09 abril, 2009

A linha demarcatória entre ciência e pseudociência é fuzzy...


Maria sugeriu que eu transformasse meus comentários em um post. Aqui vai, mas ainda sem muita ponderação...

Vamos definir pseudociência primeiro? Proponho a seguinte definição mínima: uma afirmação ou teoria é pseudocientífica se ela contradiz teorias científicas bem estabelecidas, não dá conta de forma honesta das evidências contrárias (por exemplo, só o faz apelando a teorias conspiratórias) e AO MESMO TEMPO afirma de modo forte que continua a "ser científica".

Assim, se uma corrente filosófica ou escola (ou religião) não afirmam ser científicas, então não são pseudocientíficias por esta definição: ou seja, elas nao tentaram passar por científicas (dai o adjetivo pseudo) quando não o eram.

Neste esquema, a Psicanálise, o Camdomblé e a Teologia da Libertação não são pseudocientíficas, mas a o Criacionismo científico, a Cientologia e o Espiritismo seriam (apenas na medida que afirmam que possuem bases científicas sólidas que na verdade não possuem).

Achei o tom do post do Igor meio rigoroso, ele elimina a Economia e a Meteorologia como campos cientificos (para nao falar das ciências sociais) pois em tais áreas nao é possivel fazer previsões .Ou alguém previu (cientificamente) a crise mundial?

Eu aprendi em "Contra o Método" de Feyrabend e "A Estrutura das Revoluções Científicas" de Kuhn (e na minha experiência pessoal de 20 anos como cientista) que o processo científico não é tão certinho, progressivo e linear assim. Acho que existem práticas metodológicas (usar bons metodos estatísticos, evitar falácias lógicas, argmentar usando evidências etc), mas fica dificil acreditar no Método com M maiúsculo.

Continue a ler no SEMCIÊNCIA.

4 comentários:

Anônimo disse...

Costumo dizer que 10% da psicologia é ciência. Os outros 90 eu tenho medo.

Rogério Silva disse...

é uma boa piada! hehehehe

Osame Kinouchi disse...

Pessoal, o ABC está funcionando normalmente agora (ele estava com um problema no Joomla há alguns dias). Dêem uma olhada e contribuam com novos links de blogs científicos...

Osame Kinouchi disse...

Trazendo alguns comentários que deixaram no SEMCIENCIA:

"Só lembrando que uma pseudociência pode se transformar em ciência na medida em que seus defensores apresentem evidências e validações científicas de suas crenças.

9:24 AM, Abril 09, 2009

Vitor Pamplona"

"Acho que não há nada melhor do que filosofia da ciencia feita por cientistas. Cansaria de citar nomes.

Mas, na minha opinião, a boa filosofia da ciencia chega a ser normativa, enquanto que a ciencia, ela mesma, é quase um vale-tudo (fraudes, falta de "lastro" empírico, paper-makers, etc.).

E não adianta cobater a pseudo-ciencia. É fenômeno psicologico. As pessoas precisam de crenças (beliefs).

R.

10:32 PM, Abril 09, 2009"

" Tenho que puxar a sardinha para o meu lado, eu sou postulante a filósofo e não cientista no termo clássico da palavra. Não existe, a meu ver, prevalência sobre "quem deveria” fazer a Filosofia da Ciência, desde que essa Filosofia da Ciência cerque-se de uma argumentação plausível que coloque em causa o que realmente pode trazer de avanço e eliminação de incoerências na prática científica.

Embora seja de se esperar que um filósofo também cientista fale com mais propriedade sobre ciências que um filósofo não cientista, a exigência sine qua non desse pré-requisito é apenas pré-conceito probabilístico e incorre no risco do filósofo cientista redundar seus argumentos sem que veja fora do círculo em que está circunscrito. Não é necessário ter medo. Necessário é apenas o rigor com que se debruce sobre o que se fala, independente das credenciais envolvidas.

Gostaria, porém, de comentar a definição de pseudociência do Osame. Foi muito bem usado o termo “AO MESMO TEMPO” nos itens relacionados que definiram uma pseudociência. No entanto é bom lembrar que uma teoria que contradiga as teorias científicas bem estabelecidas, se não cumpre os outros requisitos, ela não deixa, de forma alguma, de ser ciência, se o que ela prediz a partir de seus postulados puder ser corroborado empiricamente em ambiente controlado.

Por outro lado concordo um cientista tachar como pseudociência linhas de pensamento que não reivindicam status científicos é perda de tempo e invasão de campos epistemológicos feito tanto quanto os pseudocientistas fazem em relação à ciência. Esse ponto levantado no texto é de muita relevância.

Além de postulante a filósofo sou economista de formação e o nome do meu curso é Ciências Econômicas. A Economia não é capaz de prever crise mundial tanto quanto a neurociências não é capaz de prever o comportamento de um ser sem que ele esteja encerrado num laboratório imobilizado e cheio de eletrodos na cabeça. As variáveis de um ambiente natural do qual fazemos um recorte modelar para prever os efeitos da confluência de certos elementos teóricos possuem uma tendência a ocorrer conforme o previsto, porém precisam satisfazer certas condições que, no caso de ciências humanas, é impossível de controlar e estabelecer.

Sem as informações que dão conta da totalidade desses elementos, as previsões “tendem” mas não se concretizam recorrentemente. Não existia a informação de que as famílias americanas estavam impulsionando a construção civil através de créditos que foram concedidos sem lastro em suas gerações de renda. O fato, acontecido, cria a possibilidade de se construir mecanismos de controle que a debelem no futuro. Isso é ciência, pois o desdobramento empírico daquilo que se teorizar para resolver a situação dará credibilidade à teoria ou não.

Cada ciência, dentro de suas peculiaridades, parece ter seu próprio método, que entra em vigor e é testado constantemente a partir dos resultados obtidos. Esse é o grande balizador da ciência enquanto prática e que David Hume, embora cético em relação à segurança do conhecimento real das coisas, jamais negou e lançou bases para que ela fosse assim.

Grande abraço a todos e parabéns pelo artigo.

Gilberto Miranda Júnior
http://miranda-filosofia.blogspot.com"