10 outubro, 2008

Ficção Científica e Divulgação Científica: primeiras questões


OK, OK, acho que este será apenas o primeiro de alguns posts para este mês: é que o assunto é bastante extenso e complexo, ou talvez eu tenha a presunção de entender algo sobre isso, ao contrário de temas tais como mudança climática, crescimento populacional etc.

Neste post jogarei algumas perguntas para a Roda, a fim de conhecer melhor a opinião de vocês:

  1. Vocês acham que a Ficção Científica (FC) literária pode ser um facilitador para a Divulgação Científica (DC) ? Ou seja, o adolescente começa com Star Treck e acaba lendo Stephen Hawking?
  2. Existe algum tipo de correlação entre gostar de FC e escolha de carreira científica?
  3. A FC contribui para uma representação social positiva do cientista e da ciência, ou uma representação negativa?
  4. Certas mídias desenvolvidas na FC (por exemplo, HQ, games) poderiam ser adotados também como midia para DC?
  5. Seria possível e/ou interessante uma maior aproximação entre os divulgadores de ciência e o fandom de FC no Brasil?
Bom, é isso, aguardo os comentários. Em um próximo post colocarei alguns pensamentos sobre estas questões.

Foto: His Master's Voice (original Polish title: Głos pana) is a science fiction novel written by Stanisław Lem, first published in 1968. It was translated into English by Michael Kandel in 1983. It is a densely philosophical novel about an effort by scientists to decode, translate and understand an extraterrestrial transmission. The novel critically approaches humanity's intelligence and intentions in deciphering and truly comprehending a message from outer space. It is considered to be one of three most known books by Lem, the other two being Solaris and The Cyberiad.[1]

23 comentários:

João Carlos disse...

(Claro que minha opinião é baseada em minha experiência pessoal...) Então, respondendo suas perguntas:

1 - Mais ou menos isso... Eu comecei lendo Heinlein, Asimov e Clarke (de modo que o treknobabble nunca me impressionou muito...) Nas décadas de 1950/60, o "quente" eram os mega-computadores que iam "dominar o mundo"... (Por falar nisso, a escolha de Hawking foi bastante infeliz: o cara escreve muito mal!)

2 - Não necessariamente. Pelo que eu saiba, grande parte dos cientistas detestam sci-fi (não esquecer que sci-fi vai de "Fundação" até "Plan 9 from outer space" - por falar nisso, eu tenho esse trash em fita... e adoro!...) Certamente quem gosta de sci-fi ganha um interesse todo especial por ciência - mas não segue, necessariamente, uma carreira de cientista.

3 - Eu diria que contribui mais negativa do que positivamente. Os personagens principais de sci-fi raramente são os cientistas... O arquétipo do "cientista louco" é muito mais difundido e, normalmente, figura de "vilão" nas tramas.

4 - Sem dúvida! O próprio conteúdo da sci-fi já é uma "mídia" importante. O problema é que os games são muito mais direcionados para a space-opera e para a fantasy (mesmo os filmes de sci-fi costumam trair miseravelmente os livros nos quais são "baseados"; eg: "Contato")

5 - Igualmente, sem dúvida! É muito importante que os fãs de sci-fi saibam distinguir o que é "ficção" e o que é "científico".

João Carlos disse...

Em aditamento à resposta "3": Quem normalmente "sai bem na foto" da sci-fi não são os "cientistas": são os "nerds"... Esses, sim, são cantados em prosa e verso!...

Alexandre disse...

Olá Alcione Torres...

Vi seu comentário no meu blog e resolvi fazer um post especial para responder... e estou mandando o link aqui o link do post com resposta ao seu comentário e agradeço ao comentário...

http://pinguimverde.blogspot.com/2008/10/respondendo-comentrio.html

Anônimo disse...

