico autor do SEMCIÊNCIA é apenas uma personagem.
6 comentários:
Osame, o teclado mais rápido do Oeste... ;) (Quer fazer o favor de parar de me plagiar antes de eu escrever?... :P )
acho que num post anterior eu disse que é verdade que não existe transmissão sustentada confirmada. Mas isso é uma afirmação puntual, no tempo t, que não leva em conta a derivada da curva nem os mecanismos de propagação envolvidos.
É como dizer, no momento do disparo do revolver em uma corrida, que a velocidade dos corredores é zero. Isso é verdade, mas inferir (ou sugerir) a partir disso que os corredores ficarão parados é absurdo. E é isso que o ministro Temporão ficou sugerindo para a população nas últimas semanas.
Medidas puntuais nada dizem sobre a progressão ou regressão de um processo.
Precisamos saber a velocidade e a aceleração. No momento, não apenas temos uma boa velocidade de aumento de casos, mas também uma aceleração nessa velocidade.
Embora o processo ainda não seja autócne, o numero de casos implica em aumento potencial de focos da gripe. Ou seja, basta que a empregada que estiver cuidando de um doente dentro de uma mansão fique gripada e volte para seu bairro que a coisa fica fora de controle.
O problema é que a contenção nunca deveria ter sido eleita como alvo primordial. Na verdade, imagino que ela não é, entre as pessoas sérias do Ministério da Saúde. A principal ação é preparar o sistema de saúde para aguentar o tranco durante a epidemia. E, quando se fala em preparação, deve-se sempre considerar o worst case scenario, por que não adianta chorar depois pelo leite derramado.
Curioso que a taxa de morte por caso confirmado é de 1% em vez da média mundial de 0.5%. Será o frio, serão novas cepas ou o numero de casos na Argentina está sendo subestimado? OK, pode ser uma flutuação estatística também...
Osame, acho que todo plano sério contra pandemia tem pelo menos duas fases de ação: uma de contenção e uma de mitigação(esta pode ter duas ou mais fases, dependendo do progresso da epidemia).
A fase de contenção é essencial para dar tempo para a fase de mitigação ser preparada. No caso desta gripe, dificilmente será a última mas já ajuda a diminuir o númeor total de infectados.
Eu não sou fã desse governo, mas eu passei a ter um pouco mais de respeito pelo Temporão depois de saber que ele é mestre em Saúde Pública pela Fiocruz e doutor em Modicina Social pela UERJ.
De fato o aumento da taxa de confirmação de casos preocupa, mas não acho razoável extrapolar a taxa dessa maneira.
Pode ser que o vírus se propague rapidamente por determinados círculos sociais e depois pare de crescer. Pode ser que o aumento de notícias sobre o tema alarme a população e ela mude de comportamento (pessoas lavando as mãos, escolas fechando etc).
Ao que me parece, a primeira e a segunda derivada da curva podem ser úteis para previsões do futuro próximo (dias), mais do que isso o erro provavelmente cresce de mais.
Leandro,
Se eu tivesse feito a mesma curva para a Argentina, teria acertado na mosca.
Só em Buenos Aires, especialistas estimam um número de 50.000 casos hoje.
Veja o que acontece quando vc interpola a taxa de crescimento do número de casos confirmados por um polinômio do terceiro grau. A previsão fica bem mais otimista :-).
[]s Leandro
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