21 junho, 2009

A epidemia chegou


O gráfico mostra um crescimento super-exponencial dos casos confirmados de gripe suína no Brasil.
Obviamente isto é um artefato do processo de confirmação de casos, a menos que reflita um aumento da transmissibilidade da gripe. Ariadne, minha estudante de mestrado, está trabalhando em um modelo epidêmico que poderia reproduzir tal curva.

É claro que mais cedo ou mais tarde a capacidade do país de confirmar casos irá saturar (como já aconteceu em outros países). Mas se usarmos o conjunto de dados da última semana como preditor, podemos esperar atingir 1 milhão de casos (reais, que não serão necessariamente confirmados) na primeira semana de agôsto. Isso implicará em 10.000 casos graves (usando uma taxa super conservadora de 1% de hospitalização - a taxa real está entre 5 e 10%). Dado que temos atualmente 1.000 leitos para os casos graves, eu sinceramente não sei o que vai acontecer com os outros 9.000.

O pico da epidemia provavelmente se dará no final de agôsto, especialmente se as ondas de frio permanecerem até o final daquele mês.

É claro que isto é apenas um "educated guess". Mas se você olhar com cuidado os posts sobre gripe suína deste blog, verá que tenho tido um acerto de quase 100% nos meus chutes educados.


Disclaimer: o egocêntrico autor do SEMCIÊNCIA é apenas uma personagem.

6 comentários:

João Carlos disse...

Osame, o teclado mais rápido do Oeste... ;) (Quer fazer o favor de parar de me plagiar antes de eu escrever?... :P )

Osame Kinouchi disse...

acho que num post anterior eu disse que é verdade que não existe transmissão sustentada confirmada. Mas isso é uma afirmação puntual, no tempo t, que não leva em conta a derivada da curva nem os mecanismos de propagação envolvidos.

É como dizer, no momento do disparo do revolver em uma corrida, que a velocidade dos corredores é zero. Isso é verdade, mas inferir (ou sugerir) a partir disso que os corredores ficarão parados é absurdo. E é isso que o ministro Temporão ficou sugerindo para a população nas últimas semanas.

Medidas puntuais nada dizem sobre a progressão ou regressão de um processo.
Precisamos saber a velocidade e a aceleração. No momento, não apenas temos uma boa velocidade de aumento de casos, mas também uma aceleração nessa velocidade.

Embora o processo ainda não seja autócne, o numero de casos implica em aumento potencial de focos da gripe. Ou seja, basta que a empregada que estiver cuidando de um doente dentro de uma mansão fique gripada e volte para seu bairro que a coisa fica fora de controle.

O problema é que a contenção nunca deveria ter sido eleita como alvo primordial. Na verdade, imagino que ela não é, entre as pessoas sérias do Ministério da Saúde. A principal ação é preparar o sistema de saúde para aguentar o tranco durante a epidemia. E, quando se fala em preparação, deve-se sempre considerar o worst case scenario, por que não adianta chorar depois pelo leite derramado.

Curioso que a taxa de morte por caso confirmado é de 1% em vez da média mundial de 0.5%. Será o frio, serão novas cepas ou o numero de casos na Argentina está sendo subestimado? OK, pode ser uma flutuação estatística também...

Carlos Hotta disse...

Osame, acho que todo plano sério contra pandemia tem pelo menos duas fases de ação: uma de contenção e uma de mitigação(esta pode ter duas ou mais fases, dependendo do progresso da epidemia).

A fase de contenção é essencial para dar tempo para a fase de mitigação ser preparada. No caso desta gripe, dificilmente será a última mas já ajuda a diminuir o númeor total de infectados.

Leandro disse...

Eu não sou fã desse governo, mas eu passei a ter um pouco mais de respeito pelo Temporão depois de saber que ele é mestre em Saúde Pública pela Fiocruz e doutor em Modicina Social pela UERJ.

De fato o aumento da taxa de confirmação de casos preocupa, mas não acho razoável extrapolar a taxa dessa maneira.

Pode ser que o vírus se propague rapidamente por determinados círculos sociais e depois pare de crescer. Pode ser que o aumento de notícias sobre o tema alarme a população e ela mude de comportamento (pessoas lavando as mãos, escolas fechando etc).

Ao que me parece, a primeira e a segunda derivada da curva podem ser úteis para previsões do futuro próximo (dias), mais do que isso o erro provavelmente cresce de mais.

Osame Kinouchi disse...

Leandro,

Se eu tivesse feito a mesma curva para a Argentina, teria acertado na mosca.

Só em Buenos Aires, especialistas estimam um número de 50.000 casos hoje.

Leandro disse...

Veja o que acontece quando vc interpola a taxa de crescimento do número de casos confirmados por um polinômio do terceiro grau. A previsão fica bem mais otimista :-).

[]s Leandro