Por Rogério Silva
Pensando no tema de outubro entre ciência e arte eu achei que deveria tratar de Julio Verne ou Michelangelo que não eram cientistas, mas criaram muito para a humanidade. Gostaria talvez de versar sobre Moritz Echler, entre a arte e a matemática, mas meus conhecimentos sobre eles é pequeno e só então me dei conta de que já havia escrito algo sobre o tema no meu blog sob o título “Experiência e construtividade em Walter Benjamin”.
Walter Benjamin parece estar falando sempre de dois tempos. Um tempo perdido de criação e um tempo posterior de recriação. O primeiro tempo é o tempo da experiência, tempo da conhecer, tempo da ciência e um tempo posterior de construção ou de arte.
Esse tempo de criação parece ser um tempo primitivo, o tempo do narrador, do artesanato. É a passagem do artesanato para a produção em série, que muda a forma da narrativa e faz surgir o romance.
O romance sai da experiência individual (Erlebnis), não compartilhada, para a coletiva (Erfahrung), onde o leitor persegue o mesmo sentido dado pelo autor.
Espero, ainda que tardiamente, estar contribuindo para o tema.
2 comentários:
«Espero, ainda que tardiamente, estar contribuindo para o tema.» Está professor! E por um ponto de vista ainda não abordado. A ciência social, posta sob a forma de ficção, crônica ou narrativa romantizada confere ao estudioso uma liberdade não possível nas "ciências exatas".
Os praticantes de "ciências exatas" tendem a ignorar - talvez por distorção do ofício - esse aspecto mais "mundano" daquilo que eu chamo da "arte de fazer ciência", a divulgação. O sehor cita Jules Vernes e Michelangelo como "não-cientistas". Eu me permito discordar dessa colocação. Eu os colocaria em um meio termo entre o "cientista" e o "artista", um pouco de cada um.
O adágio popular que diz "de poeta, médico e louco, todos temos um pouco". Substitua "médico" por "cientista" e o rifão popular nada perde em seu significado mais profundo. Talvez nas chamadas "ciências humanas" essa clara distinção entre o "cientista" e o "artista" seja menos perceptível. As abordagens mais intuitivas são, não obstante, apoiadas em experimentos e estatísticas comportamentais. Mais do que nas "ciências exatas", o caráter artístico criativo aparece nas "ciências humanas".
Achei particularmente significativo o trecho:
«Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar. Ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é perambular com inteligência. O inútil é artístico. Daí o desocupado flâneur ter sempre na mente mil coisas necessárias, imprescindíveis, que podem ficar eternamente adiadas».
As melhores idéias nas "ciências de ponta" surgem dos flaneurs que se afastam do corpo "doutrinário" da ciência e ousam caminhos inexplorados, ou mal-explorados.
Oi João Carlos, obrigado pelo comentário.
"Os praticantes de "ciências exatas" tendem a ignorar - talvez por distorção do ofício - esse aspecto mais "mundano" daquilo que eu chamo da "arte de fazer ciência", a divulgação."
Você tocou com o dedo na ferida, o que está em jogo é exatamente o mundano a (Weltanschauung), a cosmo visão ou visão de mundo que permeia as relações humanas.
Seria previsível tentar reconquistar o estatuto de ciência invocando o exemplo da mecânica quântica, alguns como Popper, invocariam o critério da “não refutabilidade“, outros utilizariam, ao encontro desse argumento, a noção de “paradigma”, como Kuhn. Contudo, gostaria de seguir com Isabelle Stengers em La Volonté de Faire Science (A vontade de fazer ciência) quando ela se propõe não falar em nome da ciência.
Para ela, que os cientistas ao trabalharem “junto” “conjunto” têm sido freqüentemente subestimados, ou mais precisamente definido como conseqüência do fato que a ciência, pelo seu próprio estado, levaria a enunciados objetivos: suscetíveis, portanto, ao direito de se por de acordo todos aqueles que se preocupam com ela. Vem daí, aliás, a análise epistemológica que tende a por em cena um cientista isolado, face ao que ela define como o problema crucial de toda ciência: “tal enunciado é científico?” A ela, a tarefa de formalizar, e mesmo de corrigir, os critérios conforme os quais cada cientista é obrigado a resolver esse problema, quer dizer, obter uma definição formal do que faz uma ciência ser ciência. A passagem do cientista isolado para o conjunto dos cientistas será em seguida resolvida de uma maneira que os matemáticos definem como trivial, simples adição de indivíduos que devem, apenas verificar que cada um entre eles se submeteu de maneira adequada à disciplina comum. É o que ela propõe com “A nova Aliança”.
Eu colocaria assim: diferentemente da matemática onde 1+1=2; nas ciências humanas; um indivíduo + outro indivíduo = amor, paixão, arte, sexo, porrada, ciência, crime, discurso e discussão, porre e assim por diante até o infinito passando inclusive pelo zero ou nada, a indiferença, ou simplesmente dois indivíduos. Discutir a relação pode, matematizar não.
"“O senhor cita Julles Vernes e Michelangelo como "não-cientistas". Eu me permito discordar dessa colocação. Eu os colocaria em um meio termo entre o "cientista" e o "artista", um pouco de cada um."
É, eu concordo e não concordo porque estaríamos falando da mesma coisa, veja como é difícil estabelecer o limite do cientista e do artista. Como artistas fazem ciência e/ou como cientistas fazem artes.
O resto de seu comentário eu me aproprio e incorporo ao meu texto como um aditamento.
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