1 - sim. basta a gente saber adaptar uma coisa a outra.
2- não acredito que haja correlação
3- depende da trama, geralmente há apresentação de um estereótipo do cientista ou da ciência.
4 - Com certeza! Eu lembro que conheci Galileu Galilei e Robert Fulton, entre outros, lendo HQ do Pateta (Mickey) na década de 70.

5- tudo é possível. Basta que encontrem-se, eu creio.

Carlos Hotta disse...

Vou aproveitar o espaço para chamar a todos para uma Blogagem Coletiva sobre "Descobertas Científicas" dia 14 de outubro.

http://lablogatorios.com.br/raiox/2008/10/02/carnaval-cientifico-grandes-descobertas-cientificas/

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Sim, é possível fazer HQs de DC. Um exemplo brasileiro é o Diucênio
Rangel,que tem um álbum de capa dura com um bacana da física, e foi usado
direto nos circuitos didáticos

Alvaro Domingues disse...

Uma boa parte da produção de ficção científica americana e russa dos anos 50 e 60 tinha como objetivo gerar o interesse pela ciência. Se você pegar alguns textos da época percebe uma preocupação dos autores em serem claros e, até, didáticos. Essa tendência continuou. Quando pegamos Encontro com Rama dde Arthur Clark temos a impressão de estarmos vendo um documentário da Discovery, tal é o acumulo de informações científicas ali presentes (ainda que algumas sejam pura especulação). Tanto ele como Asimov se dedicarm à divulgação científica. Esta preocupação não está presente hoje. Nevasca (Snow Crash) de Neal Stephenson, por exemplo, não pretende ensinar ninguém a navegar pela internet.
Eu acho que hoje em dia há uma superposição dos campos, onde alguns leitores de ficção científica são leitores de divulgação e vice versa, não por sejam leitores deste ou daquele genero, mas por que são simplesmente leitores, em que um dos interesses é a ciência.

Alvaro Domingues disse...

Sobre a correlação de ciência e ficção científica. Não creio que haja. O interesse pode ser despertado pela leitura de FC, mas a decisão não. Há mais fatores envolvidos. Uma pessoa com fortes tendências a ciência lerá mais divulgação científica e FC, mas eu acho que a correlação é em sentido oposto, ela lê DC e FC por gostar de ciência e não vice versa. Vale uma tese de doutorado...

Alvaro Domingues disse...

Quanto a figura do cientista. Não há uma única visão do cientista na FC, indo do estereótipo do cientista louco, passando pelo fanático pelo seu trabalho e chegando no abnegado benfeitor da humanidade.

Alvaro Domingues disse...

Qaunto as mídias: Qualquer suporte midiático usado na FC pode ser usado na DC, quer HQs, Games, filmes, RPGs e até jogos de tabuleiro...

Alvaro Domingues disse...

Quanto uma aproximação entre o famdom de FC e os divulgadores de ciência:

Sim, é absolutamente necessário que este contato ocorra!

mamendes disse...

Acho que sim, pelo menos é o meu caso, embora eu misture sci-fi com humor.

Mas é pura falta de talento, por mim eu misturava sci-fi com noir à la Blade Runner.

Eu gosto de pensar que a curiosidade é sempre o caminho pra evolução. Tá, tô plageando novamente...

João Carlos disse...

Meio que em "Off":

(É impressão minha, ou está havendo uma "seca geral" de criatividade?... Eu estou com um "bloqueio mental" terrível para escrever algo que preste... E o tema é tão bom!... :( )

Walner Mamede Júnior disse...

Acredito que o gosto pela ficção científica seja uma das muitas manifestações daqueles que possuem interesse por Ciência, mas o inverso pode, embora não necessariamente, ocorrer: a criança e o adolescente, tendo acesso a conteúdos (livros, gibis, filmes)de ficção poderão se sensibilizar e desenvolver uma maior afinidade por tais temas. Ainda que não sigam carreira como cientistas, sua biografia acabará por ser influenciada nessa direção contribuindo com a formação de sua personalidade. Particularmente, sempre tive especial interesse pela ficção científica. Sou um aficcionado colecionador de gibis e os conceitos (muitas vezes absurdos, mas instigantes)discutidos nas estórias sempre me atrairam, moldando minha forma de ver o mundo. Entretanto é bom ter claro o quão multifacetados são os processos de modulação da personalidade. Não basta o acesso à ficção para que o adolescente desenvolva uma personalidade afeita à Ciência. O contexto cultural no qual experiencia sua cotidianidade (família, escola, amigos e outros grupos sociais, com ênfase para a família) será de relevante importância. Se em tal contexto o questionamento, a crítica, o estímulo à curiosidade e à razão não são elementos de peso, a leitura de ficção científica poderá ser mera tarefa recreativa e de pouca interferência.
Quanto à divulgação científica, retomarei uma postagem anterior minha: Há uma discussão atual no meio científico, particularmente nos EUA onde está mais avançada, que afirma a necessidade de cientistas se dedicarem mais à divulgação/popularização das descobertas científicas em linguagem acessível e agradável ao leigo. Marcelo Gleiser, um brasileiro professor de física e astronomia do Dartmouth College,EUA (confira artigo pelo link "Papel social do cientista", http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252008000100006&lng=pt&nrm=is), defende essa idéia e faz coro com outros cientistas pela adesão de colegas nessa missão. Infelizmente, no Brasil, isso não é tão valorizado quanto nos EUA, mas existe uma tendência a aumentar em decorrência da própria demanda popular por maior conhecimento. Contudo, devemos tomar cuidado, pois a massificação pode produzir charlatania ou equívocos em nome da fama, até porque alguns conceitos, para serem compreendidos pela maioria leiga, necessitam ser tão simplificados que correm o risco de sofrer degenerações e reducionismos nocivos.

Renato de Mei Romero disse...

Acredito que a FC limpa e bem embasada tem um enorme poder nas mãos, ou melhor nas mentes. De Julio Verne a Spock acho que tivemos muitos acertos.
Abraços e parabéns pelo blog.

Luiz Bento disse...

Saiu um artigo na revista Ciência e Educação intitulado "A ficção científica e o ensino de ciências: o imaginário como formador do real e do racional"

Acho que vale a pena uma lida...
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132008000200006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

Abraços.

Luiz Bento disse...

Ih, acho que o link ficou cortado...vamos de tinyurl então:

http://tinyurl.com/6dwylc

Osame Kinouchi disse...

Cadê as postagens do pessoal da Roda?

Walner Mamede Júnior disse...

Ei! Por que um tema tão interessante não está suscitando comentários e análises igualmente interessantes?! Onde estão os escritos filosoficamente fundamentados, característicos deste blog?! Já dei minha humilde contribuição! Cadê as considerações, discordâncias e contribuições dos demais participantes?!

Maria Guimarães disse...

eu estou um tanto à margem da discussão, porque não tenho afeto específico por ficção científica. gosto de alguns filmes de ficção científica, mais por serem bons filmes do que por serem ficção científica.
na hora de ler, prefiro literatura não científica. já vivo ciência no trabalho, na hora de descansar preciso de outra coisa. então para mim não existe relação direta entre as duas coisas.

Alvaro Domingues disse...

Para Maria: Mas, segundo seu profile, vc trabalha com jornalismo científico... Vamos colocar uma hipotese: suponha que seja lhe pedido uma reportagem sobre a relação da FC com a divulgação cienticia. O que vc teria a dizer como jornalista?

cipexbr disse...

Como educador e entusiasta da ficção científica penso que ela possa ser usada sem problemas. Tenho inclusive um artigo demonstrando isso:
http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v14n2/a07v14n2.pdf
Abraços e parabéns a todos pelo blog.

Se quiserem conhecer um de meus bloges, este sobre ciência:
http://oscientistas.wordpress.com/